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Após o ato no auditório, os "notáveis" encabeçaram caminhada rumo à Reitoria
Na Reitoria,representantes de alunos e professores acertam formação de comissão encarregado de intermediar a contratação de docentes para a Filosofia

   
   




Mais de mil alunos reuniram-se no Anfiteatro e na frente do prédio para ouvir os pronunciamentos de professores da FFLCH.
Como já havia sido anunciado pela edição anterior do Jornal da USP, a greve dos funcionários da Universidade foi realmente suspensa na semana passada, após uma série de reuniões e assembléias nas quais se referendou o recuo da estratégia grevista. Os servidores não-docentes decidiram voltar ao trabalho depois que a Reitoria da Universidade se comprometeu a não descontar os dias parados (leia box nesta página). Por outro lado, os alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) ainda mantêm a paralisação — mas já há possibilidade de solução. Após ato em defesa da FFLCH — que reuniu cerca de 1000 pessoas no auditório Camargo Guarnieri, na quarta-feira (19) —, uma comissão de notáveis, formada por Antonio Candido, Aziz Ab’Sáber, Marilena Chauí, Otávio Ianni e Francisco Oliveira, dirigiu-se à Reitoria para uma reunião que teve como resultado prático a criação de uma comissão tripartite. Formada por membros da Reitoria e representantes de alunos e docentes, a comissão poderá representar a luz no fim do túnel para o impasse que paira sobre a FFLCH, já que nasce com a missão de intermediar um acordo sobre o plano de contratações de professores e funcionários para aquela unidade. Na última quinta-feira, a FFLCH escolheu seu novo diretor. O virtual eleito deve ser o professor Sedi Hirano, já que o outro postulante ao cargo, professor Leonel Itaussu Almeida Mello, anunciou sua desistência da eleição no final da própria quinta.
“É provável que as negociações comecem, no mais tardar, a partir desta segunda-feira, dia 24”, destaca o professor Osvaldo Coggiola, vice-diretor do Fórum das Seis e docente do Departamento de História da FFLCH. Além dos cinco notáveis, estiveram na Reitoria na noite de quarta-feira passada o representante da CUT nacional, João Felício, o diretor da FFLCH, Francis Henrik Aubert, o representante dos alunos da FFLCH Antônio David, além de membros do Fórum das Seis, os professores Ciro Teixeira e Osvaldo Coggiola. Na ausência do reitor Adolpho José Melfi, que estava em Brasília, representaram a Reitoria o vice-reitor e presidente da Comissão de Claros Docentes da USP, Hélio Nogueira da Cruz, o chefe de gabinete, Celso de Barros Gomes e o diretor do Departamento de Recursos Humanos, Gilberto Shinyashiki.
O encontro na Reitoria se estendeu do final da tarde até as 21h30. Enquanto os notáveis expunham suas idéias aos membros da Reitoria, cerca de 500 alunos faziam uma manifestação do lado de fora do prédio. Alguns até tentaram escalar o telhado da sede da Reitoria, mas foram detidos pela Guarda Universitária.
“Estamos abertos ao diálogo. Entendemos que o ritmo dos resultados produzidos não tem sido o ideal, mas 26 claros conseguidos até agora é um número significativo. O total de claros concedidos à FFLCH este ano foi maior que o concedido a todos os outros cursos”, afirmou Hélio Nogueira durante a reunião. Na véspera, o vice-reitor havia publicado um artigo em O Estado de S. Paulo no qual explicava os pontos mais intrincados da crise na FFLCH. “Enquanto a questão da previdência não for equacionada e a USP tiver de arcar com os gastos de seus inativos, as ameaças constantes advindas da forte pressão financeira exigirão muita cautela e, com isso, algumas atividades acadêmicas não poderão ser aquinhoadas de forma plenamente satisfatória”, escreveu Hélio Nogueira, depois de expor as “fortes oscilações mostradas nos pedidos encaminhados” para o preenchimento de claros na FFLCH. A direção da FFLCH pede a contratação de 115 professores, enquanto estudo realizado pelo Diretório Central de Estudantes detectou a necessidade de 259 docentes.
O teor das exposições feitas pelos notáveis durante o ato realizado no auditório Camargo Guarnieri foi, essencialmente, o mesmo do apresentado aos representantes da Reitoria. Na visão dos professores, a greve da FFLCH possui um caráter bastante específico e, antes de números e salários, reivindica mudanças qualitativas para a faculdade.
“Desta vez, a greve não tem nada a ver com salários, ou simplesmente com a questão de números de professores necessários. Ela tem a ver com um ideário de universidade. Porque universidade sem ciências humanas não é universidade”, disse o professor Aziz Ab’Sáber durante a reunião com a Reitoria.
A professora Marilena Chauí também retomou todos os pontos apresentados no auditório Camargo Guarnieri e lembrou que as condições de trabalho dos professores atualmente são “insuportáveis”. “Eu, por exemplo, tenho duas salas com 150 alunos e isso é intolerável. É impossível o ensino de qualidade nessas condições”, disse. O problema, nesse caso, é quase irônico: é justamente por ser uma “notável”, um dos principais nomes da cultura brasileira, que Marilena acaba reunindo tantos alunos para assistir a suas aulas.
“A greve tem sido muito desgastante para todos nós. O que queremos mesmo é voltar às aulas. Infelizmente, devo dizer que, diante do impasse em que estamos, não há a menor possibilidade de a greve acabar agora. Por isso, acho muito bom retomarmos o diálogo”, disse o representante de alunos da FFLCH, Antônio David.


