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Perfil
Por Talita Abrantes
Fotos por Francisco Emolo

 

 

 




Convidado a trabalhar no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) na década de 70, a vida de Oliveira novamente mudou de rumo. Lá se dedicou a dirigir a Revista Novos Estudos Cebrap. No entanto, o governo militar desconfiava do ajuntamento de intelectuais. “Para eles, o centro era um biombo atrás do qual se escondiam atividades políticas. O que não era verdade”, pontua. Em 1974, segundo o sociólogo, todos funcionários do Cebrap foram chamados a depor na Operação Bandeirantes. “Fomos obrigados a colocar capuz e fazer declarações de que éramos bons moços”, ironiza.

Meses depois, foi a vez do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Dops) enquadrar Oliveira. “Eles procuravam pêlo em ovo. Identificaram-me como membro de um grupo sei lá qual, e me prenderam”, narra. “Aí torturaram para valer. Passei pelo pau-de-arara, fios ligados nos dedos, cadeira do dragão. Quando você tem 40 anos ainda dá para agüentar.” Tanto que, ao sair do Dops, o professor entrou no primeiro boteco ao lado da Estação da Luz para tomar uma cerveja. “Tem que levar a vida para frente, não baixar a cabeça.”

A partir da década de 80, Oliveira e outros pesquisadores do Cebrap começaram a se aproximar do movimento sindical da região do ABC e São Bernardo do Campo. Nessa época, o pesquisador conheceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele botava uma garrafa de cachaça na nossa frente. Era menos para beber e mais para desafiar”, conta. Confiante na força dos movimentos populares para desmanchar a herança da ditadura, em 10 de fevereiro de 1980, o sociólogo assinou com outras 2 mil pessoas o manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).

Apesar disso, nunca participou de máquina partidária. “Tenho alergia a isso”, resume. Mesmo assim, foi militante ativo no PT. “Com uma jornalista da Veja, arranquei do Lula aquela declaração de apoio à candidatura de Fernando Henrique Cardoso ao Senado em 1982, por exemplo”, admite.

Em 1988 foi convidado a ingressar na pós-graduação da Universidade de São Paulo. Terminou o doutorado e prestou o concurso para professor titular da USP em 1992. Sete anos depois, se aposentou, mas continuou dando aulas na pós-graduação. No último 28 de agosto, recebeu o título de Professor Emérito da Universidade.

Após sair do PT, o professor contribuiu para a fundação do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) em 2004. “É preciso ter uma crítica pela esquerda ao PT, esta é a função do PSOL”, explica. Mesmo assim, ele prevê um futuro sombrio para o Brasil. “É só olhar para São Paulo. Isso é um assentamento de gente”, observa. “Mas é preciso tentar. É um trabalho permanente. Como se estivesse levando uma pedra até o cume de uma montanha: Você sobe com a pedra até lá em cima. Ela rola para baixo, você volta de novo.”

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