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Transporte urbano se avalia assim
Aluno de São Carlos desenvolve metodologia mais abrangente e confiável de avaliaçãodos serviços de ônibus, como subsídio para prefeituras

Antonio Carlos Quinto, da Agência USP


As pesquisas de opinião sobre a qualidade do transporte urbano, em geral, não refletem a realidade. Isso porque a metodologia é simples e leva em conta a opinião da uma população de maneira generalizada definindo conceitos do tipo ótimo, bom, ruim, regular ou péssimo. Contudo, esses estudos não fornecem subsídios capazes para que as administrações possam implementar ações no sentido de melhorar a qualidade do transporte urbano. Na Escola de Engenharia da USP de São Carlos (EESC), um estudo mostra que é possível se utilizar de um novo método para esse tipo de pesquisa, mais abrangente e que informa as necessidades dos usuários do transporte urbano com mais exatidão.

Em sua dissertação de mestrado intitulada "Contribuição à avaliação de transporte urbano por ônibus", orientada pelo professor José Bernardes Felex, do Departamento de Engenharia de Transportes da EESC, o engenheiro Arthur Alberto Azevedo Ribeiro Neto analisou o transporte feito por ônibus na região urbana de Piracicaba em três etapas: a caminhada do passageiro até o ponto ou terminal, a espera pelo veículo e a viagem por ônibus. "O objetivo principal foi captar os sentimentos e sensações do passageiro durante uma viagem por ônibus. Em geral, as administrações buscam a melhoria da qualidade, tentando atender às reclamações feitas pelos usuários", conta. Em seu estudo, Azevedo observou 44 características de qualidade, como o sistema integrado, a pavimentação, a limpeza dos veículos e terminais, a distância da residência dos usuários até os pontos ou terminais, entre outras.

Piracicaba é servida por sete empresas de ônibus que transportam, em média, 28 milhões de passageiros por ano. Pelos cinco terminais da cidade circula uma frota composta de 215 ônibus. As empresas que servem o município não têm a concorrência dos transportes alternativos, como ocorre em várias cidades do Estado. O trabalho de pesquisa teve início em novembro de 2000, quando Azevedo ouviu durante três meses 140 passageiros que opinaram nas três etapas da pesquisa.

Em boa

companhia

Os resultados da pesquisa realizada por Azevedo em Piracicaba mostraram que as intervenções imediatas para melhoria do transporte público em Piracicaba devem ser realizadas em três pontos principais: no pavimento das ruas da cidade, na lotação e na confiança do usuário em relação ao sistema.

"Numa pesquisa tradicional, o pavimento das ruas talvez nem fosse lembrado como característica que influi diretamente na qualidade da viagem", destaca. Outro fato que chama a atenção na pesquisa é que, na opinião dos entrevistados, é melhor viajar ao lado de pessoas educadas e satisfeitas do que viajar sentado. "A maioria das pesquisas avalia a educação de motoristas, cobradores e funcionários dos terminais, não considerando o comportamento dos passageiros como fator que contribui para a qualidade da viagem", lembra.

A pesquisa foi realizada com base nas normas NBR ISO séries 9.000 e 10.000 e a coleta dos dados por meio de questionários foi possível porque Azevedo atuou na Secretaria Municipal de Planejamento de Piracicaba. Os resultados de sua pesquisa mostraram que o sistema de transporte por ônibus na cidade pode ser considerado satisfatório e Azevedo pretende, em breve, manter novo contato com a administração municipal no sentido de que seu estudo possa ser utilizado em ações que visem à melhoria do sistema. "Em geral, estudos desse tipo são realizados apenas em início de gestões municipais, em média, a cada quatro anos", lembra.

Para uma cidade como São Paulo, o engenheiro garante que é perfeitamente possível que se realize um trabalho desse tipo. "Basta que se tenha mão-de-obra suficiente para realizar a pesquisa e uma grande disponibilidade de tempo", recomenda.

Mais informações: (19) 9608-8012, com o engenheiro Arthur Alberto Azevedo Ribeiro Neto; e-mail: eng.arthur@bol.com.br