por Maria Clara Matos
Fotos: divulgação

Arte sobre fotos de Sônia Parma


Relembrando os 40 anos do verão europeu de 1968, o Sesc Pompéia comemora e homenageia a Contracultura

Psicodelismo, uma pitada de Janis Joplin e Jimi Hendrix e uma boa quantidade de ousadia e determinação. Elementos como esses trazem à imaginação parte da mobilização e renovação dos valores culturais da Contracultura, que surgiu como expressão do movimento beatnik dos anos 50 e das transformações ocorridas com os acontecimentos do Maio de 68 francês. No ano em que o mundo lembra o verão europeu de 68, o Sesc Pompéia traz ao público o evento “Vida Louca, Vida Intensa – Uma Viagem pela Contracultura” com uma vasta programação até 22 de junho, em São Paulo.

O jornalista e designer Eduardo Beu, curador da programação do Sesc, revela que o projeto nasceu da idéia de comemorar acontecimentos simultâneos ligados aos reflexos artísticos e sociopolíticos da Contracultura. Entre eles a publicação, em 1957, do livro On The Road (Pé na Estrada), do escritor beatnik Jack Kerouac; as manifestações do Maio de 1968 e os 40 anos do Tropicalismo, em 2007.

Ele ainda destaca: “Com estas datas-chave históricas, acabei me motivando a coletar dados e depois de seis meses tinha algo formado. A idéia era não só resgatar o legado, mas também apresentar uma reflexão contemporânea sobre os desdobramento nas décadas de 70 e 80”.

Além da instalação cenográfica que vai propor essa viagem dos anos 50 até o final da década de 80, com o movimento punk, o segmento das artes visuais do evento reúne reproduções digitais de cartazes de cinema, shows de rock, peças de teatro, manifestações, capas e periódicos da imprensa underground, jornais e capas de discos.



A capa do disco de 1969 da banda holandesa The Fool faz parte da exposição “Vida Louca, Vida Intensa”, assim como o psicodélico pôster de Bill Graham para a divulgação da banda Grateful Dead

 

 

Foto crédito: divulgação
Espaço Café Beatnik recebe visitantes para as mostras cinematográficas


Funcionando como uma máquina do tempo, o cinema também não poderia ficar de lado para mostrar um pouco dos ideais da década de 60. Luiz Alberto de Lima Boscato, autor do livro Vivendo a Sociedade Alternativa, comenta que “as raízes da Contracultura encontram-se nos anos 1950 com a literatura da geração beat, com a explosão inicial do rock’n roll e com filmes que denunciavam o desconforto em que viviam os jovens oprimidos pela rigidez da sociedade, como Juventude Transviada, que teve em James Dean um dos primeiros ídolos juvenis”.

O especialista ainda reitera que “o cinema foi importante para a expansão do rock e foi por meio dele que a nova tendência musical chegou ao Brasil, com filmes como Rock Around The Clock, que tinha a famosa música de Bill Halley e Seus Cometas. Foi o período da rebeldia sem causa. Quando os rebeldes encontram as suas causas, nasce a Contracultura”.

Entre as pérolas a serem exibidas nas telonas durante o evento estão Blow Up: Depois Daquele Beijo (1966), do consagrado diretor Michelangelo Antonioni. O longa traz às telas a história do fotógrafo profissional Thomas que ao revelar fotos tiradas de um casal secretamente mostram um assassinato. Mostram mesmo? Blow Up é um influente estudo sobre a paranóia e a desorientação dos movimentados anos 60. Também não ficam de fora filmes de Dennis Hopper, como Easy Rider (1969) e de John Donne, como Alice in Acidland (1968).

Pensando na Contracultura hoje, Beu comenta: “Não vejo na verdade nenhum frescor de algo ou alguém que poderia ser um reflexo da contracultura nos dias atuais. Com a entrada da era digital, o que poderia ter dado um salto no desenvolvimento humano acabou alienando quase que total a juventude. Hoje em dia se copia muito, e se reflete pouco”. Mas afirma: “Acho que a internet é um meio, e quando soubermos usá-la, alguém ou alguma coisa surgirá para revolucionar”.


Foto crédito: divulgação
A exposição propõe uma viagem dos anos 50 aos anos 80, incluindo reprodução de cartazes de cinema, shows de rock e capas de periódicos da imprensa underground

 

 

Foto crédito: divulgação
Na chamada Área Psicodélica da mostra ocorrem as projeções em vídeo


Lima Boscato acredita que a liberdade para se falar em temas como sexualidade e liberdade juvenil deve-se muito à Contracultura. Mas ressalva: “O problema que várias vezes eu vejo é que muitos dos filhos e netos da geração que presenciou o movimento hippie não tiveram de lutar por esta liberdade e tenho a impressão de que tudo já lhes foi dado de mão beijada”.

Além de shows, saraus, espetáculos de dança e teatro, o Sesc Pompéia também apresenta ao público seminários que perpassam grande gama de reflexões, como as discussões sobre a relação de causa e efeito dos movimentos de minorias – lutas pelos direitos civis, feminismo, movimento gay – com a formação do caldo contracultural. Além de abordar a questão da influência das drogas na estética de linguagens artísticas.

A programação se estende até dia 22 de junho e pode ser conferida no site www.sescsp.org.br. Mais informações pelo telefone (11) 3871-7700.

Sesc Pompéia
Local: rua Clélia, 93
Horários: terça a sábado, das 10h às 21h; domingos e feriados, das 10h às 20h
Ingresso: para exposição, filmes, seminários, performances de teatro, dança e sarau literário a entrada é franca. Nos shows serão cobrados ingressos
Data: 15/4 a 22/6

Vivendo a Sociedade Alternativa
Luiz Lima
Terceira Margem
212 páginas
R$ 26,00

No dia 12 de maio, na Livraria da Vila, que fica na rua Fradique Coutinho, 915, será realizada, a partir das 18h30, a noite de autógrafos do livro de Luiz Lima, Vivendo a Sociedade Alternativa. No mesmo dia o autor e Sylvio Passos, presidente do Fã-Clube Oficial de Raul Seixas, debaterão sobre o Maio de 1968, bem como temas ligados às lutas libertárias da juventude do período.

 

 
 
 
 
 
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