texto: Marcela Delphino
Fotos: Francisco Emolo/ Jorge Maruta

Crédito: Franisco Emolo

 

 

 

 

 


“Fazer exercícios físicos é fundamental para o diabético. Caminho pelo menos três vezes por semana no Cepeusp, faço tudo que posso a pé e procuro usar escadas ao invés de elevador.” Lúcio Benedito da Silva

Créditos: Francisco Emolo
“Quem possui uma história familiar de diabetes e é obeso tem mais chances de desenvolver o diabetes.” Débora Lúcia Seguro Danilovic, endocrinologista do HU

 

O diabetes é uma faca de dois gumes: se tratado desde o início, o diabético pode levar uma vida normal, mas se demorar para identificar o problema ou não seguir o tratamento de forma adequada, as complicações são muitas. Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes mostram ser a principal causa de amputações de membros inferiores e de cegueira adquirida. “O diabetes tipo 2 é o mais comum e sua freqüência está aumentando, prevalece entre adultos e está relacionado à obesidade”, afirma a endocrinologista do Hospital Universitário Débora Lúcia Seguro Danilovic.

O tipo 2 se caracteriza pela resistência do organismo à ação da insulina. Esse é o caso de Lúcio Benedito da Silva, que trabalha no Museu de Arte Contemporânea. “É preciso conviver com o diabetes de forma positiva”, acredita Lúcio, que começou a sentir os sintomas há 12 anos. “Hoje, tenho uma porção de cuidados, tomo insulina de manhã, à tarde e à noite e faço exercícios físicos, o que é fundamental. Caminho pelo menos três vezes por semana no Cepeusp, faço tudo que posso a pé e procuro usar escadas ao em vez de elevador.”

O diabetes tipo 1 é o segundo mais freqüente, seu pico de incidência acontece entre 10 e 14 anos de idade. “São produzidas substâncias que destroem as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina”, conta Débora. Os sintomas do tipo 1 são mais marcantes que os do tipo 2, entre eles estão emagrecimento, excesso de urina, muita sede e muita fome. Como o tipo 2 é geralmente assintomático, é comum a pessoa descobrir em um exame de rotina ou quando já está desenvolvendo complicações, por exemplo, durante exame oftalmológico em que o médico percebe alterações na retina.

O professor Francisco Capuano Scarlato, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, descobriu que tinha diabetes durante um exame de rotina. “No começo, cuidava muito mal. Tomava os remédios, mas não fazia uma dieta regular”, conta. “Depois de duas safenas, passei a controlar bem a dieta e a fazer exames a cada 6 meses no Instituto do Coração (Incor).” Francisco faz meia hora de caminhada na esteira e meia hora de alongamento todos os dias. Além disso, participa duas vezes por semana de um programa de reabilitação cardiovascular desenvolvido pelo Incor na Escola de Educação Física e Esporte.

A prevenção do diabetes é feita através de exames periódicos. “O teste de glicemia deve ser realizado a partir dos 45 anos e, se normal, repetido a cada 3 anos. A freqüência maior ou o início precoce do exame deve acontecer se fatores de risco estiverem presentes, como obesidade e hipertensão ”, adverte Débora. Quem não descobre o diabetes pode sofrer de suas complicações crônicas. A mais freqüente são alterações visuais, lesões na retina ou no cristalino que podem levar ao embaçamento da visão até o extremo da cegueira.

“Nos países desenvolvidos a primeira causa de diálise é o diabetes, o Brasil está caminhando para isso.” Débora

Créditos: Cecília Bastos
“Exercício físico é a alma da saúde do diabético.” Prof. Francisco Capuano Scarlato
 

Cada vez há mais medicações e recursos para que o diabético leve uma vida normal. “A insulina inalável chegará ao Brasil no próximo ano. Não vai substituir a insulina injetável, mas é um recurso a mais para facilitar o dia-a-dia”, conta a endocrinologista. Para o diabetes tipo 1 é cada vez mais real a possibilidade de transplante de pâncreas, que já ocorre no Brasil, mas não é tão bem-sucedido quanto o transplante de rim, ainda tem de ser desenvolvido. “Quanto ao diabetes tipo 2, se for relacionado à obesidade, provavelmente perdendo peso há chances de melhora, talvez até deixe de ser diabético.”

Pés diabéticos

O paciente com diabetes há muito tempo e mal controlado começa a desenvolver a neuropatia diabética, destruição da enervação dos membros, principalmente dos pés, nos quais há perda de sensibilidade.

Qualquer ferimento banal para a maioria das pessoas, como uma pedrinha no sapato, pode virar uma complicação. A ferida se inicia pequena, o diabético não sente e mantém o estímulo de trauma. “Uma ferida em um pé que não sente direito e por vezes tem problema de vascularização vai piorar cada vez mais, pode necrosar, morrer tecido e levar, em último caso, a uma amputação.”

Cuidados

Em primeiro lugar, é preciso detectar e tratar corretamente o diabetes desde o início. O médico é responsável por perceber a sensibilidade dos membros, faz parte do exame físico do diabético avaliá-la. A partir do momento que se perdeu a sensibilidade, são necessários cuidados maiores: secar bem os pés depois do banho, observar se tem alguma ferida, evitar sapatos muito apertados, usar sempre meias com sapatos, evitar sandálias e chinelos e manter sempre hidratados os pés mais ressecados para não aparecerem rachaduras. Se houver trauma, este deve ser tratado com curativos e o uso de sapatos adequados. “Eu acho que a diabetes não é uma doença, é um estado do indivíduo com o qual ele tem de aprender a conviver”, pondera a endocrinologista do HU.

Unidade Fitness USP do Instituto do Coração (Incor)

A Escola de Educação Física e Esporte participa do Programa de Condicionamento Físico Aplicado à Prevenção Cardiológica Primária e Secundária do Incor. A coordenação é do vice-diretor da EEFE, professor Carlos Eduardo Negrão, que também é diretor da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do Incor.

Qualquer pessoa pode participar mediante matrícula no valor de R$ 70 e consulta com um cardiologista do instituto, que pode ser através de convênio ou particular por R$ 145. Depois disso, há avaliação por um psicólogo e um professor de educação física, além de um encontro com um nutricionista.

As turmas são de no máximo 40 alunos e as aulas com duração de uma hora acontecem duas ou três vezes por semana, pelo valor de R$ 129 e R$ 146 mensais, respectivamente. Os horários são de segunda a sexta, às 7h, 8h, 9h, 17h, 18h, 19h e 20h.

 

 
 
 
 
 
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