por Talita Abrantes
Fotos por Cecília Bastos


 

Conheça as motivações dos adeptos das dietas vegetarianas

Na fila do bandejão (Restaurante Universitário), David Turchick distribui panfletos sobre o veganismo (vegetarianismo estrito). O desenho de sorridentes animais ilustra o folheto que diz "Veganismo e você: tudo a ver!". Algumas pessoas nem prestam atenção. Outras lêem o texto, querendo descobrir o motivo da alegria dos bichos. David esclarece as dúvidas dos curiosos. Um deles comenta: "No bandejão não temos opção. Somos obrigados a comer carne...".

Para Turchick, que já foi aluno da USP, não é bem assim. "Eu almoçava no bandejão. Arroz branco, duas conchas de feijão, suco de laranja, saladinha, pãozinho - nada disso veio da escravidão - e comia frutas durante o resto do dia", conta. Escravidão? Isso mesmo. Segundo os veganos, qualquer produto de origem animal provém da escravização de seres vivos que prezam a própria vida. Por isso, eles não consomem nenhum tipo de carne, nem ovos, nem leite. Também são contra a realização de testes em animais, seu aprisionamento e a utilização de sua pele para vestimenta.


Foto crédito: Francisco Emolo
"O veganismo busca não dar incentivos para a continuidade da escravidão [de animais], mas sim para sua abolição. Que tal um sanduíche com tofu, tomate e orégano?" David Turchick, vegano

 

Foto crédito: Gettyimages
Segundo a pesquisadora Maritsa Carla de Bortoli, as dietas vegetarianas mal balanceadas podem levar a deficiências nutricionais ou apresentar quantidades excessivas de carboidratos refinados e gorduras trans.

Além do veganismo, há outros três tipos de dietas vegetarianas: a semivegetariana, em que se consomem alimentos de origem vegetal, laticínios, ovos e carnes brancas (frango ou peixe), excluindo-se somente as carnes vermelhas; a ovolactovegetariana, na qual as pessoas se alimentam de ovo, leite e produtos de origem vegetal; e a lactovegetariana, na qual apenas vegetais e leite são consumidos.

Fábio Kon, professor do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística, é ovolactovegetariano há 8 anos. Assim como Turchick, ele aderiu a esse tipo de dieta por respeito aos animais. "Cada indivíduo tem suas próprias motivações. A maioria dos vegetarianos está preocupada com os maus-tratos e o enorme sofrimento que nossa sociedade causa aos animais. Outros estão preocupados com os efeitos nefastos que a indústria da carne tem sobre o meio ambiente, como, por exemplo, a destruição da floresta amazônica, a eliminação de gases tóxicos e causadores do efeito estufa pelo gado, etc. Outros, ainda, estão preocupados com a sua própria saúde", opina o professor.

Os adeptos da dieta vegetariana, seja ela qual for, devem tomar alguns cuidados. Isso porque, de acordo com Maritsa Carla de Bortoli, doutoranda em Ciências dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas, "as dietas vegetarianas restritivas ou mal balanceadas podem levar a deficiências nutricionais, particularmente em situações de grande demanda metabólica como na infância, gestação, lactação ou doenças".


 

 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
"Hoje a gente sabe que frutas, verduras e legumes, além da função de nutrir, têm outros componentes que ajudam a reduzir o risco de doença". Jocelem Salgado, professora da Esalq

Além disso, "elas também podem apresentar quantidades excessivas de carboidratos refinados e gordura vegetal , principalmente hidrogenada, que contém ácidos graxos do tipo trans", explica a pesquisadora. Para ela, a fim de ter uma dieta o mais benéfica possível, os vegetarianos devem contar sempre com a ajuda de nutricionistas, além dos guias alimentares.

Aos veganos pede-se uma atenção especial. Devido a sua dieta estritamente vegetariana, eles são carentes em vitamina B 12, que só pode ser obtida a partir da interação solo, planta, animal e homem. É o que explica a professora Jocelem Salgado, da Esalq: "Você encontra a vitamina B12 em carnes, frango, alimentos de origem animal. Uma recomendação é que a pessoa vegana consulte um médico e peça um suplemento de vitamina B12, daí está tudo bem".

Jocelem ressalta também a importância de se fazer várias refeições ao dia. "Alimentação inteligente é aquela em que você fraciona seus alimentos em cinco ou seis refeições ao dia. Nunca é bom você ficar mais de duas horas sem se alimentar, porque você pode entrar num processo de hipoglicemia, cai o seu combustível no sangue."

O consumo de vegetais pode ajudar a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, Alzheimer, câncer, entre outras. Verduras escuras, soja, frutas em geral, tomate, estão entre os alimentos mais benéficos. Os nutricionistas recomendam que, sejam vegetarianas ou não, as pessoas comam vegetais abundantemente.


 

Foto crédito: Francisco Emolo
Ovolactovegetariano, Fábio Kon fala sobre sua dieta: "Minha alimentação é bem variada, como massas, laticínios, cereais, leguminosas, vários tipos de feijões, lentilha, ervilha, grão de bico, vários tipos de nozes, verduras, legumes e frutas. Na cozinha gostamos de cozinhar tortas, suflês, quiches, massas variadas, saladas, etc."

 

Para quem é vegetariano, Maritsa faz algumas recomendações:

•  Manter uma dieta variada;

•  Incluir na alimentação grande variedade de leguminosas (feijões, lentilhas, grão-de-bico, etc.), e consumi-las em conjunto com os cereais (arroz, trigo, milho, etc.), porque estes dois alimentos juntos podem prover quantidades adequadas de aminoácidos essenciais;

•  Incluir o consumo de alimentos fermentados à base de soja, que podem melhorar a biodisponibilidade de zinco;

•  Utilizar frutas secas, que concentram nutrientes, na alimentação;

•  Evitar o consumo de alimentos ricos em cálcio na mesma refeição que alimentos ricos em ferro;

•  Incluir nas refeições alimentos ricos em vitamina C (frutas cítricas ou seus sucos), que melhoram a absorção do ferro de origem vegetal;

•  Usar alimentos fortificados com micronutrientes, de acordo com a recomendação de um profissional da saúde.

 

 
 
 
 
 
A Espaço Aberto é uma publicação mensal da Universidade de São Paulo produzida pela CCS - Coordenadoria de Comunicação Social.
Todos os direitos reservados®
e.mail: espaber@edu.usp.br