A
professora
de uma escola pública em São Paulo que não
quer se identificar mostra os CD-ROMs que comprou e colocou
à disposição dos alunos do seu colégio.
São duas coleções com vários discos que
trazem histórias e músicas infantis. São
muito caros para a escola comprar, então eu comprei e trouxe
aqui para os professores usarem, explica a professora. Eles
são ótimos para o ensino.
O esforço dessa professora que supre a falta de material
didático da sua escola com recursos próprios
ilustra a situação de parte dos colégios públicos
paulistas, sem verbas suficientes para adquirir equipamentos tecnologicamente
mais avançados. A Secretaria da Educação
manda muito material para nós, como livros, jogos e dominós,
mas ainda faltam coisas, como CDs educativos, por exemplo.
Para a professora, o uso de mídias eletrônicas interativas
como CDs e vídeos é importante para que
os professores não se limitem ao ensino tradicional, em que
os mestres falam e os alunos ouvem. É preciso levar a
criança a ser crítica, a saber analisar uma situação
e a compreender o porquê das coisas, ensina. As
novas mídias são instrumentos muito úteis para
isso.
Justamente para atender a essa necessidade, a USP elaborou um projeto
que visa a colocar à disposição de professores
e alunos do ensino público em todos os níveis
avançados recursos didáticos. Com o longo nome
de Centro de referência e produção de material
didático e de equipamentos para o ensino de ciências
e humanidades na escola básica e no ensino superior, o projeto
prevê a criação de um centro que ofereça
aos docentes de instituições públicas mais opções
para uma aula dinâmica, crítica e diferente. Enviamos
o projeto à Secretaria da Ciência e Tecnologia, solicitando
uma verba para implementá-lo, e estamos aguardando resposta,
afirma a pró-reitora de Graduação da USP, Sonia
Teresinha de Sousa Penin, responsável pela iniciativa (leia
abaixo mais informações sobre o projeto).
Vai
ser excelente
Se
esse material for produzido e vier para a escola, será excelente,
alegrou-se a professora Eloisa Maria Guedes Passos, diretora da
Escola Estadual Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, no bairro
paulistano de Pinheiros, ao saber do projeto da USP. Segundo ela,
embora a Secretaria da Educação, nos últimos
anos, venha fornecendo verbas e material didático suficientes,
há setores da escola ainda um pouco defasados.
Entre esses setores, Eloisa cita as disciplinas de ciências
que incluem física, química e biologia. Uma
boa parte dos laboratórios de ciências das escolas
não funciona adequadamente, diz a diretora, aos cuidados
de quem estão cerca de 900 alunos, distribuídos em
classes que vão da 5ª série ao ensino médio.
De acordo com a professora, o funcionamento inadequado
dos laboratórios de ciências ocorre por três
motivos. Um deles diz respeito exatamente à falta de materiais,
que são muito caros. Isso realmente é uma necessidade
nossa, acrescenta Eloisa, referindo-se especificamente à
proposta da Faculdade de Ciências Farmacêuticas
incluída no projeto da USP de produzir coleções
de lâminas para uso em laboratórios de ciências.
Os outros motivos que dificultam a atividade dos laboratórios,
ainda segundo a professora, são uma certa insegurança
dos professores e as condições nem sempre satisfatórias
das instalações físicas. Faltam mais
vídeos didáticos e CDs educativos: nisso a nossa escola
é pobre, reconhece. O projeto da USP é
importante para oferecer essas coisas para os alunos.
Um
apoio tecnológico às aulas
Pró-Reitoria de Graduação da USP elabora
projeto que prevê a criação de um centro de
produção de materiais didáticos avançados
Um CD-ROM sobre a circulação sangüínea,
vídeos sobre eletricidade e um atlas lingüístico
indígena são alguns dos materiais didáticos
que, produzidos por diferentes unidades da USP, em breve poderão
estar ao alcance dos professores e alunos do ensino médio.
