por Daniel Fassa

arte sobre foto de arquivo pessoal de Igor de Souza

foto crédito: arquivo Clube Esperia
Chegada da primeira travessia a nado do Rio Tietê em 1924. Acervo do Clube Esperia

 

 

 

foto crédito: arquivo pessoal de André Cunha
A maratona aquática não é a prioridade do doutorando André Cunha, mas sua dedicação é intensa. Os resultados comprovam: o estudante-atleta está lutando pelo bicampeonato paulista e sagrou-se campeão brasileiro da categoria Master A em 2007

foto crédito: arquivo pessoal de André Cunha
"As maratonas aquáticas representam um retorno aos primórdios da natação, pois o esporte era inicialmente disputado em mares, rios e lagos". Ricardo Sinhorelli Colombo, treinador de André Cunha

 

 

 


foto crédito: arquivo pessoal de Igor de Souza
"Um maratonista deve treinar muito mais que um nadador de piscina, ter grande resistência e poder de concentração", afirma Igor de Souza, que cruzou duas vezes o Canal da Mancha

 


Maratona Aquática põe à prova resistência de nadadores e traz natação de volta às origens

Na pré-história, muitas vezes era nadando que o homem fugia de um predador ou conseguia alguma comida. Séculos depois, os seres humanos se consolidaram como os senhores da terra, mas nem por isso deixaram de dar suas braçadas. Hoje, a natação é um dos principais esportes olímpicos e a maratona aquática começa a despontar no cenário internacional. Reconhecido em 1991 pela Federação Internacional de Natação (Fina), o esporte será modalidade olímpica pela primeira vez nas Olimpíadas de Pequim, no ano que vem. No último Pan-Americano, estreou e já rendeu medalhas para o Brasil.

A maratona aquática é uma prova de natação de longa distância e alta resistência, disputada no mar, em rios ou lagos. Embora apenas recentemente tenha sido reconhecida como um esporte olímpico, a modalidade é a verdadeira precursora da natação, que, em seus primórdios, não era praticada em piscinas.

No Brasil, as primeiras maratonas aquáticas ocorreram na década de 20, em São Paulo , com travessias dos rios Pinheiros e Tietê. Hoje, o Estado tem o maior campeonato do País e um dos maiores do mundo, com uma média de 1.500 atletas por etapa. Bahia e Rio Grande do Sul também vêm se destacando nos últimos anos. Em 2006, André Cunha, doutorando em Engenharia de Tráfego da Escola de Engenharia de São Carlos, foi o campeão paulista e, neste ano, luta pelo bicampeonato. Ainda em 2007, ele disputou duas etapas do campeonato brasileiro na categoria Master A e conquistou o título de campeão em ambas.

Os resultados positivos podem dar a impressão de que Cunha se dedica exclusivamente ao esporte. No entanto, a maratona aquática não é sua prioridade. Os estudos estão em primeiro lugar. "Para mim é um hobby. Eu faço porque gosto. Até acaba me ajudando nos estudos, a ter uma rotina mais regrada, mais horários, mais disciplina, mais concentração", afirma.

Apesar disso, o treinamento é intenso. Cunha nada todos os dias das 18h30 às 22h. Seu treinador, Ricardo Sinhorelli Colombo, é testemunha ocular do esforço do estudante: "O André é um atleta de excelente nível técnico e físico e muito dedicado aos treinamentos. Apesar de ser amador, está sempre se superando. Temos certeza de que, se ele tivesse uma estrutura profissional, seria um dos melhores nadadores do País, como já o é, mesmo sem ter tempo e condições ideais de treinamento". Colombo também ressalta o desempenho de outros dois doutorandos do Instituto de Física de São Carlos: Tiago Moda e Daniel Papoti.

Um dos principais marcos da maratona aquática data de 1875, quando um capitão da marinha inglesa chamado Matthew Webb cruzou o Canal da Mancha, nadando. Desde então, inúmeros atletas desafiaram o canal e outras localidades. Entre eles estão os brasileiros Abílio Couto e Igor de Souza.

Couto realizou a travessia três vezes e quebrou o recorde mundial em 1959 no sentido Inglaterra França. Cruzou também o Estreito de Gibraltar e o Rio Nilo, entre outros rios e mares. Somados, os percursos nadados por ele equivalem a dar a volta ao mundo pela linha do Equador, que tem cerca de 40 mil quilômetros.

Já Igor de Souza atravessou o Canal da Mancha em 1996, quando cravou o melhor tempo do ano. Em 1997, fez o percurso de ida e volta em 18 horas e 33 minutos. Devido ao feito, Souza juntou-se a outros dois brasileiros que integram o seleto Hall of Fame (a sala da fama) da natação: a nadadora Maria Lenk, primeira mulher sul-americana a competir em Olimpíadas e o próprio Abílio Couto.

Segundo Souza, há diferentes provas nos circuitos mundiais: no Grand Prix as distâncias vão de 15 km a 88 km ; na World Cup, as provas têm 10 km ; no Campeonato Mundial, elas variam entre 5, 10 e 25 quilômetros . "Um maratonista deve treinar muito mais que um nadador de piscina, ter grande resistência e poder de concentração", explica o atleta.

No Pan-Americano do Rio de Janeiro, os representantes brasileiros na maratona aquática cumpriram bem o seu papel. No masculino, Allan do Carmo levou o bronze e, no feminino, Poliana Okimoto ficou com a prata. André Cunha, de São Carlos, chegou a participar da seletiva para a competição, mas acabou não se classificando. "Foi uma disputa muito acirrada. A prova foi disputada até o fim."

Para o veterano Igor de Souza, o desempenho brasileiro foi muito bom. Ele aponta Poliana como uma das favoritas ao ouro em Pequim e faz uma aposta em Allan: "Estados Unidos e Canadá vieram com sua força máxima. No feminino poderíamos ter sido ouro, perdemos na batida de mão. O garoto Allan do Carmo tem um grande talento. Acredito que, melhorando sua velocidade, em pouco tempo estará entre os melhores do mundo".

 

 
 
 
 
 
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