Vaz de Lima, Sidney Beraldo, Claury Silva, Cesár
Callegari e Walter Feldman: deputados estão decididos a garantir
receursos para as Universidades, de prefêrencia em percentual
estabelecido na Constituição do Estado
Para
bem explicar seu comprometimento com as universidades públicas
paulistas, o presidente da Assembléia Legislativa do Estado
de São Paulo, deputado Walter Feldman (PSDB), lembrou o escritor
Victor Hugo:
De acordo com o escritor francês, há questões
na história da humanidade segundo as quais, quando o seu tempo
chega, tornam-se absolutamente irresistíveis. A citação
foi usada para explicar a votação da Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) nº 14, de 2000, de autoria do deputado César
Callegari (PSB), ainda esta semana. A idéia é fixar
na Constituição Estadual o índice de 9,57% da
arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços), destinado às universidades
públicas paulistas USP, Unicamp e Unesp. Embora venha
se mantendo através dos anos, o percentual não é
obrigatório e poderá sofrer oscilações,
comprometendo o planejamento universitário.
O patamar mínimo a ser incluído na Constituição,
sob determinadas condições, poderá ser ampliado
quando estiver vinculado a estudos de aumento de vagas, segundo
Callegari. A medida, de imediato, possibilita segurança necessária
às instituições que estariam desobrigadas, daí
por diante, a submeter o índice à LDO (Lei de Diretrizes
Orçamentárias) e depois à LO (Lei Orçamentária),
pois a verba seria automaticamente destinada. O recurso é
votado todos os anos na LO e definido na LDO, lembra Callegari.
Independente de nos últimos anos as instituições
terem conseguido manter o nível de arrecadação,
o deputado teme que o valor possa ser alterado, ao sabor dos
governos, a partir de condições apresentadas por
quem estiver no poder. O índice já foi menor,
diz. Para ele, tal fixação representa, ainda, autonomia
que não se pode resumir na declaração de intenções
existente na lei, mas em fluxo regular de recursos.
O percentual destinado às universidades é considerado
questão madura por Feldman. Portanto, a Assembléia
chegou num momento em que essa decisão é inexorável.
As universidades, seus reitores, professores e funcionários,
todos querem definição. Feldman refere-se à proposta
de Callegari como surgida em momento histórico. Existe
convicção, na Assembléia, de que esse patamar
não será reduzido, tranqüiliza. Apoiando-se
na autonomia universitária e na necessidade de planejamento
das instituições a médio e longo prazos
o presidente da Casa reconhece que, para tanto, os recursos
devem ser assegurados. Ao contrário das universidades,
os governos são de curto prazo, reforça Callegari.
A emenda teve a votação simbólica anulada, no
final de abril, por interferência do deputado Vaz de Lima (PSDB),
que pediu verificação de quórum e não
havia número suficiente de deputados (dois terços ou
57 parlamentares).
Conclusão: cerca de 35 parlamentares estavam em plenário,
inviabilizando a primeira votação. O processo terá
de recomeçar e, obrigatoriamente, a PEC passará por
duas votações. A atitude de Vaz de Lima provocou certo
desconforto nas bancadas, sobretudo junto ao autor da emenda, César
Callegari.
Quero ressaltar que o deputado Vaz de Lima não é
absolutamente contra a matéria, defende o presidente
da Casa. Ele apresentou um projeto de lei idêntico ao de César
Callegari, mas não foi consultado pelo grupo. Do ponto
de vista do mérito não há diferença entre
ambos. A diferença é apenas na forma, que poderá
ser superada. A reclamação do deputado Vaz de Lima
eu diria até justa é de que toda essa tramitação
deu-se sem o seu acompanhamento. Ele gostaria de ter sido ouvido,
revela Feldman.
A mesma opinião manifestou o líder da bancada do PSDB,
Sidney Beraldo, relator da emenda Callegari: Ele (Vaz de Lima)
não é contra, apenas acha que a eficácia dessa
questão seria melhor resolvida a partir de uma lei ordinária,
por configurar processo mais dinâmico. Amanhã pode ser
que o percentual destinado às universidades seja aumentado
ou diminuído, o que se resolveria mais facilmente através
dela. Para Beraldo, há no Brasil a cultura de constitucionalizar
questões que podem ser resolvidas por lei. Países desenvolvidos
estabelecem a legislação, em linhas gerais, na Carta
Magna, depois regulamentadas por leis ordinárias. Mesmo assim,
ressalva que todos, na Assembléia, são favoráveis
à votação da PEC, embora haja tal pendência.
Feldman também concorda que a melhor forma de tratar a matéria
é por projeto de lei e não por emenda constitucional.
Entende as pendências como passíveis de serem superadas
no bom diálogo, que normalmente existe nesta Casa.
Pessoalmente, Vaz de Lima acredita que há diferença
apenas de enfoque entre as duas propostas. Ele defende que a Constituição
não seja tão engessada, que tudo passe necessariamente
por ela, embora mostre-se favorável à tese de as universidades
precisarem reunir condições para o bom cumprimento de
seu papel, com autonomia.
Claury Alves rebate: O que se pretende é justamente evitar
a mobilidade oferecida pela lei ordinária. Callegari
julga a fixação na Constituição como comprometimento
do governo com o ensino superior gratuito. Ao contrário
da lei ordinária, mudar a Constituição exige,
por exemplo, quórum qualificado e dois turnos de votação.
Sou presidente da Comissão de Finanças e do Orçamento
da Assembléia, egresso dos quadros da Secretaria da Fazenda.
Portanto, trabalhar com tributação é a minha
área, acentua Vaz de Lima.
