A
faculdade de Direito da USP está sediando
nesta semana o 2º Colóquio Internacional de Direitos Humanos,
promovido pelo Consórcio Universitário pelos Direitos
Humanos, uma entidade criada em dezembro de 1998 por três universidades
a USP, a PUC de São Paulo e a Columbia University, dos
Estados Unidos. Iniciado no dia 13 passado, o evento se estenderá
até sexta-feira, dia 24, contando com a participação
de 80 representantes de 20 países da América Latina,
África e Ásia.
O 2º Colóquio tem objetivos bem definidos. Nele, os organizadores
pretendem elaborar uma agenda de direitos humanos uma lista
de iniciativas a serem implementadas que esteja mais de acordo
com a realidade dos países do Hemisfério Sul. Até
agora todas as discussões sobre direitos humanos têm
sido monopolizadas pelas nações do Hemisfério
Norte, afirma o professor Oscar Vilhena Vieira, da PUC de São
Paulo, um dos organizadores do colóquio. Essas discussões
priorizam sempre os direitos liberais como a liberdade de imprensa,
de voto e de livre iniciativa , que são mais do interesse
das nações ricas.
Uma agenda que atenda aos países do Hemisfério Sul,
segundo Vieira, deve contemplar as demandas dessas nações.
Nesse sentido, diz, é preciso discutir o problema da desigualdade.
As pessoas não podem ser relegadas à fome, à
miséria e à falta de oportunidades, como ocorre nas
regiões pobres. Antes, elas têm o direito inalienável
à moradia, ao trabalho digno e à educação.
Uma agenda de direitos humanos para o Hemisfério Sul
tem que buscar eliminar essas violações de direitos
fundamentais da pessoa.
Garantir esses direitos a todos os povos não é algo
impossível, afirma Vieira. Para ele, países como o Brasil,
África do Sul e Índia dispõem de riquezas suficientes
para, se bem distribuídas, dar condições de vida
satisfatória a suas populações. Primeiro,
é preciso arrecadar corretamente a riqueza disponível,
o que o Brasil não faz: sem a reforma fiscal, o País
continua tributando muito a classe média e pouco os que têm
mais, ensina o professor. Em seguida, temos que distribuir
essa riqueza através de investimentos públicos, especialmente
em educação e saneamento.
Vieira acrescenta que, embora a ideologia liberal pregue a não-interferência
estatal, o Estado tem, sim, a responsabilidade de garantir o bem-estar
de toda a sociedade. Não é à toa que a
agenda dos países ricos prioriza os direitos liberais,
diz o professor. Queremos mudar essa visão.
Já quanto àquelas nações que ao
contrário do Brasil não dispõem de riquezas
para serem distribuídas, Vieira sugere que precisam ser objeto
de atenção da comunidade internacional. Assim
como, durante a Segunda Guerra, o mundo não podia tolerar o
massacre de judeus, hoje não podemos nos conformar com a fome
e a miséria na África, por exemplo. Além
do combate à desigualdade, o 2º Colóquio pretende
discutir a necessidade de reforma das instituições internacionais
de direitos humanos, que, segundo Vieira, privilegiam as demandas
dos países do Hemisfério Norte.
Entre os palestrantes do 2º Colóquio estão a socióloga
Maria Victória Benevides, professora da Faculdade de Educação
da USP, e o jurista Dalmo Dallari, da Faculdade de Direito. Maria
Victória falará sobre Democracia e Dallari
discorrerá a respeito do Estado de direito. As
palestras são dadas na parte da manhã. As tardes estão
dedicadas aos grupos de trabalho, que buscam elaborar propostas para
a valorização dos direitos humanos em várias
áreas de atuação, como arte e cultura, educação,
direito, mídia, políticas públicas, sociedade
civil e tecnologia (leia ao lado a programação completa
desta semana do 2º Colóquio Internacional de Direitos
Humanos).
O colóquio prevê ainda um workshop com acadêmicos
das Américas, Europa, África e Ásia, a fim de
discutir a criação de uma rede universitária
pelos direitos humanos. Essa rede deverá incluir a manutenção
de uma página eletrônica na Internet, com o objetivo
de informar e congregar os ativistas em todo o planeta. Ainda durante
o colóquio, serão divulgados três livros produzidos
por entidades participantes do evento: o Manual de mídia e
direitos humanos, o relatório Na linha de frente Defensores
de direitos humanos no Brasil e A socioeducação no Brasil
Adolescentes em conflito com a lei. Experiências de medidas
socioeducativas.
A primeira versão do colóquio ocorreu em maio de 2001,
no campus da PUC de São Paulo, e reuniu 120 participantes de
vários países do Hemisfério Sul. A página
eletrônica do Consórcio Universitário pelos Direitos
Humanos pode ser lida no endereço www.consorciodh.org.br .
Democracia e exclusão social
Esta é
a programação do 2º Colóquio sobre Direitos
Humanos, que acontece até sexta-feira na Faculdade de Direito
da USP.
Dia
20, segunda-feira
9h. Direitos humanos e relações Sul-Norte
(Flona Macaulay, Holy Bartiling, Malak Popovic e Oscar Vilhena).
10h45. Intervalo.
11h. Exclusão social (Gilberto Dupas, Luiz Eduardo
Wanderley e Ricardo Henriques).
12h30. Almoço
14 horas. Grupos de trabalho.
Dia 21, terça-feira
9h. Direitos humanos e o mundo empresarial (Luiz Norberto
Paschoal).
10h45. Intervalo.
11h. Direito ao desenvolvi!mento (Flávia Piovesan
e José Carlos Libanio).
12h30. Almoço.
14h. Grupos de trabalho.
Dia 22, quarta-feira
9h. Democracia (Maria Victória Benevides).
10h45. Intervalo.
11h. Estado de direito (Dalmo Dallari e Fernando Gomes).
12h30. Almoço.
14h. Grupos de trabalho.
Dia 23, quinta-feira
9h. Direito humanitário (Christophe Swinarski).
10h45. Intervalo.
11h. Conflitos internos e crime organizado (Francisco
Sieber, Guilherme de Almeida e Marcelo Sain).
12h30. Almoço.
14h. Grupos de trabalho.
Dia 24, sexta-feira
9h. Encerramento: Um diálogo Sul-Sul pela igualdade:
proposta de ação (grupos de trabalho).
10h45. Intervalo.
11h. Encerramento: Um diálogo Sul-Sul pela igualdade:
proposta de ação (coordenadores).
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