Para melhor definir qual a conveniência, para a
USP, de manter cursos pagos sob a responsabilidade de fundações,
a Pró-Reitoria de Pós-Graduação decidiu
suspender, até outubro, autorização para que
se instalem novos cursos pagos na Universidade. E formalizou, em
20 de agosto, através de publicação de edital
no Diário Oficial do Estado, a organização
de grupo de trabalho para discutir o assunto. Constituída
por quatro professores, a Comissão Especial para esse fim
tem a missão de apenas definir os principais tópicos
a serem abordados. A primeira reunião foi realizada no último
dia 11.
Os
professores Erney Felício Plessmann de Camargo, Hernan Chaimovich
e Hugo Aguirre Armelin, sob a presidência do professor Luiz
Nunes de Oliveira, pró-reitor de Pesquisa, estão organizando
reunião preparatória que norteará o tema “Fundações”
junto à comunidade uspiana. O grupo deverá produzir
relatório em 60 dias, que será entregue ao reitor
da USP, Adolpho José Melfi. Depois de analisar o texto, o
reitor indicará os nomes que comporão o grupo definitivo
para tratar da presença e funcionamento de fundações
na Universidade.
Atualmente
elas são 31. O professor Nunes preferiu não adiantar
nada sobre os temas a serem abordados. E afirma que não haverá,
nesta primeira fase, representantes de alunos na comissão.
“Apenas o reitor poderá decidir se haverá ou
não representantes de alunos nessas comissões. Por
enquanto, no grupo menor, cuja função é apenas
organizativa, não haverá representantes de alunos”,
disse.
Segundo
Nunes, a comissão indicada para preparar tais reuniões
não tem poder decisório e apenas auxilia na formação
definitiva. “Nossa idéia é incluir, nunca excluir
pessoas que debatem o assunto. Por isso, queremos ser abrangentes
o bastante para somar e não para dividir posições
diversificadas acerca do destino das fundações”,
afirma o pró-reitor, para quem “todos serão
ouvidos”.
Há
várias questões sobre a importância das fundações
e eventual mau uso das entidades para atividades alheias a elas.
Tema complexo e de várias facetas — boas ou ruins,
dependendo do ponto de vista a partir do qual são observadas
—, a discussão com um grupo grande de representantes
requer roteiro muito bem estabelecido, na tentativa de eliminar
o risco de deixar de abordar aspectos relevantes ou produzir discussões
redundantes. “O prazo para indicar os pontos que não
podem ser deixados de fora dessa discussão expira-se em meados
de outubro”, segundo o pró-reitor. Depois disso novos
prazos serão definidos pelo reitor.
As
fundações estão instaladas na USP há
cerca de 30 anos e funcionam de acordo com regras estabelecidas
pela instituição, segundo as quais 5% da arrecadação
é destinada à Reitoria e 10%, às unidades às
quais estão vinculadas.
A Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) é
apontada como a unidade onde as entidades funcionam melhor. Há
ali cursos de MBA — Master Business Administration —
pagos por grandes empresas para a formação e aprimoramento
de recursos humanos. “Por que não deveriam ser pagos?”,
indaga o professor Claudio Felisoni, presidente da Fundação
Instituto de Administração (FIA). Segundo ele, as
fundações que operam na FEA estão disponíveis
para serem fiscalizadas a qualquer momento — elas já
se submetem a avaliação da Promotoria do Estado e
do Tribunal de Contas do Estado. “Alguns professores aposentados
se mantêm na FEA participando de projetos desenvolvidos através
de fundações”, revela Felisoni, a respeito do
lado positivo das entidades.
Todos
os cursos intermediados por elas são autorizados pela USP
— “não se realizam antes de serem credenciados
pelas Pró-Reitorias de Graduação e de Cultura
e Extensão Universitária”. Felisoni destaca,
ainda, o repasse das verbas aplicadas nas unidades. “Caso
o repasse da verba arrecadada cessasse, haveria sensível
piora no funcionamento geral da faculdade”, alerta, acrescentando:
“Basta ver nossas instalações para comprovar
o repasse adequado e a correção das fundações
que operam na FEA”.
Felisoni
define como “contrasenso” o não-pagamento de
cursos por parte de grandes corporações, altamente
lucrativas, com o objetivo de especializar seus funcionários.
O mercado de cursos é promissor e vem sendo disputado por
várias instituições. “Se a USP não
entrar nesse mercado, outras instituições o farão”,
pondera. O professor alega que executivos interessados em tal aperfeiçoamento
poderão procurá-lo fora do País, pois dispõem
de condições para isso. |