por Maria Clara Matos
Fotos por Cecília Bastos e Francisco Emolo

Foto crédito: Cecília Bastos

Foto crédito: Cecília Bastos

 

 

 

 


Com mais de cem anos de existência, o Museu Paulista revela em seu subsolo particularidades do cotidiano dos séculos 18 e 19

Talvez não fosse o objetivo dos políticos, nem dos empresários ligados a D. Pedro II quando pensaram em criar o Monumento à Independência, para marcar o lugar onde teria sido proclamada nossa liberdade em relação ao governo luso. Porém, mais de cem anos depois, o local abriga o mais antigo museu de São Paulo e um dos mais visitados do país. O Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, foi inaugurado em 1895 e hoje possui acervo grandioso com cerca de 70 mil volumes e sua biblioteca, 40 mil fotografias dentre outros milhares de itens. Uma das atrações do museu é seu subsolo, atualmente aberto à visitação.

As instalações subterrâneas do museu foram abertas à visitação em 1997 e abrigam o que Cecília Helena Salles de Oliveira, atual diretora do Museu Paulista, chama de “exposições tópicas”, ou seja, pequenas mostras de acervos que quase nunca estão na área mais conhecida do museu. Atualmente é possível visitar a “Exposição: Tropas e Tropeiros” e ver esporas e estribos dos séculos 18 e 19, malas de viagens, pinturas com imagens de pousos e tropas.

A mesma área também guarda tesouros da época da mineração como instrumentos e pinturas. Há ainda local reservado a peças de iluminação e mobiliário que traz pinturas, móveis, louças dos séculos 18 e 19. Uma sala em especial chama a atenção, a que contém uma coleção de ferros de passar. Os tijolos à mostra revelam a centenária estrutura do edifício.


 

Foto crédito: Francisco Emolo
Cecília Helena Salles de Oliveira destaca que a área do subsolo tem dois objetivos: “um deles, mostrar os nichos e acervos que quase nunca estão nas áreas mais conhecidas do museu e outro, mostrar a parte interna do edifício, que do ponto de vista arquitetônico é absolutamente singular”

 

 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
A sala que apresenta a coleção de ferros do museu a chama atenção, uma vez que os tijolos à mostra revelam a centenária estrutura do edifício


Cecília explica que um dos objetivos de abrir o subsolo à visitação é fazer com que as pessoas possam conhecer um pouco da estrutura interna do prédio, que ela considera “absolutamente singular do ponto de vista arquitetônico”. “Ele foi construído à base de tijolo e argamassa que leva em sua composição ripinhas de palmeiras da região do Ipiranga”, destaca a historiadora. Do subsolo é possível observar a sustentação feita em arcos. A diretora ainda esclarece que as abóbadas do teto de todo o edifício foram construídas somente com tijolo, sem ferro ou concreto, que ainda não existia na época. Daí sua estrutura rica e original.

À medida que o museu foi crescendo, cada um dos diretores foi abrindo uma parte do subsolo para ocupar com salas, laboratórios e móveis. Cecília enfatiza que o prédio foi criado para ser um monumento e não para abrigar uma instituição pública. Ela conta que o espaço não possuía nem mesmo eletricidade ou banheiros, porque as pessoas o visitavam durante o dia e logo iam embora. Muitas intervenções foram realizadas para que o museu pudesse crescer, receber mais visitantes, além de peças e doações.

Hoje em dia, o museu é visitado por um público de cerca de 450 mil pessoas por ano, chegando a receber 5 mil pessoas por dia. Visando a ampliar as áreas expositivas e adequar suas reservas técnicas, em 2006 foi proposto um projeto preliminar de ampliação. Este foi aprovado recentemente pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e pelo Conpresp (Conselho do Patrimônio Histórico de São Paulo) e está em processo de estudo para futura execução.

A diretora Cecília esclarece que o objetivo principal é criar um anexo que possibilite a melhor adaptação dos espaços internos do museu. Ela revela ainda que a idéia é transformar o edifício atual em área totalmente expositiva e construir um prédio para concentrar as áreas administrativas e salas de aula.

O projeto de ampliação foi assinado pelos arquitetos Eduardo Colonelli e Silvio Oskman, do Escritório Paulistano de Arquitetura. Segundo Oskman o grande desafio é poder realizar o previsto, respeitando a arquitetura do prédio, projetado entre 1885 e 1890 por Tommaso Gaudenzio.


 

Foto crédito: Francisco Emolo
Atualmente é possível visitar a Exposição: “Tropas e Tropeiros” e ver esporas e estribos dos séculos 18 e 19, malas de viagens, pinturas com imagens de pousos e tropas. Além de instrumentos da época da mineração, peças de iluminação e mobiliário

 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
Recentemente foi aprovado um projeto preliminar para a expansão do Museu do Ipiranga. Ele prevê a criação de um prédio administrativo, no Parque da Independência, que seria interligado ao edifício original por uma galeria subterrânea


A planta prevê a criação do prédio administrativo no Parque da Independência que fica atrás do museu, que seria interligado ao edifício original por uma galeria subterrânea. Esse subsolo abrigaria uma grande área para exposições, além de área de descanso e banheiros para o conforto do público. Além disso, uma das propostas é a construção de dois elevadores panorâmicos, que seriam instalados em torres laterais ao edifício tradicional, facilitando a visitação de deficientes e pessoas com dificuldades.

Heloísa Barbuy, vice-diretora do Museu Paulista, conta que com a reforma, a área do museu irá quadruplicar, passando dos cerca de 6 mil metros quadrados atuais, para 24 mil metros construídos.

No entanto, a diretora do museu chama atenção para o fato de que o projeto apresentado é apenas uma proposta de viabilidade, e que é necessário que se faça a prospecção do solo e estudos para definir aquilo que será o projeto executivo propriamente dito. Ela ainda ressalta que as negociações são complexas, uma vez que a área do Parque da Independência não pertence à USP, mas à Prefeitura da cidade de São Paulo. “O governo do estado deu autorização para que se faça a prospecção, mas é apenas uma preliminar” enfatiza a diretora.

Iniciativa que corre paralela ao projeto de expansão do museu e que a diretora considera fundamental é a de restauração e preservação do edifício centenário. Os estudos para a restauração já estão sendo realizados pela  Coordenadoria do Espaço físico da Universidade de São Paulo (Coesf/ USP). Assim, a conservação e expansão do espaço museológico é complexo e envolve “um leque de ações”.

Museu Paulista
Local: parque da Independência, s/nº – Ipiranga – São Paulo
Horário: terça a domingo, das 9h às 17hs
Ingressos: R$ 4,00 (inteira); R$ 2,00 (meia). Entrada gratuita no primeiro e terceiro domingo do mês e para menores de 6 anos e maiores de 60 anos
Fone: (11) 2065-8000

 

 
 
 
 
 
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