por Talita Abrantes
Fotos por Cecília Bastos


 

 

 

foto crédito: Cecília Bastos
Enio Morimoto, engenheiro do Instituto de Eletrotécnica da USP, há três anos dedica seu horário de almoço para treinar a equipe de softbol da Faculdade de Ciências Farmacêuticas do campus da capital

 

 

 

 


De mascote aos 3 anos de idade a jogador da categoria infantil, aos 13: Enio guarda boas recordações dos domingos nos campos de beisebol. Da esquerda para direita, Enio é o quinto menino em pé

 

 

 


De volta aos campos, como técnico, Enio decidiu investir na formação da categoria de base do Universo Beisebol Clube

 

 

 

 

 

 

 

foto crédito: Cecília Bastos
"Se tenho condições de fazer algum favor, ensinar algo que sei, eu gosto de fazer isso"

foto crédito: Cecília Bastos
Para Julia Begalli e Leonardo Hamakawa, o melhor dos treinos de softbol é o estímulo que Enio dá ao trabalho em equipe


Conheça Enio Morimoto, engenheiro do IEE, que dispensa as horas de almoço para ser treinador de softbol

Terça-feira. O sol do meio-dia espanta alguns e alegra aqueles que buscam um espaço livre no Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp). Munidos de taco, luvas e muitas gargalhadas, cerca de 20 pessoas parecem não se incomodar com o sol. Lançam bolas. Seguem o percurso. Rebatem. Treinam softbol, uma versão adaptada do beisebol. Tudo sob o olhar atento e silencioso do engenheiro do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) Enio Morimoto.

Os primeiros passos de Enio na USP foram dados em 1982, quando ele foi admitido como técnico do IEE. Nestes 25 anos, o hoje engenheiro aprendeu a conciliar o raciocínio lógico de seus antepassados japoneses com a confiança no trabalho em equipe. Sua função é supervisionar testes feitos em equipamentos elétricos para certificar se estão dentro das normas. A responsabilidade de sua assinatura o obriga a apertar as pálpebras para a atenção não fugir.

Há três anos, o engenheiro decidiu usar este olhar quase clínico de tão atento para outra missão durante o horário em que está na Cidade Universitária. Religiosamente às terças e quintas, esquece o almoço e se veste de paciência para compartilhar sua paixão pelo beisebol com a equipe de softbol da Faculdade de Ciências Farmacêuticas.

A relação com o beisebol começou quando ele tinha apenas três anos de idade. “Naquele tempo não havia muitas opções de lazer, não tinha playcenter, essas coisas”, observa Enio. A alternativa era passar o domingo inteiro no campo de beisebol. Ali, várias gerações de descendentes de japoneses se reuniam para jogar, conversar e fazer piquenique.

O pai, Américo Morimoto, era jogador do time Máquinas de Ikemori. Não demorou muito para Enio virar o mascote da equipe. O então garoto não faltava em nenhum jogo. “Se meu pai não ia, sempre tinha alguém da equipe que me buscava em casa”, lembra.

A vida de mascote acabou aos sete anos, quando Enio passou a treinar beisebol no Universo Beisebol Clube, em São Miguel Paulista, mas só aos 13 começou a participar de campeonatos na categoria infantil. Com 30 anos, o engenheiro resolveu aposentar os tacos e luvas. Motivo? Tornou-se pai.

Se o nascimento da filha Juliana o impeliu a deixar o esporte, o amor que nutre por ela o convenceu a retornar para o beisebol. Em um dos campeonatos da escola de Juliana, Enio percebeu o medo que a menina tinha da bola. Logo descobriu o antídoto: incentivá-la para treinar softbol no clube Universo.

"No soft as jogadas são mais rápidas. Se ela conseguisse pegar a bola, iria perder o medo", argumenta. Juliana, então com 13 anos, não gostou da idéia. Mesmo assim, Enio persistiu. "Foi a única atividade que eu a obriguei a praticar."

Torcedor assíduo dos treinos da filha, logo foi convidado para ser técnico da equipe. No entanto, coordenar Juliana em campo não foi uma boa opção. "Ela reclamava que eu a pressionava muito". Graças a isso, Enio passou a recrutar crianças de até 10 anos para a criação de uma categoria de base, o T-boll, dentro do clube Universo. A idéia, segundo ele, era ensinar os pequenos a gostar do esporte.

Aos 19 anos, Juliana saiu de campo para se dedicar mais aos estudos, mas assumiu o posto de assistente do pai na equipe. Se, por um lado, Enio ganhou uma ótima mediadora no relacionamento com as jogadoras, por outro, teve que aprender a confiar mais na intuição e sabedoria da filha. "Como técnico, eu achava que sabia das coisas. Nunca a ouvia", conta. A esposa, Heiko Julia Morimoto, então o aconselhou "a deixar a menina se sentir mais útil". Ele concordou e passou a "dar carta-branca" para Juliana. "Em muitos jogos, se talvez eu tivesse feito da minha maneira, teríamos perdido", confessa.

Em 2003, uma prima de Enio, graduanda da Farmácia, o convidou para ser técnico do time de softbol da faculdade. Ele aceitou, mas com uma condição: não estaria ali só para vê-los brincar. Graças a isso, nos campeonatos, a equipe pulou da chave bronze para a chave prata.

Dos campos para o IEE

Se a trajetória esportiva seguiu um percurso retilíneo, o mesmo não se pode dizer sobre as escolhas profissionais de Enio. Antes de se formar em Engenharia, foi estudante de Educação Física e de Matemática.

O rumo para a área de Exatas foi apontado por seu pai. Certo dia, o senhor Américo Morimoto, pai de Enio, com um tom profético, declarou que estavam "entrando na era da eletrônica". E, de quebra, deu um palpite: "Seria bom você fazer um curso de técnico de eletrônica". Enio obedeceu. Em 1983, começou a cursar Engenharia Elétrica na Universidade de Mogi das Cruzes.

Passe adiante

Seja em campo ou fazendo testes de equipamentos elétricos no IEE, Enio parece ser guiado por um forte espírito de trabalho em equipe. "Tem gente que pensa: 'eu aprendi a fazer isso aqui, mas não vou passar para ninguém. Veio comigo, vai comigo'. Eu acho ruim isso", observa. "Se tenho condições de fazer algum favor, ensinar algo que sei, eu gosto de fazer isso".

Mais do que ensinar um esporte, ele revela estimular os jogadores a ultrapassarem os laços de equipe. "Eu penso muito no futuro. Quando forem profissionais, será que um não poderá ajudar o outro?"

Julia Begalli, estudante do 4º ano da Farmácia, confirma a visão do técnico. "O Enio sempre fala que precisamos ser um time unido, que dependemos um do outro", conta. Leonardo Hamakawa, do 3º ano, concorda com a colega: "Acima do esporte, este senso de coletividade é o que comanda aqui".

 


 

 


 
 
 
 
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