texto: Por Marcela Delphino
Fotos: Cecília Bastos

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Créditos: Cecília Bastos
“As pessoas estão mais tolerantes às traições, assim como traem mais em relação ao passado, dado às inúmeras oportunidades que se apresentam.” Thiago de Almeida, pesquisador do Instituto de Psicologia


Em algumas espécies animais, como casais de papagaios, a monogamia é determinada pela genética. Isso definitivamente não acontece com homens e mulheres. “O ser humano não está inserido entre as espécies monogâmicas que adotam um parceiro para toda a vida. Pode-se dizer que fomos programados geneticamente para amar e amar outra vez, se acaso o amor anterior não nos satisfizer”, afirma o pesquisador e doutorando do Instituto de Psicologia Thiago de Almeida. “Intenção, expectativas, fantasias sexuais e arrependimento (em alguns casos) são fatores que diferenciam homens de animais, já que a motivação para trair é comum para ambos.”

Os motivos que levam as pessoas a traírem são complexos e variados, mas os pesquisadores já chegaram a algumas conclusões. “Estudos mostram uma conexão entre oportunidade e infidelidade, ou seja, é provável que parceiros que têm mais chances para enganar realmente o façam, em especial se a probabilidade de o outro descobrir for pequena”, conta o psicólogo. Estudiosos identificam o lugar de trabalho e a internet como as principais zonas de perigo para os relacionamentos amorosos serem lesados por uma possível traição. “Confirmei, em meus trabalhos, que a internet é um dos grandes rivais para os relacionamentos amorosos.”

“Já traí uma namorada e acho que, provavelmente, também já fui traído”, confessa um funcionário do campus da capital que prefere não se identificar. “A traição é conseqüência de um relacionamento que já não vai bem, enquanto se gosta do outro não há razão. Mas quando acontece, apesar de não ser fácil, acho que é possível levar a relação adiante.”

“Já traí uma namorada e acho que, provavelmente, também já fui traído.”

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“O que gera a infidelidade são a rotina e a falta de carinho e comunicação entre os parceiros.” Clésio de Oliveira Pereira
 

Enquanto quem trai experimenta a elevação da auto-estima, o traído sente raiva, depressão e, em casos extremos, pensa em suicídio. Ainda assim, nem todo relacionamento que passa por uma situação de infidelidade resulta em rompimento. “Quando o amor é verdadeiro e a relação é sólida, o ressentimento produzido por uma traição casual nem sempre significa a destruição da união”, acredita Almeida. “A religião e a situação financeira da família afetam bastante a decisão de dar uma nova chance ao casamento ou dissolvê-lo.”

Para Clésio de Oliveira Pereira, vigilante na Escola de Educação Física e Esporte, geram a infidelidade, a rotina e a falta de carinho e comunicação entre os parceiros especialmente em um casamento. “É preciso aceitar os defeitos do outro e aprender a amar cada dia mais. Se a pessoa acha que vai trair, é porque não está mais amando”, acredita Pereira.

“O afeto e a cumplicidade entre o casal podem cicatrizar a ferida deixada pela passagem da infidelidade”, garante o psicólogo. Há quem consegue dar ao episódio pequena importância e não se sente impossibilitado de continuar o relacionamento. Algumas vezes, a pessoa traída hesita em confiar no companheiro. O importante para restaurar a confiança, segundo Almeida, não é fazer promessas de monogamia, mas manter um compromisso de honestidade e compartilhar sentimentos.

O que pouca gente sabe é que a infidelidade pode advir de um comportamento doentio. “Por muitas razões, que variam desde disfunções orgânicas a exposição de modelos inadequados de comportamento ou traumas, as pessoas podem exibir em seus comportamentos formas patológicas de traição que as afetam diretamente e a todos à sua volta. Cada caso deve ser analisado cuidadosamente.”

Os motivos que levam à infidelidade variam entre homens e mulheres.

Nos depoimentos de seu estudo sobre traição, Almeida ouviu os homens dizerem que se permitir ser paquerado por outra pessoa, que os atraia física, amorosa ou sentimentalmente sem deixar que o parceiro saiba é um desses passos. Entre as mulheres, os comportamentos relacionados à infidelidade que mais se destacam são, por exemplo, continuar a receber ligações de ex-namorados sem o conhecimento do parceiro.

“A internet aumenta as oportunidades de se engajar em comportamentos amorosos infiéis e, dependendo da motivação de cada pessoa e do andamento do relacionamento atual, as traições, de fato, se consumam.” Thiago de Almeida

    É comum as pessoas buscarem, em algum momento da vida, um parceiro para compartilhar afetividade, alegria, prazer, companheirismo, sexualidade. O futuro de um relacionamento não é totalmente regido por contratos como uma aliança na mão esquerda, mas na ênfase do compromisso de exclusividade que se vivencia no dia-a-dia, e esta pode ser uma escolha mútua, ou não. “Sabemos o que é preciso fazer para um relacionamento ser, no mínimo, satisfatório: fugir da rotina, cultivar diariamente o amor que sentimos pelo parceiro através de comportamentos, pensamentos e sentimentos e incentivar o diálogo e a partilha”, aconselha o psicólogo.

 

 
 
 
 
 
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