por Daniel Fassa
Fotos por Cecília Bastos e Francisco Emolo

arte sobre foto de Cecília Bastos

 

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Retrato de uma tragédia diária
Embriaguez está entre as principais causas de acidentes de trânsito. Hábito de beber e dirigir deve chegar ao fim

 

 


Para a professora Maria Abigail de Souza, do Instituto de Psicologia, a cultura do prazer e a falta de limites na educação são responsáveis por comportamentos de risco como beber e dirigir

 

 

 


"O trabalho da Polícia, se for isolado e não for mostrado, não surte um grande efeito. Então, o que temos que ter na mídia é informação à sociedade daquilo que está sendo feito." Waldiwilson dos Santos Pinto, corregedor regional da Polícia Rodoviária Federal


Na batalha contra as mortes no trânsito, conscientização e imposição de limites caminham juntas

O uso excessivo e irresponsável de álcool está ligado a questões culturais e educacionais. Essa é a análise da professora Maria Abigail de Souza, do Instituto de Psicologia. "A gente vive a cultura do prazer num sentido tão avassalador que as pessoas não querem mais sofrer nada, nem uma dor de cabeça. Nessa cultura, você não pode frustrar nada, não pode dizer não para uma criança, por exemplo", explica.

De acordo com Abigail, se a família não dá limites aos indivíduos, eles vão procurá-los no Estado, na Polícia. E devem encontrá-los: "É muito importante essa coisa do limite, da punição, não no sentido autoritário, mas como uma forma de educação". A professora da FM/USP Vilma Leyton, que também é chefe do Departamento de Álcool e Drogas da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, compartilha dessa opinião. "O que a gente vê é que os acidentes continuam, todo mundo fala, fala, fala de álcool, há muitas campanhas educativas, mas os números não diminuem. Então, falta alguma coisa. O que a gente acha que falta é a fiscalização", afirma.

Recentemente, a Lei nº 11.275, de 7 de fevereiro de 2006, fez uma pequena alteração no Código de Trânsito Brasileiro que facilitará o trabalho dos órgãos fiscalizadores. Agora, a embriaguez dos motoristas pode ser constatada a partir da observação do comportamento dos indivíduos, sem necessidade de realização do teste do etilômetro (mais conhecido como bafômetro). Sinais como olhos vermelhos, odor de álcool no hálito, agressividade, dispersão, dificuldade no equilíbrio, fala alterada, entre outros, bastarão para que o policial ateste a embriaguez. Anteriormente, se o condutor se utilizasse da prerrogativa constitucional de se recusar a fazer o exame, a Polícia ficava sem ter provas legalmente válidas.

Para o corregedor regional da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Waldiwilson dos Santos Pinto, medidas como essa são muito importantes, mas perdem força se não forem acompanhadas de uma conscientização maciça da população através da mídia e do sistema educacional. "O trabalho da Polícia, sendo isolado e não mostrado, não vai surtir um grande efeito. Então, o que temos que ter na mídia é a informação à sociedade daquilo que está sendo feito", assegura o corregedor.

Por isso, a PRF trabalha com educação no trânsito para todas as faixas etárias, ministrando palestras em escolas e empresas, a fim de mostrar a gravidade de um acidente de trânsito. "Está inserido no Código de Trânsito Brasileiro que, desde a pré-escola até a universidade, haja formação sobre o trânsito. Isso ainda não foi adotado, mas recomenda-se que seja feito. Fazendo essas palestras, nós tentamos fazer a prevenção, a parte educacional", completa Pinto.

A opinião pública nacional parece convergir na condenação do hábito de beber e dirigir. De acordo com o I Levantamento Nacional Sobre os Padrões de Consumo do Álcool, 93% dos brasileiros entrevistados acham que os motoristas alcoolizados têm que pagar multas, 81% que eles deveriam ter a Carteira de Habilitação suspensa e 63% apóiam a condenação à prisão nesses casos. Somente com uma mudança de comportamento, medidas extremas como essas poderão se tornar menos necessárias.

Quer saber tudo sobre as conseqüências da combinação álcool e direção? Clique aqui e assista ao vídeo informativo do Centro de Informações sobre o Álcool, com o ator Lázaro Ramos.

 

 
 
 
 
 
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