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A
Orquestra de Câmara da USP, que existe há seis
anos, abre sua temporada 2002, com mais de 40 apresentações
previstas.
Os concertos acontecem no Anfiteatro Camargo Guarnieri, no Theatro
São Pedro e também em escolas e hospitais |
A
música
de Debussy, Max Bruch e Mozart tomou, no último dia 22, o
Anfiteatro Camargo Guarnieri quando a Orquestra de Câmara
da USP - Ocam abriu sua temporada de concertos 2002. No repertório,
a opção continuou sendo pelos grandes nomes da música
erudita, mas a apresentação, primeira de um calendário
que prevê mais de 40 até o final deste ano, inaugurou
uma nova fase para a orquestra. Uma parceria firmada com o grupo
Santander/Banespa garantirá à Ocam uma verba de 200
mil reais com a qual se pretende criar uma infra-estrutura institucional
e administrativa, até então precária.
Com 200 mil reais não é possível fazer
da Ocam uma das orquestras mais importantes do País, mas
esse dinheiro pode garantir a excelência do seu projeto,
explica o seu regente e diretor artístico, o maestro Gil
Jardim. Criada em 1996 pelo maestro Olivier Toni, hoje seu maestro
adjunto, a orquestra sempre esteve ligada ao Departamento de Música
da Escola de Comunicações e Artes (ECA), com a intenção
de ser uma orquestra-laboratório. O patrocínio da
iniciativa privada viria, então, para reforçar essa
vocação de formação de jovens músicos.
O seu corpo sinfônico, de 35 músicos, é formado
por alunos do curso de extensão universitária e de
graduação do Departamento de Música e todos
recebem bolsas de incentivo das Pró-Reitorias de Graduação
e de Cultura e Extensão Universitária. O projeto
de orquestra dentro da USP tem que necessariamente frisar a vocação
da própria Universidade, que é a de formar seus alunos,
afirma Jardim evocando o exemplo da Orquestra Sinfônica do
Estado de São Paulo -Osesp. Reformulada nos últimos
anos por seu regente, o maestro Jonh Neschiling, a Osesp atingiu
um alto nível de qualidade musical. Isso teria sido feito,
no entanto, com a presença maciça de estrangeiros,
eles seriam mais de 60%, dos músicos da orquestra. Há
mérito nisso, a Osesp tornou-se uma referência, por
outro lado, é preciso formar no País músicos
que possam tocar e atingir o mesmo grau de qualidade.
Na orquestra-laboratório não existe cadeira fixa.
Todo ano, no mês de fevereiro, ela é reciclada e suas
35 vagas são colocadas à disposição.
Em 2002, 15 membros foram trocados, selecionados entre os mais de
200 inscritos. Sabendo que serão substituídos se houver
um melhor, os alunos se esforçariam ainda mais. Tudo isso,
segundo o maestro, sem criar um ambiente de competição.
Os ensaios são muito proveitosos e não se perde
nunca de vista a idéia de que se trata de um ambiente pedagógico,
de que se está em uma escola. A questão da formação
dos músicos norteia também a escolha do repertório.
Cada peça selecionada deve significar um novo desafio para
os instrumentistas mas também abrir espaços para os
solistas do departamento, tanto de cordas quanto de sopros, e também
para seus regentes e compositores. Este ano, será apresentada
composição de Mário Ficarelli, que é
chefe do Departamento de Música.
Apesar de ser chamada orquestra de câmara, com 35 membros
a Ocam já pode ser considerada uma sinfonieta . Mas, mesmo
tendo crescido quando foi fundada tinha apenas 18 integrantes
seu tamanho ainda limita o repertório. Com uma seção
de cordas de tamanho modesto, dois trompetes e duas trompas não
se pode tocar qualquer coisa. Segundo o maestro, o destaque deste
novo repertório são os solistas convidados, entre
eles, José Eduardo Martins, que apresentará peça
inédita de Henrique Oswald para piano e cordas. Nos meses
de outubro e novembro, dois concursos nacionais, um de piano e outro
de violino estão previstos. Nos planos da Ocam estão
ainda as montagens de uma ópera e de um balé para
o final do ano.
