Discussões
sobre a relevância de aulas presenciais e a distância
estimulam alunos e professores na busca por definições
acerca da melhor convivência entre homens e máquinas.
Um encontro realizado na sala do Conselho Universitário,
em 10 de setembro, reuniu representantes de universidades dos Estados
Unidos e da Espanha que aplicam o ensino a distância de maneiras
diferenciadas. O objetivo foi trocar experiências entre o
que está sendo feito na USP e no exterior.
Na abertura do “2º Workshop Internacional de Educação
a Distância”, o vice-reitor da USP, professor Hélio
Nogueira da Cruz, representando o reitor Adolpho José Melfi,
elogiou as quatro Pró-Reitorias e a Cecae (Coordenadoria
Executiva de Cooperação Universitária e de
Atividades Especiais) pela iniciativa, cujo alvo é mapear
o uso de novas tecnologias em diferentes segmentos da Universidade.
O professor revelou que o primeiro encontro, há cerca de
um ano, atingiu o objetivo de fortalecer o elo entre comunidade
acadêmica e grupos de interessados, favorecendo estudos e
pesquisas nessa área.
Respostas
de docentes à modalidade indicam que 64% deles desenvolvem
atividades voltadas ao ensino a distância. Hélio Nogueira
ressaltou que a USP abriu 520 novas vagas para a graduação
neste ano, além de 457 no ano passado, e o Programa de Educação
Continuada tem-se mostrado fundamental para a capacitação
de professores do ensino médio. Aulas via Internet podem
ser ministradas em todos os níveis.
Com
os recursos de computação disponíveis, é
possível estar na faculdade ou em casa, sem que isso impeça
a integração com os alunos. “O ideal é
juntar professor e recursos da Internet no mesmo dia, hora e espaço,
pois essa técnica facilita muito o ensino presencial, sem
substituí-lo”, sentencia o professor da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP,
Milton Campanário, também pesquisador do IPT (Instituto
de Pesquisas Tecnológicas).
Mesma
opinião tem o diretor executivo para Educação
Continuada da Universidade de Rutgers, em New Jersey, nos Estados
Unidos, Richard Novak. Ele demonstrou o sistema centralizado, em
prática naquela universidade. Para Novak, a centralização
administrativa de Rutgers ajuda os estudantes a entender melhor
seu funcionamento, garante a qualidade do ensino e facilita a comparação
de desempenho dentro do campus, além de ser financeiramente
eficiente. Mas o professor em sala é importante, “até
mais do que em aulas presenciais”, destaca Novak.
Calor
humano
Na
FEA, foram equipadas duas salas de aula e outra de desenvolvimento
de projetos, as primeiras com 14 microcomputadores de última
geração, doados pela empresa de computadores Compaq.
Apoiada pela Lei de Incentivo Fiscal à Informática
nº 8.248, a Compaq incluiu entre os itens doados a reforma física
do local para abrigar os equipamentos, os serviços de professores
e alunos envolvidos, 35 microcomputadores e placas de rede conectadas
à Internet, no valor de cerca de R$ 188 mil.
No
Laboratório de Ensino a Distância, foram formatados
cursos, disponíveis apenas para os regularmente matriculados,
no padrão utilizado pela USP, após dez meses de trabalho.
Em iniciativa apoiada pela direção da FEA, Campanário
foi auxiliado pelo quintanista de Economia Marcello Muniz na preparação
de textos didáticos, conteúdo e ferramentas de interatividade.
Vitor
Pini, do segundo ano, apesar de admitir que as duas modalidades
são complementares e não excludentes, declara que
“seria difícil”, hoje, viver sem a ajuda da Internet.
Aulas em sala continuam e conservam suas peculiaridades. “Estar
frente a frente com o aluno desenha outra dinâmica, pois estar
presente é também sentir calor humano e afetividade,
ausentes na comunicação via Internet”, declara
Campanário.
A dificuldade
em acessar a Internet é uma realidade para pequeno grupo.
Levantamento a esse respeito mostrou que nos cursos da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, onde
114 alunos assistem às suas aulas, cerca de 5% não
têm acesso à rede. Na FEA, 100% dos alunos têm
esse acesso. Porém, os departamentos da USP disponibilizam
tal serviço, hoje, em maior ou menor grau.
