Equilíbrio é a palavra que melhor
traduz o desempenho orçamentário da Universidade no
ano de 2001. Boa notícia para o ano que se inicia com uma previsão
orçamentária 7% maior do que o montante efetivamente
repassado pelo Estado em 2001 e para o novo coordenador da Administração
Geral da USP, Adilson Carvalho, que assumiu o cargo em janeiro.
Embora as previsões indiquem que 2002 será um ano relativamente
favorável no que se refere à arrecadação
do ICMS, o novo coordenador é cauteloso quando o assunto é
orçamento. A instabilidade econômica pode afetar
e muito esse equilíbrio, considera.
Nesta entrevista concedida ao Jornal da USP, Adilson Carvalho e o
vice-reitor Hélio Nogueira da Cruz falam, entre outros pontos
importantes, sobre a evolução das despesas e receitas
em 2001, a previsão orçamentária para este ano,
o reajuste salarial e a Lei Kandir.
Jornal
da USP Como foi a evolução das despesas
e receitas da universidade em 2001?
Adilson Carvalho 2001 foi um ano marcado por um equilíbrio
entre despesa e receita. As liberações financeiras
à Universidade totalizaram R$ 1.273.357 mil, incluídos
os repasses decorrentes da Lei Kandir, de cerca de R$ 40.569 mil,
e o total de despesas foi de R$ 1.263.500 mil. Houve, portanto,
uma sobra de cerca R$ 9.852 mil, que na realidade não é
propriamente uma sobra, já que está comprometida com
despesas e contratações cujos pagamentos serão
realizados em 2002.
JUSP
Qual foi o comprometimento do ICMS com a folha de pagamento?
Adilson Em relação ao item de pessoal,
as despesas com a folha de pagamento mais os encargos patronais
totalizaram R$ 1.040.638 mil, o que representou 82% das liberações
financeiras do Tesouro do Estado. Da conta pessoal também
foram desembolsados R$ 4.805 mil em precatórios e R$ 59.582
mil em débitos de exercícios anteriores junto ao Ipesp.
Ao se considerar o total de despesas da conta pessoal, o comprometimento
efetivo foi de 86,8% das liberações financeiras. As
despesas de custeio e investimento totalizaram R$ 158.479 mil, ou
seja, 12,2% do repasse financeiro.
JU
Com base no comportamento do orçamento em 2001, qual
é a previsão orçamentária para o ano
de 2002?
Adilson Em 2001, a previsão orçamentária
de R$ 1.168.195 mil ficou bem abaixo do efetivamente realizado,
que fechou em R$ 1.273.356 mil. Essa diferença foi devida
principalmente ao fato de o governo do Estado ter partido de uma
previsão pessimista para o orçamento no ano passado.
Apesar disso, sem dúvida, a arrecadação do
ICMS foi favorável. O ICMS nominal de 2001, sem correção
da inflação, cresceu 10,3% em relação
ao ano 2000, acima portanto da inflação do período,
que foi de 7,1% segundo o índice Fipe. Para 2002, com base
numa inflação de 4,7% e crescimento de 3% do PIB,
a previsão é de R$ 1.364.640 mil, que corresponde
a 7% a mais do que o realizado em 2001. Não existe, pelo
menos por enquanto, nenhuma evidência que leve a prever uma
repetição da situação de 2001, até
porque, a previsão do Estado para este ano parece ser bem
mais razoável e realística. A julgar pelos sinais
positivos do desempenho da economia nacional e mundial, espera-se
que a previsão venha a se concretizar no ano, dentro de um
quadro de estabilidade econômica. Contudo, nos dois primeiros
meses, a arrecadação ficou abaixo da previsão,
o que causa uma certa apreensão.
JUSP
O que a Universidade pretende fazer para manter o equilíbrio
entre a receita e as despesas?
Adilson Fazer o que sempre se fez, isto é,
gerenciar o orçamento com bom senso. O orçamento no
ano passado foi fechado de modo equilibrado, gastando-se o que estava
previsto no orçamento. Entretanto, existem alguns aspectos
que merecem uma certa atenção. Um deles refere-se
ao contínuo crescimento da folha de pessoal que vem sendo
observado nos últimos tempos. Esse crescimento diz respeito
principalmente aos funcionários não docentes, já
que o número de docentes tem permanecido mais ou menos estável.
