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O embaixador Rubens Barbosa: tornar o Brasil mais conhecido nos EUA

 

Em 1999, a embaixada brasileira realizou uma pesquisa de opinião pública, junto à Chicago University, a respeito da percepção do Brasil nos EUA. A pesquisa informava não apenas a opinião pública em geral como também separada por grupos de interesse como os empresários, a mídia, o Congresso, os estudantes. “Para nenhuma surpresa nossa, ficou constatado que não há uma percepção negativa ou positiva do Brasil. Simplesmente não há percepção. Depois de três anos morando lá eu pude verificar no cotidiano a falta de conhecimento, a ignorância a respeito do Brasil. Agora, eu não me preocupo muito porque isso acontece em relação ao mundo inteiro. A ignorância lá é generalizada. Não se trata de uma discriminação do Brasil”, afirmou o embaixador Rubens Antônio Barbosa, que esteve na USP, no dia 6 de maio, para falar sobre o relacionamento entre os dois países. O evento fez parte do programa de seminários do curso de Relações Internacionais e marcou o lançamento do livro O Brasil dos Brasilianistas, organizado por Barbosa.
Para tentar reverter esta situação de desconhecimento, a embaixada tem concentrado esforços na divulgação do País. “Uma de nossas prioridades é tornar o Brasil mais conhecido nos EUA. Para isso, desenvolvemos uma série de iniciativas”, afirmou Barbosa.
Dentro deste programa de divulgação, a área acadêmica foi uma das escolhidas como campo de atuação. “Não ficar sentado em Washington foi algo que me propus desde o início. Então, tenho visitado muito os estados para fazer e ampliar contatos entre a universidade brasileira e a americana. As universidades têm um poder multiplicador muito grande e eu tenho encontrado muitos professores interessados nos estudos brasileiros.” Segundo o embaixador, esse relacionamento constante com os estados é um trabalho pioneiro que está dando resultados. “Estive recentemente na Louisiana, em New Orleans, e quando voltei a Washington, foram me comunicar que estão querendo formar um centro de estudos brasileiros lá.” Além disso, Barbosa procura se encontrar com estudantes brasileiros em universidades americanas, sempre que possível.
Barbosa ressalta que chamou a atenção a ausência de trabalhos acadêmicos sobre o Brasil, especificamente em Washington e em Nova York. “Acho um absurdo que na capital do ‘império’ americano não houvesse um lugar em que assuntos brasileiros fossem discutidos.” No primeiro ano de trabalho, o embaixador conseguiu levantar us$ 1,5 milhão para criar três centros de estudos sobre o Brasil na Columbia University, na Georgetown University e no Wilson Center, “uma instituição muito respeitada em Washington que está acima dos partidos”. Dessa forma, Barbosa estima que, pelo menos, uma discussão sobre o Brasil aconteça todas as semanas.
Mas a universidade não é a única enfocada nessa vertente de divulgação brasileira no meio acadêmico norte-americano. “Não estamos limitados ao meio universitário.” Levando em conta a experiência que teve quando foi embaixador na Inglaterra (de 1994 a 1999), Barbosa decidiu atingir também as escolas equivalentes às brasileiras de ensino fundamental e médio. “Na Inglaterra distribuímos 13 fascículos sobre o Brasil para todas as escolas. Foi fácil incluir o material na disciplina de geografia e atingir todas as escolas porque lá o currículo é unificado”, avalia. O mesmo não aconteceu nos EUA, devido ao currículo descentralizado. “Levamos um ano para encontrar uma empresa que pudesse nos ajudar e, em fevereiro deste ano, lançamos o programa ‘Descubra o Brasil’. Mandamos este material para 23 estados, atingindo cerca de 50 mil professores. É um projeto estratégico, com resultados para médio e longo prazos, apenas para aumentar o nível de informação à disposição do professor, estimulando-o a transmiti-la para seus alunos.”
Pensando nos pesquisadores brasileiros que pretendem estudar documentos sobre o Brasil nos EUA, a embaixada está elaborando o Projeto Resgate. “No National Archive estão todos os documentos oficiais. Mas temos informações sobre pesquisadores que chegam a levar um mês só para localizar os documentos que procuram. Para ajudá-los vamos fazer, primeiramente, um catálogo com instruções sobre o arquivo.”
Além do meio acadêmico, a embaixada pretende divulgar o Brasil também no Congresso norte-americano. “Eu não tinha idéia do poder do Congresso americano. Talvez ele tenha mais influência na política nacional do que o Parlamento britânico. Inclusive, numa área específica, a do comércio exterior, a competência é do Congresso e não do Poder Executivo. O Executivo negocia por um mandato delegado pelo Congresso”, afirma. Segundo o embaixador, como o Brasil não tem problemas sérios com os EUA — como a Colômbia tem, com as drogas e com a guerrilha — ele é ignorado pelos políticos americanos. “Para mudar um pouco esta situação, criamos um grupo parlamentar brasileiro no Congresso americano e passamos a visitá-lo regularmente.”
A criação de uma home page com informações em inglês sobre o Brasil foi outra medida da embaixada para aumentar o conhecimento dos americanos sobre os assuntos brasileiros. “A home page possui muitos links e há também um jornal eletrônico em que colocamos os artigos que aparecem nos EUA sobre o Brasil, seja sobre economia, política, cultura ou o que for.” Foi criada também uma videoteca, muito disputada, segundo Barbosa, com documentários e filmes brasileiros.

