por Maria Clara Matos
foto por Cecília Bastos


 

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Embora poucos saibam, os resíduos gerados por materiais eletrônicos podem ter um fim ecologicamente correto


Apesar da aparente inocência, os resíduos de microcomputadores e eletroeletrônicos em geral causam danos à saúde e ao meio ambiente

Mercúrio, chumbo, cromo hexavalente, cádmio e cloreto de polivinila. Os nomes são difíceis, mas os danos ambientais e à saúde humana que esses elementos podem causar já são facilmente identificados. São resíduos presentes em tubos de imagens de monitores e televisores, baterias de celulares e placas de computadores.

Angela Cássia Rodrigues, pesquisadora da USP cujos estudos centram-se na cadeia pós-consumo dos resíduos elétricos e eletrônicos, destaca que “as principais características comuns à maioria dos equipamentos, e que dificultam sua eventual reciclagem são: a grande diversidade de materiais presentes em um mesmo produto e a utilização massiva de substâncias químicas consideradas perigosas”.

Citando o Banco de Informações toxicológicas da ATSDR – Agency for Toxicy Substances and Disease Registry, Angela destaca que o cádmio, por exemplo, danifica os pulmões, podendo causar doença do rim, além de ser considerado carcinogênico. Já o chumbo apresenta efeito cumulativo no ambiente e produz elevados efeitos tóxicos e crônicos em plantas, animais e microrganismos. Nos seres humanos pode levar a danos nos sistemas nervoso e endócrino, além de interferir em processos genéticos causando câncer.

No entanto, a especialista enfatiza que é necessária uma reflexão mais ampla sobre a questão desses tipos de resíduo e “não somente do ponto de vista de seus resíduos e de seu potencial de contaminação na etapa pós-consumo”. Ela destaca: “Devemos começar nos questionando a alta taxa de descartabilidade, os motivos que nos levam a gerar tanto lixo dessa natureza: Serão os apelos do marketing? Será a inviabilidade do conserto? Será a obsolescência tecnológica?”.


 

 

 

 

 

Crédito foto: Cecília Bastos
Antônio de Castro Bruni explica que um dos objetivos do Projeto TI – Verde, desenvolvido pela Cetesb, é fomentar programas de inclusão digital


Segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a venda de desktops e notebooks será de mais de 11 milhões em 2008, 17% acima quando comparada a 2007. Antonio de Castro Bruni, gerente do setor de suporte tecnológico da Cetesb, ainda reflete: “Começamos a observar que o avanço tecnológico está com o ciclo cada vez menor, ou seja, a geração de resíduos tem uma tendência a ser maior”. Outra questão abordada por Bruni e que tem gerado impacto é a implementação da TV digital. Isso porque o conversor é caro, incentivando as pessoas a adquirirem um outro aparelho.

Nesse contexto, a Cetesb, como órgão responsável pela qualidade ambiental e detentora de conhecimento técnico na área de tratamento de resíduos, elaborou o Projeto TI-Verde, que visa apontar o caminho ambientalmente correto de se equacionar o problema.  Segundo Bruni, uma das principais preocupações do plano é inibir o crescimento de uma indústria de sucatas eletrônicas. Salienta: “Isso porque essas empresas geralmente exploram uma mão-de-obra sem qualificação, além de não terem responsabilidade nenhuma em relação ao meio ambiente”.

Ele ainda enfatiza que uma das propostas é licenciar e fiscalizar as empresas aptas a fazer a reciclagem. “Na preparação do TI-Verde ,levantamos que dentro do estado de São Paulo já existem cerca de 457 empresas que fazem reciclagem com competência técnica para extrair metais”, afirma Bruni. No perfil dessas empresas devem constar licença de instalação e operação da Cetesb, registro no Ibama e um ano ou mais de funcionamento.

O fomento a iniciativas de Inclusão Digital também faz de parte do TI-Verde. Em 2007, foram recolhidos 700 computadores do setor tecnológico da Cetesb. Desse montante, 100 não apresentam condições de uso; de outros 450 foram retirados alguns componentes para melhorar as condições de 150 que possuem perfil de hardware para serem usados em planos de inclusão digital. Todos esses equipamentos devem ser repassados ao Fundo Social, que, orientado pela Cetesb, os direcionará adequadamente.



Repassar o conhecimento à população e suscitar sua conscientização também são de extrema importância. Bruni revela que mais ou menos 50% dos microcomputadores brasileiros são de uso doméstico, sendo necessário que as pessoas saibam como proceder em relação ao lixo eletrônico. O plano também prevê que os correios possam fazer parte da estratégia de recolha desses materiais. Assim, qualquer pessoa poderá se dirigir ao correio e levar seus equipamentos. O papel da Cetesb seria colocar os correios em contato com as empresas mais adequadas a receber esse lixo.

 
 
 
 
 
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