Para Callegari, o texto de lei ordinária elaborado pelo deputado
Vaz, exatamente igual ao seu, não passa de uma
tentativa de esterilizar o projeto de mudança constitucional.
Entende que a lei ordinária tem a mesma estatura da lei do
orçamento: Qualquer votação do orçamento
que determine índice diferente de 9,57% derroga o que dispõe
a lei ordinária, diz ele, para quem o projeto de lei
de Lima é propositalmente inócuo.
Em sua defesa, Vaz de Lima revela movimentos em favor da universidade.
Informa que, quando surgiu a Lei Kandir, responsável pela diminuição
da receita do ICMS nos Estados, o agente político procurado
nesta Casa para convencer o governador Mário Covas de que a
perda provocada pela Lei Kandir prejudicaria as universidades não
foi o deputado César Callegari, fui eu que, na época,
também era o presidente da Comissão de Financas e orçamento
da AL. Minha posição foi convencer o governador de que
as instituições não fechariam seu orçamento
sem o complemento necessário. O complemento foi concedido e
existe até hoje.
Claury Alves da Silva (PTB), vice-líder do governo, acredita
que exista um consenso em relação à aprovação
da PEC: Para as universidades, no contexto do desenvolvimento
do Estado, é extremamente importante que se perpetue o índice
na Constituição. Ele pretende avançar na
proposta. Preocupa-se com discussões acerca da reforma tributária,
em Brasília, defendida por empresários e pelo governo,
podendo, eventualmente, causar mudanças que atinjam o ICMS.
Diante disso, o deputado sugere evitar atrelar a arrecadação
a um determinado imposto. Estou fazendo estudos para que o índice
destinado às universidades venha de toda a arrecadação
tributária do Estado, nunca desse ou daquele imposto,
recomenda.
O vice-líder do governo esclarece que não pretende atrapalhar
a votação da PEC, mas não abre mão de
preservar as instituições a partir de estudos que considera
um avanço na matéria.
Segundo o presidente Feldman, avançou-se muito em negociação
e acordos, a ponto de dar espaço à votação
também de nova emenda constitucional, do deputado Edson Aparecido,
institucionalizando na Constituição o Fundão,
a municipalização do ensino fundamental que, na nossa
avaliação, também é importante.
São duas matérias ligadas à educação
que Feldman está chamando de pacote, divididas
entre ensino fundamental e superior.
Audiências
públicas
Para
debater o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO), que dará as diretrizes para a proposta orçamentária
de São Paulo para o próximo ano, a Secretaria Estadual
de Economia e Planejamento promoveu, em março e abril, 16
audiências públicas regionais, que contaram com a participação
de representantes da comunidade acadêmica da USP. Elas foram
realizadas em cidades como Presidente Prudente, Marília,
Araçatuba, Barretos, Campinas, Ribeirão Preto e Bauru.
Encontro na Assembléia Legislativa, com a presença
do vice-reitor da Universidade, Hélio Nogueira da Cruz, encerrou
as discussões.
Para o secretário de Economia e Planejamento e ex-reitor
da USP Jacques Marcovitch, o desenvolvimento socioeconômico
e a melhoria da qualidade de vida da população estão
diretamente relacionados com a capacidade de ouvir e debater com
a comunidade e compatibilizar esses anseios e expectativas com os
programas governamentais, de maneira a identificar as diretrizes
para a atuação do Estado, subsidiar a elaboração
do orçamento anual e traçar ações estratégicas
que possam torná-los realidade.
O diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto, Oswaldo Baffa Filho, participou de um dos
grupos de discussão na cidade. Não tinha idéia
da importância da USP nesse seminário, disse
ele, destacando, entre as prioridades regionais apresentadas, o
projeto de expansão do ensino público superior, especificamente
a criação de cinco novos cursos no campus da USP em
Ribeirão Preto: Informática Médica, Fonoaudiologia,
Nutrição, licenciatura em Química e Ciências
da Informação e Documentação. A
Universidade não pode fechar os olhos para esse tipo de participação
e articulação política, principalmente depois
do que aconteceu com a Unesp, disse Baffa, referindo-se ao
remanejamento das verbas aprovado pelos deputados estaduais no final
do ano passado e que acabou por beneficiar a Unesp. Essas verbas
estavam vinculadas ao projeto de ampliação de vagas
nas três universidades estaduais paulistas.
Na área da saúde, os representantes da USP em Ribeirão
Preto foram o diretor da Faculdade de Medicina, Ayrton Custódio
Moreira, e a diretora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas,
Maria de Lourdes Pires Bianchi. No âmbito da Universidade,
as diretrizes apresentadas referem-se ao desenvolvimento do Centro
de Atendimento Odontológico a Pacientes Especiais da Faculdade
de Odontologia e do Centro de Bioequivalência de Medicamentos
Genéricos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas.
Prevêem-se ainda a construção de um hospital
secundário de apoio e recuperação orçamentária
do Hospital das Clínicas.
Em Bauru, as prioridades na área da saúde dizem respeito
principalmente às atividades da Universidade. O superintendente
do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais,
José Alberto de Souza Freitas, propõe a inclusão
de verba orçamentária para conclusão do hospital
e a criação de três cursos no campus: de Serviço
Social, de Educador e de Terapia Ocupacional. Para Freitas, a questão
do orçamento anual das universidades não deveria estar
vinculada à arrecadação de impostos. A
flutuação do ICMS causa certa instabilidade. A Universidade
deveria ter o direito de propor seu orçamento, de acordo
com as suas necessidades. Diferentemente do que acontece com a Fapesp,
por exemplo, que adequa as verbas destinadas à pesquisa de
acordo com o que recebe, afirmou.
(Adriana Cruz, especial para o Jornal da USP)
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