Novos brasilianistas

Na palestra, Barbosa explicou que os brasilianistas a que se refere foram aqueles pesquisadores que estudaram o Brasil numa época em que os pesquisadores brasileiros não o podiam fazer com tanta liberdade. “O brasilianista como foi entendido ocupou um espaço no meio acadêmico brasileiro que estava cercado por causa do regime autoritário. Muitos brasilianistas tiveram acesso a documentos que nenhum brasileiro podia ter. Foi uma coisa importante para alimentar a discussão numa época em que o debate era difícil. A partir de 85, talvez um pouco antes, com a abertura política e o restabelecimento da democracia, o espaço que eles dominavam foi ocupado, como deveria, por pesquisadores brasileiros. E o brasilianista, na minha opinião, deixou de sê-lo. Ele era entendido como tal num momento em que era o único que explicava o Brasil. Hoje, já não os chamo mais de brasilianistas. Atualmente, temos sociólogos, economistas, etc. que estudam o Brasil.”
Em outubro de 1999, a embaixada convocou uma reunião com os pesquisadores americanos que estudavam o Brasil. “Para nossa surpresa, na ocasião apareceram mais de 30 pessoas. Discutimos os diferentes aspectos do relacionamento Brasil-EUA.” Em 2000, houve uma nova reunião com mais de 90 pessoas. “O resultado dessas duas reuniões está no livro que estamos lançando. Escolhemos 13 áreas — política, economia, música, dança, arquitetura, entre outras — para serem analisadas criticamente por 13 acadêmicos americanos e brasileiros. Eles fizeram uma leitura crítica de toda a literatura publicada nos EUA nos últimos 50 anos, incluindo artigos, livros e ensaios. Mas não é uma lista telefônica, é uma análise crítica dos principais trabalhos, um livro de referência para os estudantes e os professores daqui e dos EUA.”


Próximas palestras

O programa de seminários do curso de Relações Internacionais é coordenado pelo professor Jacques Marcovitch, ex-reitor da USP e atual secretário de estado de Economia e Planejamento. Confira a programação de maio (as palestras são abertas ao público em geral):

“Competitividade setorial para o comércio exterior: o caso do setor de papel e celulose”
Sr. Boris Tabacot, da Associação Brasileira de Exportadores de Celulose e Papel
16 de maio, às 17h30, na sala E-1 da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP

“Jornalismo e Relações Internacionais”
Jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, do jornal Valor Econômico
23 de maio, às 17h30, na sala E-1 da FEA

 




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