texto:
Marcela Delphino
Fotos: Cecília Bastos/ Paulo Soares
Adriana Zampaulo Sândalo |
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Conciliar o papel
de mãe ao de profissional é um desafio
para as mulheres modernas. Apesar de favoráveis à prática
da amamentação, o trabalho tem um
peso muito forte em suas vidas atualmente. A situação
que se apresenta é de mães constantemente
culpadas: seja por não estarem desempenhando
plenamente seu papel junto ao filho, seja por sentirem
que não estão fazendo tudo que poderiam
em uma carreira construída com muito empenho.
Poucas conseguem seguir a recomendação
da Organização Mundial da Saúde:
o aleitamento materno exclusivo até os 6
meses.
“Essa é uma questão pessoal. Eu
vivi a dualidade de ter que amamentar e trabalhar
ao mesmo tempo”, conta Ivany Yara de Medeiros,
publicitária que sempre trabalhou com pesquisas,
mas descobriu na própria experiência
um tema de estudo: amamentação em
mulheres que trabalham, esse foi o assunto de sua
tese de mestrado recém-apresentada na Faculdade
de Saúde Pública. |
“Uma das
queixas principais da dificuldade de conciliar o
trabalho com a amamentação é a
distância entre o trabalho e a casa.” Ivany
Yara de Medeiros
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“Essa é uma questão
pessoal. Eu vivi a dualidade de ter que amamentar
e trabalhar ao mesmo tempo”, conta Ivany Yara de
Medeiros, publicitária que sempre trabalhou
com pesquisas, mas descobriu na própria experiência
um tema de estudo: amamentação em mulheres
que trabalham, esse foi o assunto de sua tese de
mestrado recém-apresentada na Faculdade de
Saúde Pública.
Quando Gabriel estava prestes a completar 5 meses,
a secretária da Associação
dos Ex-Alunos da Esalq (Adealq) Adriana Zampaulo
Sândalo voltou a trabalhar. Durante os primeiros
quinze dias do Gabriel na escolinha a rotina dela
foi a seguinte: amamentar antes de sair de casa, às
7 horas, sair do trabalho às 9h30 e ir até a
escolinha e, ainda, voltar para lá na hora
do almoço e no meio da tarde. Ufa! |
“Eu estava
tão cansada que quase desisti, mas faço
questão de amamentar pelo menos até os
6 meses.” Adriana Zampaulo Sândalo |
Ivany Yara Medeiros |
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“Não é fácil,
tem que ter muita força de vontade. Eu estava
tão cansada que quase desisti, mas faço
questão de amamentar pelo menos até os
6 meses”, afirma Adriana. A facilidade para ela está na
proximidade da escolinha e do trabalho e na flexibilidade
de horário que este permite. Hoje, ela retira
o leite para ser dado na mamadeira, mas ainda corre
até o Gabriel no horário de almoço.
O estudo de Ivany buscou ouvir o que a mãe
tem a dizer sobre sua real situação,
independente do padrão ideal divulgado pelas
campanhas de incentivo à amamentação.
Através do Método do Discurso do
Sujeito Coletivo, desenvolvido por professores
da USP, inclusive o professor Fernando Lefèvre,
orientador da pesquisa, 54 mulheres divididas entre
menor e maior renda, entre 17 e 45 anos, com filhos
de 4 meses a dois anos, deram suas opiniões. |
“O método
permite que as entrevistadas se expressem sem interferências
do pesquisador. As idéias semelhantes são
posteriormente agrupadas, formando representações
sociais”. Ivany Yara Medeiros |
Eliana Nacimento |
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A pesquisa constatou que quanto
maior o nível profissional da mulher – executivas
e profissionais liberais – mais cedo ela retorna
ao trabalho (uma média de respectivamente
3,3 e 3,5 meses após o parto). As semi graduadas – que
têm normalmente proteção legal
(CLT) e cobertura das empresas – retornam após
5,4 meses. Enquanto as não-graduadas retornam
após 4,4 meses, em média.
O estudo chama a atenção especialmente
para o contraste e os encontros inesperados dos
pontos de vista dos dois grupos de mães. “Na
questão: Qual a importância do trabalho
para você?, surpreendeu-me que a maioria
das entrevistadas veja o trabalho como uma satisfação
pessoal. Essa constatação é muito
maior na parte de maior renda, mas mesmo entre
aquelas que trabalham porque precisam, surgiu essa
idéia”, conta a pesquisadora. |
“Uma opção é a
mãe tirar o leite e deixar para quem cuida
do bebê dar na mamadeira, seja em casa ou na
escolinha.” Eliana Nascimento |
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Eliana Nascimento, funcionária
do Serviço de Materiais da Faculdade de Educação,
retornou ao trabalho depois de 5 meses do nascimento
de suas filhas. “Eu amamentava de manhã, antes
do trabalho, e à noite, quando voltava para
casa”, conta. “Apesar de adorar as crianças,
não gostaria de parar de trabalhar, primeiramente
pela questão financeira, mas também
porque não me agradaria ficar em casa somente
cuidando delas.”
