Por Maria Clara Matos
Fotos por Cecília Bastos

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Paulo Capel Narvai e sua mãe Judith Capel Narvai


Paulo Capel Narvai fala sobre sua vida e seu envolvimento com a saúde pública brasileira

A melhor parte da nossa memória está deste modo fora de nós. Está num ar de chuva, num cheiro a quarto fechado ou no de um primeiro fogaréu, seja onde for que nós mesmos encontremos aquilo que a nossa inteligência pusera de parte, a última reserva do passado, a melhor, aquela que, quando se esgotam todas as outras, sabe ainda fazer-nos chorar.”

Em Busca do tempo Perdido”, Marcel Proust

As memórias simples e longínquas apresentam-se como manifestações do tempo em nós e como tomada de consciência de nossa própria existência. “Na minha juventude, no início da faculdade eu era sonoplasta e desenhista arquitetônico”, diz entre sorrisos Paulo Capel Narvai, hoje professor da Faculdade de Saúde Pública e membro titular do Conselho Municipal de Saúde de São Paulo. O cirurgião-dentista sanitarista surpreende ao revelar atividades tão diferentes de sua atual profissão, mas as lembra de maneira emocionada, contando histórias que, apesar de fazerem parte de seu passado, são essenciais para a construção de seu presente.

Nascido em 1954, na pequena cidade do norte do Paraná, Mandaguari, professor Narvai relembra que desde muito cedo seu pai bancário e sua mãe dona de casa o incentivaram a estudar e a trabalhar, “Aos doze anos meu pai já me levava para o banco em que ele trabalhava”. Depois de concluir seus estudos no interior do Paraná, o professor seguiu para Curitiba onde se graduou em odontologia pela Universidade Federal do Paraná. Posteriormente, já em 1979, transferiu-se para São Paulo e começou a trabalhar no Centro de Saúde-Escola de Cotia.


 

 

 

 

Foto crédito: arquivo pessoal
Com o pai Antonio Narvai Martinez e o primo Paulo Narvai Lima


Narvai ressalta que o momento de maior choque foi quando, na graduação, teve contato mais direto com as condições de saúde bucal da população. Isso porque quando criança “tinha uma visão do trabalho do dentista que era a e um paciente classe média, o que não proporcionava um verdadeiro conhecimento sobre os problemas enfrentados pela população em geral”. Em Curitiba, pôde presenciar o cenário devastador que cáries e doenças gengivais faziam na boca de escolares. “Aquilo me impressionou muito”, enfatiza.

Na universidade, a participação nos movimentos estudantis e movimentos sociais de luta pelo direito a saúde também contribuiu em muito para sua formação. Mas o professor lamenta, no entanto, o período da ditadura que viveu, em que as liberdades democráticas foram suprimidas no Brasil. “Foi uma época muito difícil, em que eram cometidas desde violências maiores como a morte e tortura de colegas, como violências mais sutis como a necessidade de mudar de nome”, relata.

Mas como jovem que tem seu sentimento de heroísmo, não deixou de lutar por suas convicções. Nos anos 70, conta que o Brasil convivia com uma pandemia generalizada de cárie, mais de 95% de crianças apresentavam o problema. Ele então, viu a necessidade de se envolver em projetos de prevenção direcionados à saúde pública. “Nós muitas vezes ficamos indignados com coisas que não nos parecem corretas e temos um sentimento de potência transformadora, o que é muito saudável.”

Isso fez com que, praticamente na metade do curso de Odontologia, Narvai decidisse que não montaria um consultório odontológico, “nunca me ocorreu me graduar, montar um consultório odontológico, me estabelecer como profissional liberal autônomo e atender a minha clientela”. Ele revela que desde a universidade e seu trabalho no Centro de Saúde de Cotia gostaria de realizar estudos na área de medicina preventiva e foi isso que o trouxe a São Paulo “Senti a necessidade de me preparar, de ter uma melhor formação nessa área, não sabia direito o que era odontologia preventiva e busquei o curso de especialização da Faculdade de Saúde Pública em 1981”.



Em 1982, foi convidado a coordenar as ações de saúde bucal da Secretaria de Estado da Saúde (Sesp-SP). Ainda na década de 80, após concurso público, ingressou na Secretaria de Higiene e Saúde da Prefeitura de São Paulo, mas em 94, quando contratado pela FSP da USP, passou a se dedicar integralmente a docência e à pesquisa na Universidade. Atualmente, além de ser integrar comissões e órgãos colegiados, como a Congregação e o Comitê de Ética e participar da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade foi indicado pela reitora da Universidade para representar a USP, como membro titular do Conselho Municipal de Saúde de São Paulo, na vaga correspondente ao representante do segmento universidade pública.


 

 


 
 
 
 
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