texto: Daniel Fassa
fotos: divulgação

Crédito: Acervo CPC / USP

 


 

 

 

 

 

 

Crédito: Acervo CPC / USP
Paredes decoradas do interior da Casa de Dona Yayá, já restaurada. No canto superior esquerdo, pode-se ver tijolos remanescentes da primeira construção.

 

 

 

Crédito: Acervo CPC / USP
Fachada restaurada da Casa de Dona Yayá. O estilo neoclássico em evidência.

 

 

 

 

 

 

 

Crédito : Museu da Caixa
A monumentalidade da fachada do Edifício Sé, com suas colunas e paredes em mármore.

Crédito : Museu da Caixa
Com mais de seis metros de altura, o vitral do Edifício Sé foi concluído após três anos de trabalho do italiano Henrique Zucca. Nele, o artista representa aspectos do progresso de São Paulo, a riqueza (gerada pelo plantio do café), o trabalho e a miscigenação de raças.

 

 

 

 

 

 

 

Crédito: Arquivo Liceu de Artes e Ofícios
Prédio da Pinacoteca e do Liceu de Artes e Ofícios, em 1905.

 

 

 

 

 

 

 

Crédito:Centro de Documentação e Memória da Pinacoteca do Estado
Visitantes conhecem pátio interno da Pinacoteca.


“Na ainda bucólica São Paulo do final do século 19, os esporádicos transeuntes que avistassem o simples chalé de tijolos construído numa chácara localizada à rua Valinhos (atual Major Diogo, 353), não poderiam imaginar que aquela construção se tornaria uma mansão de valor histórico inestimável.

Entre 1888 e 1920, quando passaria a pertencer a Dona Yayá, a casa teve quatro proprietários e sofreu inúmeras modificações. Vendido por José Maria Talon (o primeiro dono) a Augusto Afonso Milliet, o pequeno edifício de três cômodos foi bastante ampliado e adquiriu novas características, com materiais mais nobres e decorações parietais (pinturas e papeis de parede). Já nas mãos de João Guerra, novamente o imóvel passou por reformas, que conferiram à sua fachada um estilo neoclássico e valorizaram o interior com pinturas murais em estilo art nouveau.

O encontro de Yayá com aquela casa ocorreu numa atmosfera um tanto quanto trágica. Órfã de pai e mãe desde os 18 anos, Sebastiana Melo Freire (carinhosamente chamada Yayá) viveu no palacete da família, no centro de São Paulo, acompanhada de sua madrinha e tutora Nhá Caetano Grant, até 1919. A partir de então, em função de desequilíbrios emocionais, teve que ser internada num hospital psiquiátrico. Em busca de um lugar tranqüilo, afastado do burburinho da cidade e que atendesse às necessidades de Yayá, seus tutores alugaram, em 1920, a casa da rua Major Diogo, à época pertencente à família Junqueira. Cinco anos depois, com a rica herança da família Melo Freire, a casa foi adquirida.

A mudança de Dona Yayá para o imóvel marcou o início de sua longa reclusão. Lá, ela viveria cuidada por amigos, familiares e empregadas até sua morte, em 1961. A instalação da enferma exigiu adaptações no espaço: as janelas foram modificadas para que permitissem a passagem apenas de ar e luz, os ambientes tornaram-se mais neutros e limpos a fim de não provocar estímulos à paciente, a sala de banho foi colocada ao lado dos aposentos e o assoalho foi substituído por um piso de corticite.

Em 1950, novas reformas foram feitas na casa. O terraço contíguo aos seus aposentos foi fechado e transformado num jardim de inverno. Além disso, um solário reentrante ao jardim foi construído. Após a morte de dona Yayá, seu patrimônio foi transferido à Universidade de São Paulo como herança vacante. Desde então, a casa foi submetida a cuidadosas restaurações e, em 1998, foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).

Em 2003, foi definido um programa de uso e conservação para a Casa de Dona Yayá, que passou a abrigar a sede do Centro de Preservação Cultural da USP (CPC) e a receber uma série de atividades culturais, tais como cursos, exposições, oficinas, entre outras. No entanto, independentemente da realização desses eventos, vale a pena conhecer a antiga morada de dona Yayá. Como afirma a diretora do CPC, Maria Lúcia Bresson Pinheiro, “a construção em si já vale a visita”.

Casa de Dona Yayá
Endereço:
rua Major Diogo, 353, Bela Vista, São Paulo
Horários: de domingo a sexta, das 10h as 16h
Fone: (11) 3106-3562
 

Caixa Cultural

Uma construção criada para ser monumental. Foi com essa intenção que o Edifício Sé foi projetado. Inaugurado em 29 de agosto de 1939 para sediar a Caixa Econômica Federal, o prédio reflete o espírito da arquitetura de São Paulo nos anos 30, caracterizada pela busca de uma "europeização". Em pleno Estado Novo , Getúlio Vargas queria que as edificações públicas refletissem a pujança do Brasil sob seu regime.