Muitas mulheres afirmam que a importância
do trabalho é ‘pelos filhos'. Interessante é verificar
a diferença de interpretação
dessa expressão entre as entrevistadas. “Pelos
filhos, quando são mulheres de menor renda,
remete a uma questão financeira, de sobrevivência.
Ao passo que, quando se trata de mulheres de maior
renda, significa dar um modelo de uma mulher que
trabalha e se esforça, a questão
do sustento não aparece”, esclarece Ivany. |
Prof.ª Alessandra Lopes
Oliveira |
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Eu me declaro: culpada
É muito forte a sensação
de culpa da mãe que fica no trabalho pensando
no filho. Ao mesmo tempo, surge também a
culpa de estar relaxando com o trabalho. Vinte
por cento das entrevistadas com maior renda têm
pós-graduação, mestrado ou
doutorado. “São mulheres que têm rendas
altas, dedicaram-se ao estudo e trabalho por muitos
anos e não querem perder isso”, diz Ivany.
“Quando voltei a trabalhar minha filhinha tinha
5 meses. Eu amamento pela manhã, quando
retorno para casa no almoço, à tarde
e à noite. Quando dou aulas à noite,
deixo meu trabalho um pouco mais cedo para poder
voltar em seguida, depois de amamentar”, conta
Alessandra Lopes Oliveira, professora do Departamento
de Engenharia de Alimentos no campus de Pirassununga. “A
dica que eu dou para as mães é tentar
não pensar no trabalho enquanto amamentam,
pois o bebê sente nossa ansiedade. Experiência
própria”, aconselha Alessandra. |
“Ser mãe
não é só amamentar. Quando sinto
que minha filha demonstra carência por minha
ausência, busca afeto e eu não posso
dar a atenção que ela merece, dói.
A culpa bate a todo instante.” Prof.ª Alessandra
Lopes Oliveira |
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As empresas precisam
dar maior apoio às mães e crianças.
Além de licença e creches, há empresas
brasileiras que permitem a criação
de horários alternativos. Isso deve ocorrer
não apenas no período de amamentação,
mas durante o desenvolvimento da criança,
quando ela requer a presença da mãe. “Só quando
a sociedade, o parceiro e a família encararem
a responsabilidade do cuidado com a criança
como algo que não deve ser delegado unicamente à mãe,
a mulher poderá liberar-se (parcialmente)
da sua dupla ou tripla jornada de trabalho e livrar-se
da culpa.” Ivany Yara de Medeiros |
“Se a visão
das empresas não mudar, as pessoas de melhor
formação terão cada vez menos
filhos, como já acontece drasticamente em
muitos países da Europa e no Brasil também”.
Ivany Yara de Medeiros |
Consolidação
das Leis do Trabalho
(CLT) – Título III/Capítulo
III/Seção V Art. 396 - Para amamentar
o próprio filho, até que este complete
6 (seis) meses de idade, a mulher terá direito,
durante a jornada de trabalho, a 2 (dois) descansos
especiais, de meia hora cada um. |
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Bancos de Leite
A responsável pelo Banco de Leite do Hospital
Universitário (HU), doutora Virginia Spinola
Quintal, toma como base o Manual de Normas Técnicas
em Banco de Leite do Ministério da Saúde
para esclarecer dúvidas acerca da doação. “A
doadora é uma nutriz sadia que apresenta
secreção láctea superior às
exigências de seu filho, e que se dispõe
a doar o excesso clinicamente comprovado.”
Segundo o manual, serão consideradas inaptas
para doação as nutrizes que: sejam
portadoras de moléstias infecto-contagiosas;
façam uso de drogas ou medicamentos excretáveis
no leite, em níveis que promovam efeitos
colaterais nos receptores; estejam sob tratamento
quimioterápico ou radioterápico ou
apresentem sinais de desnutrição.
Banco de Leite do HU
Local: Av. Prof. Lineu Prestes, 2.565 – Cidade
Universitária
Fone: (11) 3039-9210
Banco de Leite do Hospital das Clínicas
de Ribeirão Preto
Local: Av. Santa Luzia, 387 – Jardim Sumaré
Fone: (16) 3610-2649
Banco de Leite Humano da Prefeitura Municipal
de Bauru
Local: Rua Professor Gerson Rodrigues,
3-6 – Vila Nova Universitária, próximo
ao Campus de Bauru da USP
Fone: (14) 3226-3227 |
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