Encerrada a 30ª Mostra Internacional
de Cinema, certamente você não
conseguiu assistir a todos os filmes desejados.
A opção que resta agora é conferir
os títulos que estiveram no evento
e estréiam no circuito comercial do
País em novembro e nos próximos
meses. Entre os estreantes, o destaque vai
para os brasileiros O ano em que meus
pais saíram de férias e Os
12 trabalhos. Ambos estiveram entre
os doze mais bem votados pelo público.
O ano em que meus pais saíram
de férias (2006, Cao Hamburger,
105 min). Novembro nos cinemas.
O Bom Retiro da década de 70 e a
marcante imigração de judeus
e italianos ressurgem no longa-metragem do
diretor Cao Hamburger (Castelo Rá-Tim-Bum , Filhos
do Carnaval). Durante visitas de divulgação,
o diretor passou pela ECA (Escola de Comunicações
e Artes), onde foi exibido o making of do
filme, seguido de um bate-papo com os alunos.
O filme conta a transformação
na vida do garoto Mauro, apaixonado por futebol
e jogo de botão. Durante a ditadura
militar, seus pais precisaram “sair de férias” e
o deixaram na casa do avô, que ele
pouco conhecia. Diante dessa situação,
o menino se viu obrigado a encarar a nova
vida na desconhecida e inusitada comunidade
do Bom Retiro.
Para selecionar o elenco, a equipe de produção
fez uma busca em várias regiões
do Brasil, na tentativa de encontrar não-atores
com as características dos personagens. “A
idéia é trazer uma coisa mais
verdadeira” explica Hamburguer. “O cinema
também precisa formar atores, não
pode só depender da televisão.” Outro
ponto original é a reconstituição
do bairro, um trabalho feito a partir de
pesquisas com arquivos históricos
e viagens pela memória de antigos
moradores. Com exceção de algumas
cenas filmadas em Campinas, a maioria das
gravações ocorreu em pontos
chave do próprio Bom Retiro.
O Céu de Suely (2006, Karin
Aïnouz, 88 min). Novembro nos cinemas.
A história do filme começa
no caminho inverso ao dos retirantes. Hermila
já tentou a vida em São Paulo.
Decidiu voltar com o filho pequeno para a
cidade do sertão do Ceará que
deixou sem despedidas. Chega antes do marido,
que disse que vinha logo depois. A espera,
os dias quentes de céu limpo, com
as cores acentuadas pela fotografia do filme,
o povo sentado nos bares, tudo passa a impressão
de se alongar demasiadamente. Hermila volta
a viver com a avó e a tia e acaba
retomando o relacionamento com um antigo
namorado. Faz pequenos trabalhos para ajudar
na alimentação da família:
vende rifas de uísque na praça,
lava carros em um posto de gasolina, onde
conhece Gorgina, prostituta, amiga de sua
tia. Com a amiga recente passa a freqüentar
os bailes da cidade. Por sua influência,
adota um novo nome e pensa em um método
de conseguir dinheiro rápido para
sair da cidade. Afinal, ali não era
seu paraíso.
Incuráveis (2005, Gustavo
Acioli, 81 min). Novembro nos cinemas.
Na meia-idade, ele tem depressão,
tendências suicidas e anda desiludido
com a vida. Numa noite qualquer, resolve
pagar uma prostituta somente para ouvi-lo
desabafar. Ao longo do encontro, no entanto,
ambos aproveitam o anonimato (não
conhecem nada sobre o outro) para revelar
suas angústias, medos e desejos.
O ambiente que serve de cenário permanece
o mesmo durante quase todo o filme, priorizando
a linguagem, cuja proposta é transformar
os sentimentos em estilo cinematográfico,
na busca de novas perspectivas além
de um roteiro tradicional com começo,
meio e fim.
Incuráveis é o primeiro
longa-metragem do diretor Gustavo Acioli.
Já participou do Festival de Brasília,
Festival de Toulouse (França) e Festival
das Artes de Salamanca (Espanha). Em Brasília,
Fernando Eiras levou o prêmio de melhor
ator. Ele contracena com a atriz Dira Paes,
do programa “A Diarista”.
Estréias para os próximos
meses:
O Cheiro do Ralo (2006, Heitor Dhalia,
112 min).
Lourenço
tem uma loja de objetos usados em São
Paulo. Com o passar do tempo, ele perde a
frieza do bom negociador pelo prazer em explorar
as pessoas que precisam vender os pertences
para conseguir dinheiro. A postura do lojista,
no entanto, é abalada
quando se vê diante de uma negociação
em que a moeda não é mais material,
e sim afetiva. Por trás de todas essas
perturbações, o protagonista
ainda enfrenta simbolicamente o cheiro desagradável
de um ralo em sua loja. Com Selton Melo,
Alice Braga e Silvia Lourenço.
Antônia (2006, Tata Amaral,
90 min)
Na Vila Brasilândia,
periferia de São Paulo, quatro jovens
mulheres negras batalham para viver apenas
de sua música. Amigas desde a infância,
o quarteto deixa de integrar um conjunto
de rap formado por homens para montar um
grupo próprio. Porém, quando
iniciam uma boa série de apresentações
na cidade, têm o sonho ameaçado
pelas viradas de um cotidiano marcado pela
pobreza, pela violência e pelo machismo.
Com Negra Li e Sandra de Sá, a história
ainda será adaptada para uma minissérie
na Globo também em novembro.
Os 12 Trabalhos (2006 , Ricardo
Elias, 90 min)
Este filme faz a releitura de um mito, adaptando-o
na contemporaneidade. O jovem Héracles
precisa realizar 12 trabalhos ao longo do
dia. Só assim ele poderá superar
as dificuldades do passado e conseguir um
emprego como motoboy. Com essa tarefa, parte
para uma jornada onde irá esbarrar
na falta de bom-senso, justiça e fartura
de tentações ao lidar com muitas
pessoas diferentes. A inspiração
do roteiro vem do mito de Hércules.
Após um acesso de raiva em que assassinou
esposa e filhos, ele é castigado pelo
oráculo de Delfos a cumprir 12 trabalhos
para expiar seus crimes.
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