Pelo menos é esse o objetivo do projeto elaborado pela Pró-Reitoria
de Graduação, que prevê a criação
de um centro de produção de equipamentos para o ensino
de ciências e de humanidades, tanto para a escola fundamental
e média os antigos 1º e 2º graus
como para o ensino superior.
O projeto já foi encaminhado à Secretaria da Ciência
e Tecnologia, que poderá financiar os R$ 2,9 milhões
necessários para a confecção dos primeiros
produtos. A idéia é que a cada ano as unidades
da USP apresentem novas propostas e a secretaria forneça
a verba necessária, de modo que haja um fluxo contínuo
de produção de materiais pela Universidade para o
ensino público, explica a pró-reitora de Graduação
da USP, Sonia Teresinha de Sousa Penin.
Dos 27 materiais didáticos que constam do projeto encaminhado
à Secretaria da Ciência e Tecnologia, 13 estão
ligados às ciências biológicas, oito se referem
às ciências humanas e seis, às ciências
exatas. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto, por exemplo, planeja fazer catálogos de espécies
animais e vegetais do Estado de São Paulo, além de
um atlas ambiental paulista e pranchas sobre a biodiversidade. Materiais
pedagógicos sobre o sistema solar, ecologia, sementes, frutos
e rochas também poderão ser produzidos pelos pesquisadores
da USP de Ribeirão Preto. O Instituto de Biociências
quer fazer vídeos, manuais e páginas eletrônicas
que expliquem o funcionamento das células, a ação
de microorganismos e o modelo do seqüenciador automático
de DNA. Uma enciclopédia digital da língua de sinais
brasileira para educação bilíngüe do aluno
deficiente auditivo está nos planos do Instituto de Psicologia.
Tem mais. A Escola de Comunicações e Artes (ECA) planeja
editar a revista Ciência como laboratório de linguagem
para alunos de jornalismo. Ao mesmo tempo em que instrui os futuros
jornalistas, o projeto visa a fornecer informações
científicas aos professores do ensino médio. A Faculdade
de Educação, por sua vez, vai produzir material didático
para educação presencial e a distância.
Já o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) espera poder
colocar à disposição do ensino médio
através de reproduções e réplicas
parte do seu riquíssimo acervo. Alunos e professores
poderão ter contato, dessa forma, com documentos arqueológicos,
cerâmicas indígenas e peças originárias
da cultura clássica greco-romana. Outro museu da USP, o Museu
de Arte Contemporânea (MAC), pretende reproduzir o catálogo
do seu acervo de obras modernistas, a fim de atingir o público
em geral.
Na área de exatas, os projetos são igualmente estimulantes.
Estão nos planos do Instituto de Física a criação
de um laboratório didático virtual e a produção
de cursos e livros eletrônicos, além de outros materiais
para ensino de disciplinas como ótica, eletricidade e magnetismo.
O Centro de Divulgação Científica e Cultural,
de São Carlos, só precisa de recursos para disponibilizar
os vários materiais que já criou, ao longo de vários
anos de atividades. Todas essas propostas estão prontas
para ser executadas, lembra Sonia Penin. Basta que o
projeto seja aprovado pela secretaria.
A criação de um centro de produção de
materiais didáticos faz parte do compromisso assumido pela
pró-reitora de Graduação ao ser empossada no
cargo, em dezembro passado o apoio ao ensino médio.
Além do centro, a Pró-Reitoria executa um projeto
de capacitação de professores da rede pública
de ensino, de acordo com um protocolo de intenções
firmado no dia 4 de abril com a Secretaria de Estado da Educação.
Segundo esse projeto, a USP vai treinar 2 mil professores nos meses
de agosto, setembro e outubro através de aulas presenciais
e a distância e fazer uma avaliação de
materiais paradidáticos para uso nas escolas. O nosso
objetivo é dar condições para que o aluno da
escola pública termine o ensino médio em condições
reais de ser aprovado nos vestibulares mais concorridos do País,
diz Sonia Penin.
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