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No Hospital das Clínicas de São Paulo, o enfermeiro Edvaldo Leal tem um mestrado sobre as principais razões para tantos “nãos”. Há dez anos, ele trabalha notificando as famílias sobre o estado de morte cerebral – condição do falecido para que possa ocorrer o transplante – e perguntando sobre a possibilidade da doação. Veja o que ele encontrou:
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Enfermeiro do HC, Edvaldo Leal
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“As famílias nunca apresentam só uma razão. Sempre mencionam pelo menos três desses itens”, explica Leal, que percebeu uma conjuntura formada por falta de informação, entraves culturais e éticos.
O enfermeiro é também vice-coordenador da OPO (Organização para Procura de Órgãos), do Hospital das Clínicas. A organização tem sede em vários hospitais de grande porte no Brasil e está vinculada ao Sistema Nacional de Transplantes. Sua função é encontrar os potenciais doadores.
O primeiro passo é localizar casos suspeitos de morte cerebral e avisar a família sobre o exame que irá checar esse diagnóstico. Se o indício for verdadeiro, já pode ser expedido o atestado de óbito. A família fica sabendo do falecimento e é questionada se tem a intenção de autorizar a doação. O Hospital das Clínicas tem a média de 25 a 30 procedimentos como este todos os meses. Em 36% dos casos os parentes não autorizam.
“Nossa função é informar que a doação é um processo transparente, dentro da lei, e que não há nenhuma chance de o paciente falecido por morte cerebral voltar. Isso tem que ficar claro”, explica o médico Leonardo Borges, coordenador da OPO/HC. “Nós respeitamos a decisão da família, ela doa se quiser. Não cogitamos tentar convencer ninguém. A doação é uma coisa altruísta.” |