Novos
rumos
Além
de abrir possibilidades profissionais para jovens músicos,
o maestro Gil Jardim quer também formar um novo público
para a música erudita.
Além dos espaços tradicionais dos teatros e salas
de concertos, a Orquestra de Câmara deve tocar também
em escolas, entidades filantrópicas e hospitais. Muitas
vezes não temos nem sequer músicos para tocar, quanto
mais público. A formação de novas platéias
é a premissa de qualquer orquestra que tenha os pés
no chão. Já estão programados concertos
no Parque do Ibirapuera, na Faculdade Paulista de Medicina e nos
Hospitais Menino Jesus e das Clínicas.
O maestro, que já regeu algumas das mais importantes orquestras
internacionais como a Camerata Mexicana e a Royal Philarmonic Orchestra
de Londres, em grandes salas de concertos, fez sua primeira apresentação
à frente da Ocam na Casa do Zezinho, uma instituição
de referência no trabalho com crianças carentes do
Campo Limpo. Na região, que é uma das mais pobres
e violentas da cidade, não há centros culturais ou
teatros. Trata-se de um trabalho de responsabilidade social.
Resolvemos plantar aquilo que queremos colher. Para o maestro,
a banalização dos meios de comunicação
e a inércia do Estado fecharam os espaços para música
erudita e também para música popular de boa qualidade.
É errado dizer que o governo não tem política
cultural, ele tem, mas é uma política que favorece
a Xuxa, o Ratinho, o Gugu e não trabalhos sérios.
No Brasil, em que as leis de incentivo privilegiam o evento, efêmero
e não os projetos de fomento à cultura, o Estado teria
transferido sua responsabilidade pela política cultural para
as empresas. Quem define o que é cultura neste país
é a empresa, que muitas vezes não está apta
a fazer esse tipo de julgamento e tem um interesse muito imediato.
Nesse sentido, explica o maestro, seria pioneiro o apoio do Santander/Banespa,
já que se trata de uma doação para o fomento
de um projeto cultural, em que o dinheiro é todo gerenciado
pela própria orquestra. Se trata de trazer o povo até
a arte, e esse problema é muito mais político do que
de capacitação cultural da sociedade.
ORQUESTRA
DE CÂMARA DA USP
Próximos
Concertos
ABRIL
Programa:
J.S.Bach-Concerto Brandemburgues nº3, BWV 1048
W. A. Mozart-Concerto p/ Fagote e Orquestra em Sib Maior - KV 191
-
Solista: Mariana Bergsten
L.V. Beethoven-Sinfonia nº8, Fa Maior, Op,93
Regência: Olivier Toni
Dia 12, às 20h, no Anfiteatro Camargo Guarnieri
Dia 14, às 11h, no Theatro São Pedro
MAIO
Programa:
Igor Stravinsky-Dumbarton Oaks
H. Villa-Lobos-Sinfonieta nº1
Regência: Gil Jardim
Dia
3, às 20h, no Anfiteatro Camargo Guarnieri
Dia 5, às 11h, no Theatro São Pedro.
Dia 7, às 10h30, no Instituto da Criança do Hospital
das Clínicas
Programa
especial:
Semana da Música Barroca
J.S.Bach-Concerto para Cravo e cordas
A. Vivaldi-Concerto em Sol menor F.XII nº 3
Telemann-Abertura em Dó Maior Música Aquática
J. Haydn-Sinfonia nº 101 em Ré M, O Relógio
Regência: Ricardo Kanji
Assistência: Tereza Cristina & Mônica Lucas
Dia
24, às 20h, no Anfiteatro Camargo Guarnieri e em mais outros
dois locais a definir.
Anfiteatro
Camargo Guarnieri - Rua do Anfiteatro, 109 - Cidade Universitária
Theatro São Pedro - Rua Barra Funda, 171 - Barra Funda -
Entrada franca
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