“Essa é uma
história que tem dois protagonistas. O ouro e o Aleijadinho. É por
causa do ouro que se cria toda essa civilização, que tinha um número
de músicos superior a Portugal, poetas, artífices. É por
causa dessa civilização de densidade cultural extraordinária
que surge uma figura como o Aleijadinho”.Fábio Magalhães.
Barras fundidas de ouro – 1811, 1815, 1818,
1813.
Feito por artesãos mineiros especialmente
para a exposição, o grande
tapete de serragem colorida encontrado logo
na entrada do CCBB faz alusão à tradicional
decoração das ruas das cidades
nas festividades religiosas.
|
|
Recorde de público no Rio e em
Brasília, exposição
chega a São Paulo para contar a
história de um gênio e seu
tempo
Quem for ao Centro Cultural Banco do Brasil
até 14 de outubro vai fazer uma verdadeira
viagem à Vila Rica do século
18. Do subsolo ao terceiro andar do edifício,
a exposição “Aleijadinho e
seu tempo – fé, engenho e arte” contextualiza
todo o ambiente socioeconômico e cultural
que permitiu o surgimento do maior artista
do continente americano na pequena cidade
mineira, hoje chamada Ouro Preto. A mostra
já foi vista por quase 1 milhão
de pessoas no Rio de Janeiro e 180 mil em
Brasília, batendo os recordes de público
nas duas capitais.
Durante a montagem da edição
de São Paulo, que estreou no dia 28
de julho, o curador da exposição
Fábio Magalhães recebeu a revista
Espaço Aberto no CCBB e deu dicas
que podem tornar a visita ainda mais enriquecedora. “Essa é uma
história que tem dois protagonistas.
O ouro e o Aleijadinho. É por causa
do ouro que se cria toda essa civilização,
que tinha um número de músicos
superior a Portugal, além de poetas,
artífices. É por causa dessa
civilização de densidade cultural
extraordinária que surge uma figura
como o Aleijadinho”, explica o museólogo.
As enormes jazidas do metal nobre foram descobertas
pelos bandeirantes em 1699 e esgotadas em
cerca de 80 anos. Durante esse período,
se produziu na região de Vila Rica
mais ouro do que durante dois séculos
no mundo inteiro.
Não por acaso, a pujança econômica
da época encontra-se retratada no
subsolo do CCBB, que já abrigou um
cofre do Banco do Brasil. Lá estão
expostos lingotes e moedas de ouro, além
de peças ligadas à cunhagem
de moedas no século 18 em Minas Gerais.
No mesmo ambiente, podem ser estabelecidos
os primeiros contatos com a arte barroca,
predominante no período. Oratórios
de autoria anônima, feitos sob encomenda
para famílias de Vila Rica, representam
a idéia da religião privada,
vivida também dentro de casa. Ex-votos
(pequenos quadros), também de autoria
desconhecida, trazem uma representação
popular da religiosidade, com cenas do cotidiano,
e permitem ao observador conhecer o vestuário
e o mobiliário da época, por
exemplo. Ainda no subsolo, uma rica coleção
de mapas mostra desde o Estado de Minas Gerais
até uma planta da cidade de Vila Rica. “Essa é uma
das exposições mais ricas de
mapas que já se fizeram sobre a região
de Minas Gerais”, afirma Magalhães.
Apesar da rapidez com que ocorreu o nascimento,
apogeu e declínio da rica sociedade
mineira do século 18, muitos resquícios
dessa época permanecem até hoje.
Entre eles estão a religiosidade muito
forte e as obras de Antônio Francisco
Lisboa, o Aleijadinho. Isso pode ser constatado
logo no saguão de entrada do CCBB.
No chão, um grande tapete de serragem
colorida reproduzindo o Espírito Santo
faz alusão à tradicional decoração
das ruas das cidades nas festividades religiosas.
A obra foi feita por artesãos mineiros
especialmente para a exposição.
Ao fundo do salão, réplicas
em miniaturas (31 cm de altura) de uma das
obras-primas de Aleijadinho: os 12 Profetas,
conjunto de doze esculturas que se encontra
na Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, em
Congonhas do Campo (MG). As originais são
mostradas em fotos de grandes dimensões.
Segundo Magalhães, a obra é avaliada
como um dos conjuntos escultóricos
barrocos mais importantes do mundo.
|