por Daniel Fassa
Fotos por Francisco Emolo


 


Memorial promove uma viagem aos tempos da Hospedaria de Imigrantes do Brás

Rosarelli, Lozano, Hernandez, Agerbe, Dias, Ramos, Quenn, Zuniga, Reinbergs, Pusca. Esses são apenas alguns dos mais de 200 mil sobrenomes estrangeiros registrados nos livros da Hospedaria de Imigrantes do Brás, fundada em 1888. Para que não se perdesse a história dessa instituição, por onde passaram cerca de 1,6 milhão de pessoas de 75 nacionalidades diferentes, foi criado o Memorial do Imigrante. Hoje, quem vai ao prédio centenário faz uma verdadeira viagem no tempo e pode até, quem sabe, descobrir algo sobre seus antepassados. Para comemorar os 120 anos da hospedaria, acaba de ser inaugurada a mostra “Hospedaria de Imigrantes do Brás”, que se junta às inúmeras atrações já existentes no memorial.

 

 

Vale a pena começar a visita à exposição pelo último ambiente. Lá se encontra uma grande maquete que dá uma boa visão geral do prédio da hospedaria, construída em formato de E. O complexo, capaz de receber mais de 3 mil pessoas, era composto por dormitórios, banheiros, refeitórios, hospital, necrotério, enfermaria e até uma estação de trem. “Foi um prédio importante na época, não só porque ele abrigava 3 mil pessoas, isto era muito para os padrões da São Paulo da época, mas também porque foi uma das primeiras grandes edificações de alvenaria da cidade”, destaca o curador da mostra, Odair da Cruz Paiva.

 

   

A construção da hospedaria está intimamente relacionada com a crise da escravatura e o desenvolvimento da cafeicultura no Brasil e em São Paulo no fim do século 19. A necessidade de mão-de-obra levou os cafeicultores e o governo brasileiro a estimular a vinda de imigrantes estrangeiros. Na hospedaria, eles eram abrigados temporariamente, até encontrarem alguma fazenda para trabalhar. O encaminhamento era feito pela Agência Oficial de Colocação, instalada dentro do complexo.


 

Essa história é contada em detalhes no primeiro ambiente da mostra, através da projeção de um vídeo de cinco minutos. No mesmo local, um grande mapa mostra as rotas de migração ao redor do mundo, que acarretaram a construção de alojamentos tanto nos países de origem, quanto nos de destino. Enquanto o Brasil recebia muita gente, àquela altura, milhões de pessoas deixavam a Europa. Os motivos variavam. Em alguns países, como a Itália e a Alemanha, era a modernização da economia, que eliminava os postos de trabalho no campo. Em outros, como Portugal e Espanha, a estagnação econômica criava uma grande massa de desempregados. "Eventualmente, no meio desse processo todo, conflitos regionais localizados ou guerras mundiais influenciam também", completa Paiva, que é pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Intolerância da USP.

 

 

Ainda no primeiro ambiente, expositores exibem postais, listas de bordo de navios, passagens, atestados médico-sanitários, passaportes, etc., tudo pertencente ao acervo do memorial. A idéia é mostrar, através desses documentos, as fases da imigração. Já no segundo ambiente, o visitante encontra fotos da antiga hospedaria, além de uma telha e um tijolo da construção original. Um diagrama afixado na parede explica os passos dados pelos imigrantes da chegada ao Brasil às fazendas de café. Em média, eles ficavam hospedados durante uma semana e tinham acesso a todos os serviços gratuitamente.

 



"O que acontecia com o imigrante aqui dentro? Como eram os seus passos internamente?". São respostas a essas perguntas que Odair Paiva, curador de "Hospedaria de Imigrantes do Brás", procura disponibilizar com a exposição.

 

Seguindo a visita, uma pequena sala com paredes vermelhas exibe fotos de imigrantes de diversas nacionalidades. Migrantes internos também são retratados. Mais alguns passos e entra-se em uma sala com paredes cinza. Nela, um mergulho no cotidiano da hospedaria: antigos objetos da casa, como cama, equipamento de dentista, barbearia e até um projetor de filmes mudos podem ser vistos.

"Nós sempre tivemos exposições que trabalharam com fluxos migratórios específicos, mas nunca tivemos um espaço expositivo no qual o visitante pudesse conhecer a dinâmica dos serviços. O que acontecia com o imigrante aqui dentro? Como eram os seus passos internamente? Então nós aproveitamos essa efeméride dos 120 anos para organizar uma exposição de longa duração, na qual o visitante pudesse conhecer a hospedaria por ela própria", finaliza o curador, Odair Paiva.

 

Outras atrações

A mostra "Hospedaria de Imigrantes do Brás", que fica no térreo do prédio, é apenas uma parte de tudo aquilo que se pode encontrar no Memorial do Imigrante. No mesmo andar, está a exposição "O imigrante e seus ofícios", com antigos objetos de trabalho de alfaiates, barbeiros, costureiros, etc. No piso superior, a Sala do Café conta um pouco da história da cafeicultura no Brasil, com fotos, textos e equipamentos agrícolas, entre outras coisas. Já a exposição "São Paulo de toda gente", da artista plástica Suzy Gheler, apresenta bonecos em tamanho real com as bandeiras de seus respectivos países, representando todas as nacionalidades de imigrantes.

 

 

Na área externa, a Fazendinha de Café, com uma pequena plantação de verdade, abriga uma antiga casa de colono. Finalmente, através da Sala do Chefe da Estação, tem-se acesso a um trem maria-fumaça que leva os visitantes a um passeio de um quilômetro. O memorial conta, ainda, com uma biblioteca e presta serviços de Pesquisa e Emissão de Certidão de Desembarque. Para conhecer todas as atrações e serviços, entre no site.

 

Memorial do Imigrante

Local: Rua Visconde de Parnaíba, 1.316, Mooca, São Paulo (próximo à estação Bresser do Metrô)

Fone: (11) 6692-1866

Visitação
De terça a domingo das 10h às 17h (inclusive feriados)

Serviços administrativos
De terça a sexta das 10h às 17h (exceto feriados)

Biblioteca
De terça a sexta das 10h às 13h e das 14h às 17h (exceto feriados)

Departamento de Pesquisa e Emissão de Certidão de Desembarque
De terça a sexta das 13h às 16h horas, e aos sábados, domingos e feriados das 10h às 17h

Ingressos
R$ 4,00 ou R$ 2,00 para estudantes dos ensinos fundamental, médio e superior. Entrada gratuita para menores de 7 anos e adultos com mais de 60 anos. Entrada gratuita no último sábado do mês.

 

 
 
 
 
 
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