“Os pacientes ficam felizes quando descobrem
funcionários capacitados para se comunicar
em Libras.” Danielle
Pedroni Moraes
Débora Cristina Miguel
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O Instituto Central do Hospital das Clínicas
(IC/HC) cumpre a lei e dá exemplo
ao oferecer para seus funcionários
oficinas de Língua Brasileira dos
Sinais (Libras), a língua oficial
dos surdos do Brasil. A iniciativa, que representa
maior autonomia para pacientes com a deficiência
auditiva, baseia-se em lei federal segundo
a qual pelo menos 5% dos funcionários
de instituições públicas
devem ser capacitados para o uso e interpretação
da língua.
Turmas de 25 pessoas foram formadas para
participar das oficinas que duram três
meses. Além da classe que terminou
o curso em agosto, uma outra começou
as aulas em novembro. Nas duas ocasiões,
os professores contratados são da
Federação Nacional de Educação
e Integração dos Surdos (Feneis).
A intenção é formar
150 funcionários do instituto, que
representam a cota exigida pela lei.
“Nosso primeiro foco foram os funcionários
que têm contato direto com o paciente,
como enfermeiros, farmacêuticos, recepcionistas,
seguranças, porteiros, assistentes
sociais, fonoaudiólogos e ascensoristas”,
conta a fonoaudióloga Danielle Pedroni
Moraes, que trabalha na assessoria da diretoria
administrativa do IC e é uma das coordenadoras
das oficinas juntamente com Centro de Aprimoramento
de Pessoal (Ceap) do instituto.
Débora Cristina Miguel, funcionária
da sala de matrícula
e internações, aprendeu um
pouco da Libras há seis anos por curiosidade. “Fiz
quatro meses de curso, mas a falta de contato
com língua fez com que eu perdesse
a fluência”, conta. “No hospital, quando
chegava um paciente com deficiência
auditiva, as pessoas me chamavam porque sabiam
que eu já tinha feito aulas, mas eu
não lembrava mais e tinha medo de
falar alguma coisa errada, porque muitos
sinais são parecidos.” |
Depois de 60 horas de aulas,
alunos da primeira oficina de Libras já sabem
o básico para se comunicar.
“No começo foi complicado, porque às
vezes uma mudança sutil no sinal quer
dizer coisas totalmente diferentes.” Marcus
Vinicius
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Depois de participar
da oficina de Libras, Débora sacudiu
a poeira e a insegurança na hora de
se comunicar com os pacientes surdos foi
para os ares. “A maior dificuldade para aprender
foi a diferença entre a estrutura
da língua portuguesa e da Libras,
que são totalmente diferentes. A construção
da frase em libras se dá na ordem
sujeito, objeto e verbo. O verbo fica sempre
no final, diferente do português”,
revela Débora que, assim como outras
duas funcionárias do instituto, aprimora
a fluência em Libras fazendo outro
curso fora do hospital.
As primeiras aulas foram um desafio para
a turma, mas todos o enfrentaram sem desanimar.
A professora era surda e não havia
outra forma de se comunicar com a classe
a não ser através dos sinais. “No
começo, parece difícil, é uma
língua nova, com uma estrutura que
usa muito o visual e a memória. Há um único
sinal, por exemplo, para “amar” e “gostar”,
no entanto, a expressão facial marca
a diferença. Aos poucos, passa a ficar
mais fácil de entender e aprender”,
diz a fonoaudióloga.
Danielle explica que a Libras é uma
segunda língua como pode ser o inglês.
Se não praticar, esquece. Por isso,
foi montado um grupo de manutenção
da Libras que se encontra uma vez por mês
e conta com o apoio de uma paciente surda
voluntária. “O funcionário
sai da oficina com o básico da Libras
para poder se comunicar e orientar o paciente
dentro do hospital. Um curso mais aprofundado
leva cerca de um ano.”
O assistente administrativo do setor de
convênios Marcus Vinicius Piccinin
Souza se coloca no lugar da pessoa surda
que não consegue se fazer entender. “Acho
que é como se a gente, que não
fala nada de espanhol ou inglês, caísse
de pára-quedas nos Estados Unidos
ou na Espanha. Deve ser a mesma sensação:
ninguém consegue me entender, saber
o que eu quero ou não”, afirma Souza. “Acho
que o grupo se sente contente não
só por ter aprendido uma nova língua,
mas por poder ajudar outras pessoas.”
Curso Superior de Libras na FFLCH
A Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) oferece o curso de Licenciatura Letras/Libras
em nove pólos conveniados no Brasil,
a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH) é um deles.
O coordenador do pólo na USP é o
professor Leland Emerson McCleary do Departamento
de Letras Modernas da FFLCH.
A primeira turma começou em 27 de
outubro deste ano. As aulas presenciais acontecem
aos sábados, podem ser feitas por
meio de videoconferência ou com professores
tutores. O telefone do Departamento de Letras
Modernas é 3091-5041. |