|
Os
experimentos da nova exposição de matemática
da Estação Ciência ilustram conceitos como
densidade, fractais e poliedros regulares, facilitando exercícios
de abstração e raciocínio
|
A
matemática sempre teve fama de vilã entre
as disciplinas escolares. Para tentar mudar essa visão e
instigar a curiosidade de estudantes de todas as idades, a Estação
Ciência inaugurou na quarta-feira, dia 27, uma nova exposição
de matemática, com mais de 60 experimentos que, apesar de
envolverem conceitos, mais se parecem com brinquedos.
A participação ativa do visitante será
requisitada em toda a exposição. Todos os objetos
apresentados podem ser manuseados, afirma o professor Sérgio
Muniz de Oliva Filho, do Departamento de Matemática Aplicada
do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da
USP. Tanto Oliva Filho como a professora Sylvia Mandel, da Escola
Nossa Senhora das Graças, foram os responsáveis pela
curadoria da exposição.
Segundo Oliva Filho, o objetivo da exposição não
é dar aula nem ensinar conceitos matemáticos aos visitantes.
Queremos, primeiramente, que o aluno brinque com os objetos.
Caso ele se interesse e queira descobrir as razões matemáticas
daquela experiência que acabou de fazer, haverá uma
explicação sobre os conceitos, e o professor ou os
próprios monitores poderão ajudá-lo a entender.
Ocupando uma área de 230m2, a exposição de
matemática é resultado de uma parceria da USP com
o museu La Villete, de Paris. Parte dos trabalhos integrou a exposição
Maths 2000 apresentada no La Villete para celebrar
a virada do milênio , elaborada pelo professor francês
Michel Darche. Traduzimos o trabalho do museu francês,
mas todo material foi construído por profissionais brasileiros,
explica Oliva Filho. Além disso, percebemos que a Maths
2000 apresentava trabalhos com conceitos mais complexos, de
difícil compreensão por parte dos alunos do ensino
fundamental. Então resolvemos complementar a exposição
com trabalhos concebidos aqui no Brasil, voltados para um público
mais jovem, envolvendo conteúdos mais simples.
Dessa forma, o visitante vai encontrar conteúdos que vão
desde contas simples soma, subtração, multiplicação
e divisão até questões acerca de fractais,
algoritmos, ordem e caos, tudo cuidadosamente disfarçado
em jogos, brinque*dos e atividades cotidianas.
O aluno poderá se interessar por geometria espacial, por
exemplo, numa disputa de jogo-da-velha tridimensional, que poderá
ocorrer num paralelepípedo, num cilindro, numa esfera ou
num toro (que possui o formato de um pneu). Um outro trabalho engloba
engrenagens. Nessa parte, buscamos resgatar o que há
por trás do funcionamento do relógio de engrenagens,
em que tudo é mecânico e o princípio primordial
é o de proporção. São poucas as crianças
de hoje que têm essa noção, justifica
Oliva Filho.
Além de despertar no aluno o interesse pela matemática,
a exposição pretende, ainda, servir como fonte de
inspiração para os professores. Muitos experimentos
são simples e podem ser reproduzidos na sala de aula,
afirma o curador.
Para o diretor da Estação Ciência, professor
Ernst Hamburger, a exposição pretende mostrar que
o ensino da matemática pode ser bonito e prazeroso. O
aluno vai ter contato, primeiramente, com o concreto e, depois,
com a teoria. Assim, queremos tornar mais fácil o exercício
de abstração, constantemente exigido para a compreensão
da matemática, afirma o professor.
A Estação Ciência contratou dez novos monitores
em geral graduandos da área de exatas que serão
responsáveis pelas explicações da nova exposição.
Eles passaram por um treinamento, orientado pelo professor Pierre
Ricono, atual curador da Maths 2000. Segundo Hamburger,
o orçamento da exposição foi da ordem de R$
50 mil e contou com verbas da USP e da Fundação Vitae.
A produção dos objetos expostos ficou por conta da
equipe da Estação Ciência, coordenada pelo professor
Ivo Leite Filho. O marceneiro Evandro Monteiro e o arquiteto especializado
em materiais didáticos, Roberto Pompéia, também
contribuíram para a confecção das peças.
Hamburger estima que uma visita de duas horas seria ideal para explorar
toda a exposição de matemática. Precisaremos
interferir no tipo de visita atual, que tem duas horas para conhecer
toda a Estação Ciência. Vamos estudar a possibilidade
de agendar visitas exclusivas para o novo setor de matemática.
Também faz parte do novo setor o filme Arte e Matemática,
recentemente lançado pela TV Cultura.
Não é a primeira vez que brasileiros e franceses se
unem com o objetivo de contribuir para o ensino da matemática.
Em 1987, a exposição Horizontes Matemáticos,
também elaborada pelo professor Michel Darche, foi traduzida
e adaptada para a língua portuguesa pelo Centro Franco-Brasileiro
de Documentação Técnica e Científica
(Cendotec) e exibida na Escola Politécnica da USP. Posteriormente,
essa exposição foi cedida à então recém-inaugurada
Estação Ciência que facilitou sua apresentação
por diversas cidades brasileiras.
A nova exposição de matemática contará
com dois exemplares. O primeiro, inaugurado na semana passada, ficará
permanentemente na Estação Ciência. O segundo
exemplar vai circular por escolas e instituições de
ensino e de pesquisa de todo o Brasil e tem inauguração
prevista para julho deste ano. Gostaríamos de fazer
a primeira apresentação da exposição
itinerante na reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC) que, este ano, será em Goiânia,
adianta o professor Hamburger. Será a oitava exposição
itinerante da Estação Ciência.
A
Estação Ciência fica na rua Guaicurus, 1.274,
na Lapa. Horário para visitantes: de terça a sexta,
das 8h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 13h
às 18h. As visitas monitoradas devem ser agen-dadas pelos
tels.3672-5364 ou 3675-6889.
|