Um museu ou centro de exposições serve, por definição, para abrigar e tornar acessíveis as obras de arte. O Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma), que já desempenhou inúmeras vezes tal papel, convidou cinco artistas contemporâneos para tornar essa relação espacial menos passiva. Cada um recebeu uma sala, e a partir dela desenvolveu um conjunto de obras para interagir com a arquitetura ambiente. Para isso, valeram-se de técnicas e intenções particulares.
Nuno Ramos, por exemplo, adicionou novas paredes ao espaço que lhe foi reservado. Muito diferentes das convencionais, porém: um de seus lados, transparente, permite observar que tapetes persas pendurados no teto invadem seu interior, um grande aquário de óleo (foto). Nuno explica que “o trabalho deriva de outros estudos sobre volume que eu já tinha apresentado, com peças de mármore invadindo o espaço de outras”. A escolha do tapete persa, segundo ele, se deve à organização dos desenhos, da trama e de toda a fantasia que este sugere; o óleo, por sua vez, estaria relacionado a coisas em conserva. “É difícil apontar um porquê exato de cada elemento, pois, para mim, a vontade de materializar o pensamento precede a interpretação da obra. Do contrário, corre-se o risco de fazer um trabalho ingênuo e previsível.”
Alguns paralelos curiosos podem ser encontrados na instalação “Inventário de Horizontes”, de Hugo Fortes. Um deles é que o próprio Hugo foi orientado por Nuno Ramos em sua formação artística. Outro é o uso de aquários, seis deles, só que desta vez cheios de água, fotos, esculturas de parafina e outros objetos. Segundo o artista, “cada um deles representa diferentes horizontes, com seus objetos, formas e posições particulares”. Além de um instalado logo acima da porta, haverá aquários até na janela da sala.
A carioca Gabriela Machado, por sua vez, traz novos desenhos de sua série “Vermelhos”, nos quais a técnica é um elemento importante. “Faço uma trama de fios preenchendo todo meu ateliê, e pinto os desenhos sem olhar, orientada apenas por ela”, diz a artista. “É um trabalho que leva em conta a abordagem do espaço, como ocupar o branco. E um dos pontos interessantes é que as linhas não têm começo nem fim, sua forma deriva do gesto.” Gabriela, dependendo de suas impressões sobre a sala, irá decidir onde pôr cada desenho, e se traz ou não a trama que os guiou.
Companheira de Gabriela na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, Teresa Viana vai radicalizar na interação com o espaço, fazendo uma colagem de 3,5m x 18m cobrir todas as paredes de sua sala. Pedaços de entretela (tipo de plástico semelhante ao das golas de camisa) estão sendo decorados com cores criadas pela própria artista, que se classifica “radicalmente pintora”. Depois de prontos, os pedaços vão ser todos levados para o Ceuma, onde Teresa irá grampeá-los pelas paredes. “Com a entrada de luz pela janela vedada, a idéia é reconstruir o espaço com as massas de cor formadas pela entretela. Tudo fica no plano, mas, no olho do espectador, causa ilusões de profundidade, permitindo que este interfira virtualmente nas dimensões da sala.”
Fernando Burjato por sua vez, vai apresentar seis desenhos em papel-arroz, produzidos entre 1995 e 2001. Feitos à caneta esferográfica, os desenhos são uma mescla de referências às monotipias de Mira Schendel e aos modernos gráficos estatísticos. Ao mesmo tempo, estarão expostas cinco pinturas de 2001, as primeiras coloridas do artista. Em todas as obras, a forma de grade é um elemento recorrente. Segundo o artista, em seu texto de apresentação, “é um traço repetido, organizador e compulsivo. As linhas, ao mesmo tempo em que dividem o espaço, chamam atenção para si mesmas”.

As cinco exposições serão abertas para o público nesta quinta, às 20h, no Ceuma (r. Maria Antonia, 294, tel. 3255-5538). Em cartaz até 2 de junho, de segunda a sexta, das 12h às 21h, e sábados, domingos e feriados, das 9h às 21h. Entrada franca.

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