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Assinatura
do protocolo de intenções: ensino a distância
nas áreas de português, matemática e ciências |
A USP
dará, neste ano, mais uma efetiva contribuição
em favor do ensino médio paulista. De acordo com um protocolo
de intenções firmado no dia 4 de abril com a Secretaria
de Estado da Educação, a Universidade vai treinar cerca
de 2 mil professores da rede pública, ligados às áreas
de português, matemática e ciências (química,
física e biologia). As aulas ministradas por professores
da USP nos meses de agosto, setembro e outubro serão
dadas a distância, através de mídias interativas.
Haverá também aulas presenciais, que reunirão
todos os participantes em dois finais de semana, a fim de discutir
temas voltados à gestão escolar. No total, a capacitação
terá carga horária de, no mínimo, 72 horas. A
USP sempre apoiou o ensino médio, mas nem sempre de forma sistemática,
afirma a pró-reitora de Graduação da USP, professora
Sonia Teresinha de Sousa Penin. Queremos agora institucionalizar
esse apoio, torná-lo um canal permanente entre a Universidade
e o ensino médio, diz, lembrando que a experiência
poderá se repetir a cada ano, segundo as necessidades da Secretaria
da Educação.
O custo do projeto está orçado em R$ 4 milhões,
fornecidos pela secretaria. Desse total, R$ 3,5 milhões serão
dedicados à capacitação dos professores e R$
500 mil vão ser usados para que a USP faça uma avaliação
de livros e materiais paradidáticos entre mil títulos
selecionados pela secretaria , a fim de disponibilizar equipamentos
de qualidade para os docentes usarem em suas aulas. Está prevista
também a organização de uma biblioteca especializada
em questões ligadas à metodologia e ao conteúdo
da ação pedagógica. A capacitação
propriamente dita e a avaliação dos materiais paradidáticos
estarão intimamente articuladas, destaca Sonia. A
avaliação será feita em maio, para que os materiais
estejam à disposição em agosto, quando começará
a capacitação. O acordo entre a USP e a Secretaria
da Educação visa a aperfeiçoar os chamados professores
PEB II os docentes com curso de graduação na
disciplina que lecionam, aptos a ensinar alunos do ensino médio
e de 5ª a 8ª série do ensino fundamental.
Segundo a pró-reitora, cerca de 50 docentes da USP participarão
do projeto. Ligados às unidades que formam professores
como o Instituto de Biociências, o Instituto de Física
e a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, por exemplo
, esses docentes ministrarão suas aulas a partir do estúdio
de geração de videoconferências instalado na Faculdade
de Educação. Sonia pretende instalar outros três
estúdios nos campi de Ribeirão Preto, Piracicaba e São
Carlos, a fim de que docentes desses locais não precisem se
deslocar até São Paulo.
Do outro lado do vídeo, assistindo às aulas em salas
de recepção de videoconferências que a secretaria
já mantém em todo o Estado, estarão os 2 mil
professores da rede pública. Eles serão divididos em
turmas de 40 pessoas, que a cada semana deverão dedicar ao
projeto um ou dois períodos de quatro horas. Nas aulas, mais
do que apenas informações sobre suas disciplinas, receberão
sugestões sobre metodologia e recursos didáticos. Falando
simultaneamente com quatro turmas, o docente da USP poderá
interagir com os professores, que terão a possibilidade de
fazer perguntas e comentários.
Museus
e teatro
Já
as aulas presenciais serão realizadas em dois fins de semana,
em local ainda a ser determinado provavelmente um hotel do
interior paulista com infra-estrutura suficiente para abrigar 2
mil pessoas. O primeiro encontro se dará no início
do projeto, em agosto, e o segundo, a partir da segunda quinzena
de setembro. A idéia é reunir os professores para
que, em debates interdisciplinares, discutam a gestão da
escola. Freqüentemente, o desempenho do aluno não
depende apenas da qualidade da aula que o professor dá, mas
de todo o projeto de escola em que ele está inserido,
lembra Sonia. Esses encontros de professores serão
fundamentais para a formulação de projetos que promovam
um ensino adequado à realidade de cada escola. A pró-reitora
pretende também patrocinar a vinda dos professores à
Cidade Universitária, em São Paulo, para que visitem
museus, assistam a uma peça de teatro e conheçam laboratórios.
Para ela, esse contato será muito enriquecedor
e fornecerá mais subsídios às suas
aulas.
Os professores PEB II do ensino público paulista interessados
em participar do projeto poderão fazer sua inscrição
em junho, segundo planeja Sonia. Em julho ela pretende definir as
turmas e os locais onde elas assistirão às videoconferências,
que terão início em agosto. Esse será, de acordo
com a pró-reitora, o primeiro passo para a USP atingir todo
o ensino médio paulista, que reúne mais de mil escolas
espalhadas pelo Estado. O nosso compromisso é melhorar
a qualidade do ensino da escola pública e, dessa forma, aumentar
as chances de os alunos dessa escola passarem no vestibular da Fuvest
o que infelizmente não acontece hoje. A cerimônia
de assinatura do protocolo de intenções, realizada
na Secretaria da Educação no dia 4, teve a presença
da então secretária de Educação do Estado,
Rose Neubauer, e do reitor da USP, Adolpho José Melfi.
Treinamento
é urgente
O acordo
entre a USP e a Secretaria da Educação foi bem recebido
por uma profissional que milita no ensino médio ouvida pelo
Jornal da USP, a professora Suria Oide, coordenadora da Escola Estadual
Marechal Juarez Távora, localizada no bairro Campestre, em
Santo André, na Grande São Paulo. Para ela, a reciclagem
de professores é imprescindível e urgente.
Segundo Suria, o projeto de reciclagem de professores será
importante para ensinar novas metodologias de ensino. Essa é
a nossa maior necessidade, porque muitos professores insistem no ensino
tradicional, aquele baseado na lousa e no giz, diz. Eles
não precisam de reciclagem quanto ao conteúdo, que dominam,
mas sim quanto a dar uma aula diferente, mais ousada. A coordenadora
acrescenta que os professores se sentem inseguros para ousar
justamente porque faltam-lhes capacitação e especialistas
dispostos a orientá-los a fazer coisas novas.
Suria lamenta, porém, que a reciclagem se dê durante
o ano letivo. Ela teme que isso atrapalhe as aulas. Para a coordenadora,
ao invés dos atuais 200 dias letivos, a secretaria deveria
destinar 180 dias para aulas e 20 dias somente para reciclagem. Mas,
de qualquer maneira, a USP está de parabéns pelo projeto.
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