por Talita Abrantes
Fotos por Cecília Bastos e Francisco Emolo


Estudante, docente, reitor

 

 


Foto crédito: arquivo pessoal
Paulo Potiguara Novazzi Pinto nasceu no Tatuapé, em São Paulo

 


Conheça as razões que levam um fisiatra do HC a dedicar parte de sua vida ao teatro

Todo o mundo é um palco,/ E todos os homens e mulheres são simplesmente atores:/ Eles têm suas entradas e saídas,/ E um homem, em sua vez, representa muitos papéis (...)

William Shakespeare

Para alguns afortunados, a vida realmente faz jus a essa idéia shakespeariana. O cotidiano, geralmente marcado por uma sucessão de dias iguais, na rotina deles parece ter saído das páginas de algum bom roteiro. Paulo Potiguara Novazzi Pinto, médico fisiatra da Divisão de Medicina de Reabilitação do Hospital das Clínicas (DMR/HC), faz parte deste grupo. Formado em Medicina há 12 anos, em 2003 decidiu dar um novo norte à sua vida e inscreveu-se em uma oficina de teatro. Hoje, como aluno da Escola de Arte Dramática da USP, estampa no currículo uma peculiar combinação: médico e ator.

Já na infância, Novazzi apresentava esta dupla tendência. Nascido em 1971 em São Paulo , o médico ator vivia fascinado com o mundo do teatro, ao mesmo tempo em que praticava atletismo com paixão. O conselho dos pais o levou a seguir apenas a outra vertente. “Sempre gostei de trabalhar com o corpo. A princípio, queria Educação Física. Depois, optei por Medicina.”


Foto crédito: Cecília Bastos
Formado em Medicina pela Universidade de Medicina do ABC, Novazzi fez residência em Clínica Médica e Fisiatria na Santa Casa de São Paulo

 

Foto crédito: Foto crédito: arquivo pessoal
Ainda no teatro amador, atuando na peça Teatro a vapor


Graduado pela Universidade de Medicina do ABC no ano de 1996, terminou a residência em Clínica Médica e Medicina Física e Reabilitação, com superespecialização em Terapia da Dor em 2000 na Santa Casa de São Paulo. Conquistou o primeiro lugar em todo o Brasil na prova do título de especialização. E, no ano seguinte, começou a trabalhar no HC e posteriormente no Hospital Universitário.

A decisão pela nova profissão veio quando Novazzi desfrutava de uma boa época em sua carreira como médico. “Eu estava com 30 anos e já tinha feito tudo em medicina em termos de especialização. Mas eu comecei a ficar deprimido”, lembra. Um psiquiatra, então, o aconselhou a buscar alguma coisa que lhe desse prazer. O médico então descobriu o teatro. “No dia em que decidi que iria fazer alguma coisa no teatro, liguei o rádio e a primeira coisa que ouvi foi: 'Estão abertas as inscrições para as oficinas de ator do grupo Tapa'”, narra. E, no dia 15 de setembro de 2003, ele deu seu primeiro passo na carreira de ator.

Uma das professoras do curso, o convidou para participar do Grupo de Teatro da Universidade Bandeirantes. Ali, atuou em duas peças: Teatro a vapor, de Arthur de Azevedo, e Veredas da salvação, de Jorge Andrade. No fim de 2004, o médico prestou as provas para ingressar na EAD. “Há colegas meus que já tinham dez anos de experiência antes de entrar na EAD, e eu, só havia atuado no teatro amador por um ano”, compara. “Por isso, eu fiz os testes sem nenhuma expectativa. Passar foi uma surpresa.”

No entanto, as diferenças entre as duas carreiras criaram um conflito interno em Novazzi. “Eu já estava formado em Medicina há dez anos e isso deu um nó na minha cabeça”, lembra. “A princípio eu até queria largar a medicina”.



Foto crédito: divulgação
Em Prepare seu coração, montagem que ficou em cartaz até 2 de março

 

Foto crédito: Francisco Emolo
“Eu entendi que a vida é arte”, explica Novazzi

 

 


As razões para isso estão centradas na própria relação do médico com o paciente. “Às vezes, você fica tão técnico e tão senhor das suas verdades que se esquece de que ele é um ser humano”, avalia. E, neste ponto, para Novazzi, o teatro fez dele um melhor médico. “Eu entendi que a vida é arte”, explica. “Antes, eu era apenas um relator das coisas que eu lia nos livros. Agora, eu faço arte da técnica médica.”

Na EAD desde 2005, o fisiatra já contabiliza atuação em oito espetáculos, além da participação em um curta-metragem e na série Por toda a minha vida, da Rede Globo de Televisão. Apesar de todos fazerem a mesma pergunta, Novazzi ainda não sabe se um dia irá deixar a medicina. Ele conta que a diretora da EAD, Cristiane Paoli Quito, já viveu dilema semelhante. Advogada, decidiu desistir de toda uma carreira já estabelecida para dedicar-se apenas ao teatro. Ela disse: "Hoje na sua vida a medicina tem um peso muito maior. Mas vai chegar uma hora que as duas carreiras vão se equalizar. Enquanto isso não acontecer, não decida. Continue a vida”.

Até lá, Novazzi diz que irá manter este duplo papel. “A arte e o teatro salvaram a minha vida, minha profissão enquanto médico e foi o único lugar em que eu encontrei Deus”, observa. “Eu sempre busquei procurar o outro, mas o único lugar em que eu me encontrei foi no teatro.”


 

 


 
 
 
 
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