Dias parados não serão descontados

Na noite de segunda-feira (17), após intensas negociações com representantes do Sintusp (Sindicato os Trabalhadores da USP), a Reitoria emitiu um ofício informando que “não haverá desconto de dias parados (22 de maio e na semana de 10 a 17 de junho de 2002) e que nenhum desses dias será considerado como falta, para fim algum, desde que se retomem as atividades normais e o período de tempo em que houve ausência ao trabalho venha a ser substituído por igual período de tempo em que haverá presença ao trabalho, segundo procedimentos a ser determinados pela direção de cada órgão onde houve paralisação, ouvidos os seus respectivos funcionários”. O texto esclarece ainda que não haverá “perseguição aos grevistas” nem “punições” em virtude do exercício legítimo do direito de greve.
Assim, cada unidade que aderiu à greve irá decidir separadamente seu esquema de substituição de horas de trabalho. A Prefeitura, por exemplo, fará reposição aos sábados. Nos restaurantes universitários, onde não há como dobrar o número de refeições ou coisa do gênero, avalia-se a possibilidade de seus funcionários visitarem restaurantes dentro ou fora da Capital, como forma de “trocar experiências profissionais”, disse o diretor do Sintusp, Magno de Carvalho.
Na ECA, os funcionários assumiram o compromisso de repor o trabalho acumulado em bibliotecas e protocolos, por exemplo, por meio de um esquema de mutirão. Igualmente, os funcionários da FFLCH assumiram o compromisso de repor o trabalho acumulado.
Outras unidades ainda devem decidir o sistema que deverão adotar para repor as horas inativas.
“Existe uma reação grande dos funcionários, pois a reposição de horas de trabalho está sendo vista como forma de punição. No entanto, em relação a esse aspecto, as negociações estão esgotadas. Quanto à pauta específica, as negociações com a Reitoria continuam”, diz Carvalho.
Uma auditoria pública na Assembléia Legislativa, realizada na terça-feira (18) teve seu significado esvaziado com a ausência dos reitores da USP, Unicamp e Unesp, na qual se deveria debater a “Aplicação de recursos na expansão de vagas” nas universidades estaduais paulistas. Como resultado, os presentes, entre lideranças políticas, estudantis e de docentes, enviaram uma manifestação de repúdio à ausência dos reitores naquela sessão.
Na quinta-feira (20), a Adusp (Associação de Docentes da USP) emitiu para diversos órgãos públicos e privados um “Manifesto de Alarme” em defesa da FFLCH, assinado pelos notáveis presentes ao ato de quarta-feira (19) e pelos diretores do Fórum das Seis.
 




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