Por Circe Bonatelli

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© João Neves
As mães Cristina (acima) e Iracema já ouviram dos filhos: “quando eu puder, vou fazer uma plástica.”

 

 

 

 

 

Uma pesquisa realizada pelo Ambulatório de Ginecologia do Hospital das Clínicas revela que a maioria das adolescentes não está à vontade com o próprio corpo. Segundo o estudo, 67% delas estão insatisfeitas e 37% têm vergonha do físico. O quadro é responsável pela baixa auto-estima nas garotas, que ficam vulneráveis a transtornos mais graves, entre eles a carência afetiva, depressão, anorexia e infecções.

A pesquisa foi feita com meninas entre 10 e 20 anos que são atendidas mensalmente no ambulatório. As entrevistadas também apontaram o que seria o peso ideal: 52,3 kg foi a média das respostas.

O grande perigo são os métodos para atingir esse peso. A primeira alternativa que elas colocam em prática é abandonar as refeições. 75% das adolescentes ouvidas no Hospital das Clínicas afirmam fazer, no máximo, duas refeições por dia. Só 18% optam por exercícios físicos, a solução mais saudável. Uma parcela menor, 4,5%, ainda apela para os medicamentos.

“Esse estudo mostra a dificuldade de aceitação das mudanças que ocorrem no corpo das jovens adolescentes, que querem se ajustar aos padrões de beleza vigentes, mas não se preocupam com uma alimentação saudável e com dieta balanceada”, alerta Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde da Adolescente e professora da Faculdade de Medicina da USP.

Na opinião da mãe e avó Iracema da Silva, funcionária da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), a participação dos pais é fundamental para dar segurança aos filhos: “Por vários anos eu ouvi minha filha falar em regime e cirurgia do nariz. E como mãe eu vigiei: mostrei que ela era bonita, que puxou para a família. Hoje, ela tem 27 anos e esqueceu do nariz, apenas cuida do peso”.

A mãe de três filhos Cristina Maria Zanferdini, funcionária da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, vive a situação em dose tripla com duas filhas (13 e 20 anos) e um filho (19). O rapaz já chegou a cortar refeições e a filha mais velha se acha acima do peso, mesmo que todos digam o contrário. Enquanto isso, a mais nova não se incomoda muito. “Os pais ficam preocupados, né? Precisa ter muita conversa”, pondera Cristina.

Mas, conforme explica a professora Albertina, é necessário procurar ajuda médica quando a conversa não der resultados e as insatisfações da adolescente forem constantes, interferindo no seu convívio social.

“Se reclama do nariz, do seio, do cabelo, ou se fica triste a semana toda, come pouco e deixa de sair com os amigos, ela precisa de ajuda. Uma pessoa com baixa auto-estima tem riscos psicológicos, porque se afasta do convívio social. O excesso de ansiedade e o estado de depressão vão gerar outros quadros de risco físico como a baixa imunidade do organismo, ficando mais suscetível a infecções”, explica Albertina.

Como as adolescentes consideram a nutrição apenas uma forma de perder peso, elas esquecem que os resultados de um regime drástico afetam visivelmente o organismo através da anemia, alterações na menstruação e potencial de entrar na anorexia.

 

   







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