Por Maria Clara Matos
Fotos por Cecília Bastos e arquivo pessoal

Arte sobre foto de Cecília Bastos e arquivo pessoal


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Foto: arquivo pessoal
José Luís de Aquino e Ângelo Camin inaugurando o órgão do Instituto de Artes da Unesp, em 1982


O organista José Luís de Aquino se apresentou este ano na Catedral de Notre Dame, em Paris, coroando uma carreira de muito sucesso e dedicação

Para Platão, a música é o meio mais importante do que qualquer outro, porque o ritmo e a harmonia têm sua sede na alma. Para Nietzsche, a vida sem música não teria sentido. Conhecer a trajetória de José Luís de Aquino e ouvi-lo tocar é entender tais filósofos. O músico dedicou sua vida aos estudos e o conhecimento aliado ao talento nato levou-o a um virtuosismo tal que emociona e transcende ao som. Suas apresentações levam-nos a afirmar que ele toca mais do que com o coração, ou com extrema técnica, mas sim com sua alma.

Ainda muito pequeno Aquino se encantou pelo universo musical. Nascido em 1963 no bairro do Ipiranga, já arriscava acompanhar as notas musicais de sua tia que participava do Coral Baccarelli. O artista revela: “Quando eu via o coral se apresentando queria cantar junto”. Mas as influências familiares não pararam por aí; um primo violinista levou-o para conhecer a Catedral da Sé e Aquino diz lembrar-se de perguntar de onde vinha o misterioso som do órgão.

Foi na Igreja de São José que o músico recebeu a educação religiosa e onde despertou sua vontade em ser organista. Ele fala extasiado sobre o instrumento da igreja, que ele considera uma preciosidade: “De 1863, feito por um dos mais célebres construtores de órgãos da Europa, Aristide Cavaillé-Coll, de Paris”. Foi na igreja também que Aquino, com 11 anos, conheceu sua professora de piano.

 


Foto: arquivo pessoal
José Luís de Aquino ao lado da musicista e professora Gertrud Mersiovsky, em 1989

 

 

 

Foto: arquivo pessoal
Apresentação, em 22 de outubro de 2006, de Aquino no auditório Marcel Dupré, em Meudon, França


Já aos 14, o pequeno Aquino se tornou organista da Igreja Nossa Senhora do Sion e pagava sozinho seus estudos de música no Conservatório Dramático Musical de São Paulo. Em 1981, com apenas 17 anos, tornou-se organista titular do Mosteiro de São Bento. O músico conta a história emocionado.

Depois de uma entrevista com o então abade Dom Joaquim Zamith, foi conhecer o órgão que tanto ansiava. Ele conta: “Eu fiquei meio perdido na época, eram muitos registros e centenas de botões. Nunca tinha visto um órgão tão grande até então, só conhecia instrumentos menores e elétricos. Aí encontrei um registro, encontrei outro e toquei um coral de Bach sem partitura e tremendo”. No final da pequena apresentação, o abade já o convidou para acompanhar o canto gregoriano de domingo.

O organista permaneceu se apresentando no mosteiro durante 18 anos e criou o Festival Internacional São Bento de Órgão, coordenando suas primeiras cinco edições. Ainda em 1981 começou a cursar a Faculdade Santa Marcelina, onde foi fundado o primeiro curso de órgão do estado. Lá teve aula com Ângelo Camin, organista do Teatro Municipal. Aquino diz com orgulho: “Ele era uma pessoa maravilhosa a qual eu devo muito e tenho uma gratidão enorme. Foi mais do que um avô, foi um pai, um mentor musical e de vida, aprendi muito com ele e tenho muitas saudades”.

Camin, já em idade avançada, sofria de mal de Parkinson e muitos dos concertos para os quais era convidado não podia comparecer e acabava indicando Aquino. Pessoas especiais são característica constante na vida do músico e após Camin foi a vez da professora e musicista Gertrud Mersiovsky passar seu conhecimento. Sob sua orientação Aquino realizou seu mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Isso possibilitou prestar o concurso para docente da Unesp. Assim, em 1987, com 23 anos, inaugurou o curso de órgão da universidade, onde permaneceu por 15 anos lecionando. “Depois de todo esse tempo, eu já estava querendo mudar e aí surgiu a possibilidade de fazer concurso na USP; entrei como professor de música de câmara, mas sempre pretendendo abrir o curso de órgão”, conta o atual professor do Departamento de Música da USP. Em Paris, o musicista aperfeiçoou-se com a organista Suzanne Chaisemartin.


Foto: arquivo pessoal
Aquino apresentou-se em 13 de julho de 2008 na Catedral de Notre Dame, em Paris. O organista é o segundo brasileiro a tocar na catedral, o primeiro foi Alberto Nepomuceno no início do século 20

 

Ouça aqui a peça Hymne au Soleil op. 53, de L. Vierne, tocada por José Luís de Aquino


Outro trabalho de importância revelado pelo musicista de 1996 a 2002, foi a apresentação, na Rádio Cultura FM de São Paulo, do programa “Toccata”, dedicado ao repertório organístico. Esteve à frente também do programa "Escrita Musical e Improvisação" na Rádio USP FM ao longo de cinco anos.

Apresentações marcantes? O músico e professor já tocou em diversos países como França, Israel, Alemanha, Itália, Espanha, entre outros, mas hesita em responder. Para ele, escolher é muito difícil e justifica: “Cada órgão possui características particulares. Então se deve procurar o repertório adequado para cada um deles. Mesmo que sejam iguais vão soar diferente de uma sala para a outra. Essa riqueza é uma grande motivação para o organista”.

Quando se trata da Catedral de Notre Dame, emoção não falta. “Foi uma honra poder sentar ali onde tantos nomes e compositores atuaram, além de ter sido um espaço que foi uma grande escola de música no século 12”, enfatiza Aquino. Ele revela que sempre procura fazer uma turnê por ano, o que o motiva e o insere no circuito internacional. O organista já havia sido convidado em 2000 para se apresentar na catedral, mas infelizmente não foi possível. Em 2007, após sua turnê pela França e visita a Olivier Latry, organista da Catedral de Notre Dame, foi convidado novamente para se apresentar em 2008.

Frente a essa trajetória de sucesso e seu encanto precoce em relação à música, a jornalista pergunta ao músico: “O senhor acredita em destino?”. Silêncio. Ele responde: “Eu acredito nos desígnios superiores. Mas creio que se não houver uma parcela importante de empenho, nossos objetivos não se realizam. Nada cai do céu pela sorte ou pelo destino. A gente é quem busca e constrói nosso futuro”.

Para ouvir a música em mp3, você precisa do Windows Media Player ou outro software de reprodução de áudio. Caso não consiga ouvi-la ao clicar em seu nome, baixe o Windows Media Player aqui.


 

 


 
 
 
 
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