por Daniel Fassa
Fotos por Francisco Emolo


Cortar o mal pela raiz

 

 


Adolpho José Melfi cresceu com a USP e ajudou a definir seus rumos

A história de Adolpho José Melfi está intimamente relacionada à USP. Em mais de 50 anos de carreira, o docente passou por quase todos os estágios possíveis na Universidade. Graduou-se, lecionou, pesquisou, dirigiu institutos, foi reitor. Após completar 70 anos em 2007, entrou na aposentadoria compulsória, mas nem por isso deixou a vida acadêmica. Hoje, Melfi dirige o Centro Brasileiro de Estudos da América Latina. Em sua nova sala, no Memorial da América Latina, ele recebeu a Espaço Aberto para contar um pouco de sua biografia.

Paulistano, filho de um comerciante e uma costureira, Melfi viu a cidade de São Paulo crescer com ele. Na juventude, testemunhou a criação da Cidade Universitária, no Butantã, e foi um de seus primeiros freqüentadores. “Era toda uma fase romântica. Nós íamos de bonde até o Largo de Pinheiros, depois tínhamos que atravessar a pé um grande bosque. Quando chovia, tínhamos que amassar barro para chegar aos Departamentos de Física ou de Zoologia, onde assistíamos aula uma vez por semana.”


 

 

Foto crédito: Jorge Maruta
Em 1977, Melfi assume a diretoria do recém-criado Instituto de Astronomia e Geofísica. Na foto, da esquerda para a direita, José Geraldo Soares de Melo (secretário geral da USP), Orlando Marques de Paiva (reitor), Josué Camargo Mendes (vice-reitor) e Adolpho José Melfi

 

 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
Melfi foi nomeado pró-reitor de Pós-Graduação em 1994


Na época, o Brasil se entusiasmava com as grandes descobertas de minério na Amazônia e o governo Juscelino Kubitschek incentivava a formação de geólogos, então considerados a redenção do País. Como se interessava muito pelo estudo da terra desde o científico (antigo Ensino Médio), Melfi resolveu ingressar no recém-criado curso de Geologia da USP. Sua idéia inicial era se formar e ser pesquisador de campo, ir à Amazônia. No entanto, acabou trilhando outros caminhos. “A minha namorada não queria ir para lá. Então eu acabei indo para Campinas, trabalhar no Instituto Agronômico (IAC), que era outra coisa de que eu gostava”, revela.

Depois de três anos trabalhando no interior, Melfi voltou a São Paulo em 1964 para ser professor do Departamento de Geologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, que congregava diversas áreas do conhecimento. Alguns anos depois, seria criado o Instituto de Geociências (IGc), do qual Melfi se tornaria vice-diretor. Em seguida, foi selecionado para ser diretor do recém-criado Instituto de Astronomia e Geofísica, cargo que ocuparia por duas gestões.

Em 1994, o docente foi convidado pelo então reitor Flávio Fava de Moraes a assumir a Pró-Reitoria de Pós-Graduação. Para ele, o destaque de sua gestão foram os programas de apoio aos cursos que estavam mal avaliados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). No entanto, ele acredita que os critérios de avaliação da Capes ainda dão muito valor ao número de publicações, em detrimento da qualidade do ensino e da pesquisa em si. “Como falam sempre, o Einstein fez um trabalho na vida dele, só que foi o trabalho. E tem outras pessoas que fazem milhares de trabalhos e que não trazem grande contribuição, desenvolvimento. É uma avaliação que, a meu ver, ainda tem algumas falhas, mas acaba dando uma motivação muito grande para que os cursos tenham resultados cada vez melhores”, opina.


 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
Jacques Marcovitch entrega o cargo de reitor a Adolpho José Melfi em 2001

 

 

 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
Melfi, esposa, filha e netos no dia da posse da Reitoria


Logo após a Pró-Reitoria, Melfi assumiu a vice-reitoria da USP em 1998 e, quatro anos depois, tornou-se o reitor da Universidade. Nesse período, assim como nos anteriores, não deixou de desenvolver suas pesquisas, nem de dar aulas. “Eu não larguei a pesquisa nem o ensino. É o que eu gosto de fazer, então continuei, como continuo hoje. Acho que, para os alunos, também era uma motivação, porque é curioso, eram alunos de primeiro ano e nós nunca tivemos um relacionamento de aluno e reitor.”

Durante os quatro anos em que esteve à frente do cargo mais importante da USP, Melfi teve a expansão de vagas como uma de suas prioridades. “Quando eu comecei, havia 6.900 vagas colocadas no vestibular e eu falava que queria deixar a USP com 10.000 vagas.” Com a abertura do campus da zona leste, do campus II de São Carlos e a criação de novas vagas em Ribeirão Preto , o então reitor praticamente atingiu sua meta, entregando a Universidade com 9.950 vagas. “Acho que foi um período bom. Tivemos turbulências como todo reitor, que sempre passa por uma grande greve, mas eu acho que foi uma gestão em que deu para fazer bastante coisa”, avalia.

Desde 1997, Melfi dá aulas também na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba. Depois de encerrar o ciclo de cargos administrativos da USP em 2002, continuou lecionando e pesquisando tanto no interior quanto em São Paulo. Aposentado desde o ano passado, trabalha atualmente como professor permissionário da Esalq, duas vezes por semana. No entanto, não abandona a capital. “Nunca saí daqui. Eu gosto da agitação de São Paulo. É uma cidade que oferece muita coisa – teatro, cinemas, restaurantes, vida noturna, shows.”


Foto crédito: Oswaldo J. Santos
Em 2005, o governador Geraldo Alckmin e o reitor Adolpho José Melfi inauguram campus da USP na zona leste de São Paulo

Foto crédito: Oswaldo J. Santos
Reitora Suely Vilela homenageia o ex-reitor Adolpho José Melfi


Casado há 47 anos, com dois filhos e cinco netos, Melfi continua na ativa. Seu mais novo projeto é a diretoria do Centro Brasileiro de Estudos da América Latina, onde pretende aprofundar a geração do conhecimento, através do desenvolvimento de pesquisas. A idéia é selecionar um pesquisador todos os anos para pesquisar e ministrar cursos sobre temas predeterminados, como “Comércio e Desenvolvimento” (tema de 2008), “A Amazônia latino-americana”, “A segurança nas grandes metrópoles”, entre outros.

Em meio a tantos afazeres no decorrer da carreira, pouco tempo sobrou para férias ou outras atividades. Ainda hoje é assim, como conta Melfi. “A família sempre acaba sendo um pouco prejudicada. Por exemplo, agora eles estão em férias e eu estou aqui. Toda vida foi assim.” Por outro lado, a vida acadêmica proporcionou bons momentos para ele e sua família, como morar no exterior, onde a rotina era um pouco mais tranqüila. Ao olhar para trás, Melfi dá seu parecer: “Valeu”.


 

 


 
 
 
 
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