Por Daniel Fassa



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© Francisco Emolo
“O SUS gasta mais ou menos 180 milhões de dólares com doenças respiratórias, cardiovasculares, abortamento e outras coisas que acontecem devido à poluição do ar. Em São Paulo , por estarmos acima dos limites de poluição estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, mais ou menos sete pessoas a mais morrem por dia”. Paulo Saldiva.

 

 

 

 



Em grande parte proveniente dos veículos motorizados, poluição atmosférica reduz expectativa de vida em até um ano e meio

Para além das muitas horas perdidas em infindáveis congestionamentos, o tráfego intenso de veículos em São Paulo acentua sobremaneira a poluição e contribuiu para o agravamento de problemas de saúde. A concentração de poluentes atmosféricos está relacionada ao aumento de admissões hospitalares e à mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares. Crianças, idosos e indivíduos doentes são as principais vítimas. No entanto, mesmo as pessoas que não se enquadram nesse perfil sofrem os efeitos da poluição.

Segundo Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe do Laboratório de Poluição Atmosférica da FMUSP, pesquisas já demonstraram que os habitantes dos grandes centros urbanos geralmente apresentam uma inflamação (pulmonar e sistêmica) subclínica – imperceptível, sem sintomas –, aumento da pressão arterial, maior risco de arritmias e infarto do miocárdio. Estima-se que os níveis atuais de poluição em São Paulo reduzam a expectativa de vida em cerca de um ano e meio, devido a três motivos principais: câncer de pulmão e vias aéreas superiores; infarto agudo do miocárdio e arritmias; e bronquite crônica e asma.

São cinco os principais poluentes emitidos pelos veículos motorizados na atmosfera paulistana: monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), óxidos de nitrogênio (NOx), óxidos de enxofre (SOx) e material particulado (MP). Alguns deles vão diretamente do cano de escape para o sistema respiratório, como o material particulado inalável (MP10), por exemplo. Outros, por sua vez, passam por reações químicas e geram outros poluentes tóxicos como o ozônio (O3).

De acordo com Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física que estuda mudanças climáticas globais e poluição atmosférica urbana, o peso do setor de transportes na poluição do ar em São Paulo varia de região para região. Assim, nos setores industriais do entorno da cidade de São Paulo, como Osasco, Diadema e São Caetano, as indústrias ainda são as principais responsáveis pela poluição. Por outro lado, na região central da cidade, as emissões veiculares predominam.

Da mesma forma, a proporção de emissões dos diversos poluentes varia entre os veículos motorizados. Por exemplo: os carros a álcool geram menos monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio e mais aldeídos (HCO) do que os automóveis a gasolina. Já os veículos pesados a diesel, como ônibus e caminhões, são os maiores emissores de material particulado, mas emitem menos hidrocarbonetos que os veículos leves. Veja gráfico que demonstra a importância dos veículos na poluição atmosférica.

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© Cecília Bastos
“São Paulo é uma cidade heterogênea. O peso do setor total de transporte na poluição do ar de São Paulo varia muito de região pra região. Em setores onde a poluição industrial é importante, como Osasco, Diadema e São Caetano, a poluição industrial ainda é realmente importante. Agora, no setor central da cidade, evidentemente as emissões veiculares predominam”. Paulo Artaxo.


Diante da gravidade da poluição gerada pelos veículos, no início dos anos 80, a Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb) implantou em São Paulo o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), definindo limites para a emissão de veículos leves e pesados. A medida estimulou a introdução de novas tecnologias como o catalisador, a injeção eletrônica e a melhoria da qualidade dos combustíveis, o que conduziu a uma redução significativa dos níveis de poluição. Hoje, no entanto, o problema persiste e os limites da Cetesb já estão abaixo dos padrões internacionais sugeridos pela Organização Mundial da Saúde.

Em junho deste ano, o prefeito Gilberto Kassab anunciou a implantação do Programa de Inspeção Veicular de São Paulo. A partir de 2008, a frota do Município passará por vistoria técnica para verificar os níveis dos poluentes e gases lançados na atmosfera. A inspeção será vinculada ao licenciamento do veículo. Após a verificação técnica, será emitido um certificado de aprovação ou relatório de reprovação, conforme o caso. Proprietários cujos veículos forem reprovados terão até 30 dias para fazer a manutenção necessária e voltar para novo teste.

“É importante que você tenha uma legislação e que ela seja cumprida e fiscalizada através do programa de inspeção e manutenção de veículos, que é absolutamente essencial de ser implementado numa cidade como São Paulo”, afirma o professor Artaxo. Também em 2008, ficará estabelecido que o óleo diesel poderá ter um teor máximo de enxofre de 50 ppm (partículas por milhão). A partir de julho de 2010, este índice deverá ser, obrigatoriamente, ainda menor: 15 ppm.

Paulo Saldiva explica que a poluição multiplica por 0,1 o risco de as pessoas terem câncer. “Nós fumamos, sem querer, dois ou três cigarros por dia. São bebês, gestantes, idosos. Você não pode escolher. Você sabe que o Tietê é poluído e pode evitar de beber sua água. Você pode tratar aquela água. Mas não existe uma estação de tratamento de ar”, exemplifica.

Em meio a prédios e máquinas, há milhões de seres humanos indo e vindo, trabalhando e se divertindo, vivendo. Conheça a experiência de alguns paulistanos na matéria “Andando na selva de pedra”.

     
 
 
 
 
 
O Espaço Aberto é uma publicação mensal da Universidade de São Paulo produzida pela CCS - Coordenadoria de Comunicação Social.
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