por Talita Abrantes
fotos por Cecília Bastos

 



Projeto do Museu de Anatomia Humana apresenta a estudantes do ensino fundamental ao superior as conseqüências do cigarro para o organismo

Eles ainda nem entraram na adolescência, mas já estão dando seus primeiros passos em direção ao vício. Em pesquisa feita em escolas de São Paulo, o pneumopediatra do Hospital Universitário João Paulo Becker Lotufo constatou que 5% das crianças entre 7 e 10 anos já deram uma tragada em um cigarro. Daquelas que estão na faixa etária de 11 aos 14 anos, 20% experimentou e 5% já fumou um cigarro inteiro. "Dos 15 aos 19 anos acontece o pulo-do-gato – 20% a 30% dos adolescentes iniciam-se no tabagismo", calcula o médico.

"Cansado" de tratar adultos fumantes, como ele mesmo diz, Lotufo decidiu mirar na prevenção da dependência de nicotina. Em parceria com o Museu de Anatomia Humana (MAH), ligado ao Instituto de Ciências Biomédicas, o pneumopediatra coordena uma campanha antitabagista para alunos dos ensino fundamental ao superior. "Os estudantes têm que saber que a dependência da nicotina é real", opina. "De cada três pessoas que começam a brincar de fumar, uma vai fumar para o resto da vida."

O projeto, financiado por um programa de Políticas Públicas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), promoveu durante todo o mês de agosto cinco sessões diárias para grupos escolares com palestras e visitas ao acervo específico de peças anatômicas humanas afetadas pelo tabaco. Em uma segunda ocasião, os estudantes assistiram a uma peça de teatro encenada pela equipe Doutores da Saúde e participaram de um concurso de cartazes sobre o tema. Estima-se que cerca de 3 mil alunos do ensino fundamental à graduação tenham passado pelo projeto.

 

Foto crédito: Cecília Bastos
"A cada três pessoas que começam a brincar de fumar, uma vai fumar para o resto da vida", afirma o pneumopediatra do Hospital Universitário, João Paulo Becker Lotufo

 

 

 

 

Foto crédito: Cecília Bastos
Para Maria Cristina dos Santos Faustino, especialista em museologia do Museu de Anatomia Humana, o uso de peças anatômicas afetadas pelo tabaco durante a campanha pode influenciar a postura das crianças frente ao cigarro

 

 


De acordo com Maria Cristina dos Santos Faustino, especialista em museologia do MAH, a idéia é analisar os efeitos deste tipo de campanha na concepção dos estudantes sobre o fumo. "Um dos intuitos é fazer com que a criança, ao saber quais são os males do tabaco, estimule seus familiares a parar de fumar, enquanto ela mesma se sentirá sensibilizada a não experimentar o fumo", explica.

Lucas, de 13 anos, aluno do Colégio Universitário de Alphavile, entrou para este grupo. "Quando você está com seus amigos muda muita coisa. Os moleques já me ofereceram cigarro, mas eu disse que não", conta. "Minha mãe fuma e falo para ela não fumar. Se eu experimentar, que exemplo vou dar para ela?" Ana Carolina, da mesma turma de Lucas, também diz não gostar do vício da mãe. "O cheiro é insuportável e eu já tive um avô que infartou por causa do cigarro. Por isso, não gosto mesmo", assegura.  Dona do melhor cartaz sobre tabagismo da escola, a menina diz se orgulhar por nunca ter experimentado. "Conheço muita menina da minha idade que tem sérios problemas com cigarro."

Ver de perto os danos que a nicotina causa ao corpo humano pode, na opinião de Maria Cristina, influenciar a postura das crianças pelo resto de suas vidas.  "Elas nunca mais se esquecerão o que é um pulmão, onde ele está e as conseqüências que o fumo traz para este órgão", acredita. Segundo a especialista, a idéia é dar subsídios aos professores para que eles continuem o trabalho. "Pretendemos enviar periodicamente um jornal para as escolas sobre o tema e, assim, deixar um núcleo na escola", planeja Lotufo.

Se os resultados forem positivos, o grupo irá pleitear  investimento da Fapesp para expansão do programa. Com isso, no próximo ano, há a possibilidade de juntar ao projeto uma campanha antiálcool, e, posteriormente, um trabalho contra a gravidez precoce. "Estas três coisas ocorrem ao mesmo tempo. É nesta faixa etária que o pessoal está começando a fumar, beber e a ter relações sexuais irresponsáveis", admite o pneumopediatra. De acordo com ele, houve uma época que 10% dos partos feitos no HU eram de meninas abaixo de 14 anos.

 

 


 
 
 
 
A Espaço Aberto é uma publicação mensal da Universidade de São Paulo produzida pela CCS - Coordenadoria de Comunicação Social.
Todos os direitos reservados®
e.mail: espaber@usp.br