O Edifício Sé, que hoje abriga a Caixa Cultural em alguns de seus andares, chama atenção pelas imponentes colunas da entrada principal e pelo mármore que reveste as paredes externas do térreo. O interior do edifício não é menos espetacular. O hall em formato octogonal conduz a um salão no qual se pode apreciar um vitral do artista milanês Henrique Zucca, com mais de seis metros de altura. O teto, de forma abobadada, é uma grande clarabóia com vitrais multicoloridos. Granitos de diversos tipos, colunas em aço escovado e piso de madeira de lei completam a ornamentação.

Foi a partir de 1979, quando a sede da Caixa Econômica Federal de São Paulo passou a se localizar na Avenida Paulista, que os andares do Edifício Sé, tombado pelo patrimônio histórico, foram sendo gradualmente ocupados pela Caixa Cultural. Élcio Mendes de Paiva, gerente de marketing cultural da Caixa, revela que, para isso, “alguns ambientes sofreram adaptações, como climatização, adequação de iluminação e instalação de portas automáticas, mas sempre com o cuidado de manter as características originais”.

Hoje, além do térreo, o 1º, o 2º e o 6º andares recebem atividades culturais, como exposições, acesso gratuito à internet, espetáculos de dança, teatro e música, além do Museu da Caixa. Tudo isso somado à grandiosidade desse monumento arquitetônico tornam a visita uma experiência única.

Caixa Cultural – Edifício Sé
Endereço:
Praça da Sé, 111, Centro, São Paulo
Horários: de terça a domingo, das 9h às 21h
Fone: (11) 3321-4400


Pinacoteca do Estado de São Paulo  

Inicialmente construído para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, o edifício hoje ocupado pela Pinacoteca do Estado foi projetado em 1986, pelo engenheiro e arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Em 1900, com a estrutura da construção finalizada, o prédio recebeu os primeiros cursos. Pouco depois, em 1905, a Pinacoteca era instalada no local, ocupando apenas uma sala no terceiro piso.

A partir de 1930 o museu ficou fechado por dois anos. Nessa época, as instalações do edifício sofreram várias alterações, pois tiveram que ser transformadas transitoriamente em alojamento militar. Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, a Secretaria de Segurança Pública requisitou o prédio para ali abrigar o Grupo Escolar Prudente de Moraes, que ocupou sua ala direita, dispondo de dezesseis salas e duas galerias. Em 1932 o prédio foi cedido à ocupação do Batalhão Santos Dumont. Durante esse período conturbado, a coleção da Pinacoteca foi distribuída entre diversos órgãos públicos.

Entre 1932 e 1947, o acervo da Pinacoteca foi reunido e instalado na antiga sede da Imprensa Oficial do Estado, à rua Onze de Agosto, dividindo o espaço com a Escola de Belas Artes de São Paulo. Ao final desse período, a Pinacoteca foi transferida novamente para o edifício do Liceu.

Com 7.462 m 2 de área construída em estilo neoclássico, o edifício hoje inteiramente ocupado pela Pinacoteca do Estado de São Paulo caracteriza-se por suas amplas janelas, colunas, pilastras e paredes em tijolos sem revestimento que deixam transparecer a técnica construtiva. “O tijolo interno que hoje todos admiram, ficou assim por falta de verbas na época da construção. É como se as paredes fossem metáforas da história conturbada do museu”, ressalta Márcia Camargos, coordenadora do Centro de Documentação da Pinacoteca.

Na reforma à qual foi submetido na década de 1970, o prédio teve parte da fachada principal revestida com travertino, massa especial que imita o mármore. Entre 1995 e 2002, uma série de restaurações foi realizada. Hoje, com seus salões e telhados totalmente recuperados, seus pátios internos cobertos, e sua iluminação específica e adequada, a Pinacoteca abriga importantes exposições de artes plásticas. Nas visitas ao museu, além de um acervo com mais de 4 mil peças, o público encontra um ambiente que conduz a uma verdadeira viagem no tempo. “Através dos arte-educadores, sempre é feito um importante resgate da história do prédio e, conseqüentemente, de São Paulo”, finaliza Márcia.

Pinacoteca do Estado de São Paulo
Endereço:
Praça da Luz, 2, Jardim da Luz, São Paulo
Horários: de terça a domingo, das 10h às 17:30h
Fone: (11) 3229-9844

História de concreto  

Em constante mutação, a arquitetura da capital paulista nos coloca diante da transitoriedade das coisas e da implacabilidade do tempo. Com seus mais de 450 anos, São Paulo possui uma infinidade de prédios históricos que nos fazem rememorar os primeiros passos dessa metrópole. Muitos deles cumprem uma dupla função: proporcionar atividades artísticas e culturais à população e, ao mesmo tempo, imortalizar a história da cidade. Casa de Dona Yayá, Caixa Cultural e Pinacoteca do Estado são apenas alguns exemplos disso. Tais quais esses centros culturais, muitos outros se nos apresentam como uma ótima oportunidade de conhecer melhor nosso próprio passado. Mesmo vazios, prédios como esses teriam um valor inestimável. Vale a pena conferir.


 

 
 
 
 
 
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