“Os abstêmios – quem não bebe nada de álcool – têm uma mortalidade maior do que aqueles que consomem uma quantidade pequena ou moderada de bebida alcoólica, especialmente o vinho tinto”, afirma o diretor da Unidade Clínica de Aterosclerose do Instituto do Coração, professor Protásio Lemos da Luz. O médico cardiologista revela ainda que estudos americanos já publicados mostram o efeito protetor da ingestão de bebida alcoólica em câncer de próstata, úlceras e em relação à demência.

créditos: Cecília Bastos
Nos estudos clínicos, a observação é sempre a mesma: o consumo moderado de vinho tinto – duas taças por dia – reduz da mortalidade global e cardiovascular especificamente.” Dr. Protásio Lemos da Luz

créditos: Cecília Bastos

“Meu médico me falou dos benefícios de tomar uma taça de vinho por dia para melhorar a circulação”, conta Marlene Lúcia de Aguiar, chefe da Seção de Expediente do Instituto de Estudos Brasileiros. “Tenho vinho em casa e de vez em quando tomo um pouco durante as refeições. O médico não receitou, mas não proibiu, apenas disse que é bom”, revela Marlene, que faz questão de salientar a importância de aliar cuidados com o corpo àqueles dispensados ao lado emocional para levar uma vida saudável.

Após estudos com coelhos, o cardiologista constatou que as medidas mais práticas para evitar a formação da placa de aterosclerose seria o consumo de vitamina E e flavonóides – substâncias presentes em vegetais e também no vinho. Essa informação, mais o conhecimento do paradoxo francês, motivaram um estudo experimental sobre os efeitos do vinho nesses animais. “Demos uma dieta rica em colesterol para três grupos de coelhos, um deles recebeu vinho tinto, outro vinho sem álcool – ‘um suco de uva reforçado'.”

Paradoxo francês

Em vários países há uma relação direta entre o consumo de gordura animal na alimentação e mortalidade por doenças nas artérias coronárias. A França é uma exceção. Muitos franceses comem gordura em excesso e, no entanto, a incidência de mortalidade por doença coronária é igual a de países mediterrâneos, cuja dieta tem menor consumo de gorduras saturadas e maior porção de frutas e vegetais. Esse fenômeno – o paradoxo francês – é atribuído ao consumo de vinho tinto.

 

créditos: Cecília Bastos
“Os flavonóides, apesar de estarem em grande concentração no vinho e no suco de uva, estão presentes também em outros alimentos, como chá, maça e outros vegetais.” Dr. Protásio Lemos da Luz.

Após três meses, os animais que só receberam a dieta tiveram 69% da área da aorta coberta de placas, enquanto aqueles que também receberam o vinho tinto tiveram uma redução para 37%. Os que receberam os produtos não alcoólicos do vinho também apresentaram redução importante na formação da placa de aterosclerose. “Partimos, então, para a investigação em seres humanos”, conta o professor.

Foi formado um grupo de pessoas com colesterol alto. “Medimos a chamada reatividade vascular, que é a capacidade de dilatação do vaso sangüíneo. Demos vinho tinto para as pessoas durante 15 dias e comparamos com a ingestão de suco de uva comercial também por 15 dias”, explica. Após esse período, observou-se que as pessoas tinham uma melhoria da vasodilatação, tanto com o vinho tinto como com o suco de uva.

“Minha família, de origem portuguesa, tem o hábito de beber vinho nas reuniões e almoços, quando todos nos encontramos”, conta Ângela Maria Laranjeira Carqueijó de Jesus, secretária da diretoria da Escola Politécnica. “Apesar de ter vinho em casa, não costumo beber com freqüência. Mas já ouvi falar que faz bem para o coração.”

créditos: Cecília Bastos
“Na prevenção de doenças proibimos o consumo de várias coisas, o vinho não é uma delas, é uma liberação.” Dr. Protásio Lemos da Luz

“Estudos americanos já publicados demonstram que o consumo pequeno ou moderado de bebida alcoólica a longo prazo diminui, em mulheres idosas, a queda da função mental”, revela o cardiologista. Com a idade, há um declínio da função cognitiva, memória e capacidade de raciocínio. Os estudos mostram que o consumo de bebida alcoólica não vai impedir, mas retardar o aparecimento desses sintomas.

“Não receitamos vinho, mas uma dieta mediterrânea, que tem menor consumo de gorduras saturadas e maior porção de vegetais, onde estão os flavonóides”, afirma o cardiologista. “Se a pessoa não tem contra- indicações ao consumo de vinho, nós não proibimos.” Mas quando o consumo da bebida alcoólica aumenta em excesso, crescem também os riscos. “Beber acima de aproximadamente 50g de álcool por dia aumenta muito a mortalidade. Isso se deve principalmente à ocorrência de vários cânceres, em razão provavelmente de alterações hepáticas”, alerta o médico.