por Daniel Fassa
Fotos por Cecília Bastos e Francisco Emolo

arte sobre foto de Cecília Bastos


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Educar, vigiar e punir
Na batalha contra as mortes no trânsito, conscientização e imposição de limites caminham juntas

 

 

 

 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
Estudos feitos pela professora Vilma Leyton no IML de São Paulo indicam que 38,3% dos 3.040 mortos em acidentes de trânsito necropsiados em 2005 tinham álcool no sangue

 

 

 

 

 

 

 


Responsável pelo Setor de Transportes da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) do campus de Pirassununga, Limarque Donizete de Sá opina: "Acho que, quem vai dirigir não deve beber nada."


Embriaguez está entre as principais causas de acidentes de trânsito. Hábito de beber e dirigir deve chegar ao fim

Nove e meia da noite de domingo. Adriel, de 7 anos, vai de carona de moto com a mãe, Alessandra, 26, e seu marido, Alessandro, 27. Na contramão, o Ford Ranger do promotor de Justiça Wagner Grossi põe fim à vida de uma família inteira. Segundo a Polícia, Grossi estava embriagado. Ele responde ao processo em liberdade. Notícias como essa, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo no dia 8 de outubro, fazem parte do cotidiano dos brasileiros há um bom tempo.

Somente em 2005, 25.427 pessoas morreram em acidentes de trânsito no Brasil, segundo levantamento feito pelo Departamento Nacional de Trânsito. Embora não haja estimativas nacionais que indiquem quanto desse total decorre de embriaguez, sabe-se que ela é um dos principais motivos. Internacionalmente, considera-se que entre metade e um quarto dos acidentes com vítimas fatais está associado ao uso do álcool por algum dos responsáveis pela ocorrência, segundo o I Levantamento Nacional Sobre os Padrões de Consumo do Álcool, publicado este ano pelo governo federal em parceria com a Unifesp.

Em São Paulo , estudos feitos pela professora Vilma Leyton, da Faculdade de Medicina, legitimam a tese: dos 3.040 mortos em acidentes de trânsito necropsiados no IML de São Paulo em 2005, 38,3% tinham álcool no sangue. Em 1999 e 2001, 46,7% e 45,7%, respectivamente, estavam na mesma situação.

O álcool é um depressor do sistema nervoso central. Em pequenas quantidades, seu consumo promove desinibição e sociabilidade, mas, ao mesmo tempo, diminuição da atenção, da capacidade de julgamento e do autocontrole. Com o aumento da concentração alcoólica, esses sintomas se acentuam e somam-se a outros, tais como prejuízo sensório-motor, redução das capacidades sensitiva e reativa, limitação da acuidade visual, entre outros.

Por tudo isso, as chances de uma pessoa embriagada causar acidentes são muito grandes. Carlos (nome fictício), funcionário da USP, dá o exemplo: por muito tempo, ele enfrentou o alcoolismo, até o dia em que, dirigindo embriagado com toda a família no carro, teve uma convulsão e sofreu um grave acidente. "Poderia ter matado toda a minha família. Todos se machucaram. Não gosto nem de lembrar", revela. Desde então, com a ajuda dos Alcoólicos Anônimos, ele não bebe mais.

No entanto, Carlos é uma exceção à regra. Segundo o I Levantamento Nacional Sobre os Padrões de Consumo do Álcool, "o típico indivíduo que dirige alcoolizado é alguém próximo de nosso dia-a-dia e passa longe do estereótipo do indivíduo dependente crônico de álcool". Os dados indicam que 46% dos homens e 14,1% das mulheres beberam e dirigiram pelo menos uma vez nos 12 meses que antecederam a pesquisa.

Cerca de dois terços dessa população (indivíduos adultos que dirigem alcoolizados) já beberam depois de consumir três doses de álcool, ao menos duas ou três vezes no último ano. Esse consumo ultrapassa o limite estabelecido por lei no Brasil, que é de 0,6 grama de álcool por litro de sangue, equivalente a dois copos de chope ou a uma dose de whisky.

Limarque Donizete de Sá, responsável pelo Setor de Transportes da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) do campus de Pirassununga, conta que não bebe, mas opina: "Acho que, quem vai dirigir não deve beber nada". Ele ainda ressalta que está sendo desenvolvido em Pirassununga um trabalho de conscientização sobre o consumo de bebidas alcoólicas.

O quadro que se desenha mostra que, apesar da razoável quantidade de informações sobre os riscos de beber e dirigir, o consumo excessivo de álcool e os acidentes dele decorrentes têm sido uma constante no Brasil. Saiba como a psicóloga Maria Abigail de Souza analisa o fenômeno e conheça um pouco do trabalho de fiscalização e prevenção realizado pela Polícia Rodoviária Federal lendo a matéria "Educar, vigiar e punir".

 

 
 
 
 
 
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