Em dezembro de 2000, por exemplo, o número total de funcionários
era de 13.960, em 2001 passou para 14.340 e, em janeiro deste ano,
para 14.405, por conta da efetivação de contratações
feitas em dezembro de 2001. Por enquanto, o quadro não é
alarmante, mas é um sinal amarelo, e a questão deve
ser gerenciada com cuidado para o equilíbrio da receita.
Houve um crescimento, a Universidade teve espaço para esse
crescimento, mas é importante gerenciá-lo para manter
o equilíbrio.
Outro aspecto que merece atenção diz respeito aos
inativos, cujo número vem aumentando com conseqüente
crescimento de sua participação na folha de pessoal.
No momento, a participação de inativos na folha de
pagamento situa-se no patamar de 28%.
JUSP
Com o término da vigência da Lei Kandir,
quais as conseqüências para o orçamento da Universidade?
Adilson Em decorrência da Lei Kandir, a Universidade
vem recebendo anualmente uma porcentagem do repasse que o Governo
Federal faz para o Estado para compensar a isenção
de ICMS nas exportações. Essa lei foi instituída
por um período definido de cinco anos, que terminará
no final de 2002, e não há qualquer sinalização
de que possa continuar. Portanto, a partir de 2003, a Universidade
não mais receberá esse repasse anual, cujo montante
é de cerca de R$ 40 milhões, dessa forma, terá
de se adequar a essa nova realidade. Para se ter uma idéia
de sua importância, o comprometimento da USP com folha de
pagamento em 2001, que foi de 82%, sem o repasse da Lei Kandir,
subiria para 85%.
JUSP
Como o orçamento foi afetado em razão do
remanejamento dos recursos suplementares, aprovado pela Assembléia
Legislativa, que seriam destinados ao projeto de expansão
da Universidade?
Hélio Nogueira da Cruz O projeto de expansão
do ensino superior, elaborado pelo Conselho de Reitores das Universidades
Estaduais Paulistas, o Cruesp, adotava como parâmetros de
distribuição desses recursos suplementares entre as
três Universidades os percentuais utilizados na alocação
do ICMS. Entretanto, a Assembléia Legislativa, sem ouvir
o Cruesp, alterou esses percentuais. Os intensos esforços
da USP e da Unicamp não conseguiram reverter a situação.
Vale a pena destacar que nenhuma parcela dos recursos associados
a esse projeto foi ainda transferida para a Universidade, apesar
do empenho dos reitores.
JUSP
Em relação a reajustes salariais, como fica a data-base
dos servidores docentes e não docentes em maio?
Hélio Nogueira Um aspecto importante a ser ressaltado
refere-se à alta prioridade da Universidade para a manutenção
dos salários reais, diretos e indiretos, durante este ano.
Já foi falado anteriormente sobre a preocupação
com a expansão de pessoal, mas isso não significa,
em absoluto, uma perspectiva de demissão ou redução
do quadro. Pelo contrário, a idéia é gerenciar
as contas da Universidade no sentido de equacionar os esforços
para manter os salários reais, sempre considerando obviamente
a evolução do ICMS, que responde por 96,7% dos recursos
orçamentários, e as decisões do Cruesp.
Perfil
Na Universidade desde 1975, Adilson Carvalho começou sua
carreira como professor assistente no Instituto de Geociências,
onde vem desenvolvendo suas atividades didáticas e de pesquisa
na área de Geoquímica de Superfície. Fez mestrado
na Inglaterra e o restante de sua formação acadêmica
na USP, chegando a professor titular em 1994. Fez ainda um estágio
de pós-doutoramento na França em 1978. Atualmente,
suas atividades acadêmicas estão restritas à
pós-graduação.
No Instituto de Geociências ocupou diversos cargos administrativos,
incluindo o de chefe de departamento em três mandatos, assessor
da diretoria e diretor, cargo que exerceu de 1996 a 1999. Antes
de assumir a Codage, Adilson Carvalho era assessor do então
vice-reitor, Adolpho José Melfi.
À frente da Coordenadoria de Administração
Geral, Adilson Carvalho tem como principais projetos encaminhar
a reestruturação administrativa visando a otimização
dos processos administrativos e estreitar o contato com os campi
da Universidade no interior do Estado.
Fora da rotina administrativa que toma grande parte de seu tempo,
Adilson Carvalho, que é casado, tem quatro filhas e dois
netos, e passa regularmente os fins de semana em Atibaia, sua terra
natal.
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