As
novas salas da FEA foram desenhadas para ensino completamente a
distância. Há várias modalidades para esse tipo
de curso e o hipertexto é uma delas. Outras são plataformas
que facilitam a didática de professores, através de
videoconferências e chats, por exemplo. O curso de Matemática
Financeira é produto concebido para preencher tal necessidade.
Está concluído, mas ainda não foi implantado.
Utiliza
livro virtual e destina-se a ser aplicado em larga escala, totalmente
a distância. O hipertexto permite relacionar matemática
financeira com outras disciplinas, tornando o livro virtual mais
rico que o manual convencional. O método facilita a criação
de links e a vantagem, segundo o professor, está na conexão
com as notas de rodapé, capaz de abrir um mundo novo aos
que o acessam.
A integração
entre as partes, via Internet, é facilitada. É possível
trocar idéias entre todos, colocados diante do mesmo problema,
durante a resolução de exercícios. O ensino
a distância vem sendo gradativamente incorporado pela USP.
Baseado nisso, o grupo do professor Campanário decidiu avançar
no aperfeiçoamento dessa cultura na Universidade. Na FEA,
todas as disciplinas contam com espaço para criação
de sites, embora nem todos os professores estejam voltados para
isso.
Este
é o terceiro curso realizado sob a responsabilidade de Campanário,
entre eles Introdução aos Clássicos do Pensamento
Econômico. O método oferece maior proximidade entre
aluno e material didático, possibilitando a conferência,
em sala de aula, da matéria dada via Internet. “Eu
não recebo mais papel”, informa Campanário acerca
de uma das vantagens do procedimento. Verifica-se economia de custo,
tempo, xerox, pois tudo o que é feito é registrado
por ambas as partes. A prova “continua insubstituível”,
em sala de aula, mas o melhor mecanismo do ensino a distância
“é ler um livro, em casa, emprestado e depois devolvido”,
brinca.
As
mudanças mundiais em todos os setores de atividade e sua
vinculação com as novas tecnologias foram abordadas
pelo vice-reitor de Política Acadêmica da Universidade
Aberta da Catalunha, Josep Coll Bertran. Ali as aulas foram abolidas
e muitos alunos fazem cursos de aperfeiçoamento ou de educação
continuada. Inaugurada em 1995, ainda não conta com estatísticas
a respeito de quantos concluem os cursos. O campus virtual substitui
o presencial e a avaliação é contínua.
Encontros sociais entre estudantes são incentivados, assim
como a figura do tutor, que orienta e dinamiza a relação
professor-aluno. “O tutor ajuda a romper a sensação
de solidão do aluno que estuda sozinho”, declara o
vice-reitor.
A tecnologia,
por ela mesma, pode não fazer nenhum sentido. Segundo Bertran,
o objetivo principal é encontrar a função para
a qual se destina e aplicá-la corretamente. A Universidade
da Catalunha é administrada pelo governo. Recebe 36% de estudantes
menores de 25 anos e 44% que têm entre 25 e 36 anos. Do total,
52% são homens e 38%, casados, dos quais 25% têm filhos.
A experiência
da USP foi relatada pelo professor Fredric Michael Litto, há
12 anos diretor da Escola do Futuro, que começou a estudar
ensino a distância em 1957 na Universidade da Califórnia,
nos Estados Unidos. A Escola do Futuro também não
tem alunos. É um núcleo de pesquisa, em atividade
desde 1989, na Escola de Comunicações e Artes (ECA).
Naquela época, a ênfase em telecomunicações,
multimídia e laboratório interdisciplinar envolveu
46 pesquisadores no estudo de ensino a distância. A missão
é descobrir novas formas de auxiliar a educação
brasileira nessa modalidade. “Somos um núcleo auto-sustentável”,
diz o professor Litto, referindo-se aos cursos de capacitação,
à colaboração de empresas parceiras —
como a Microsoft —, e às bolsas de estudos do CNPq
e da Unesco, que ajudam a sustentar o núcleo.
Doze
dos programas em andamento se referem à educação
a distância para alunos de 1º e 2º graus, de 7 a 17 anos,
de escolas públicas e particulares. Crianças e adolescentes
aprendem a se comunicar em inglês com outros alunos de várias
partes do mundo. E fazem cálculos complicados: “Calculam
a sombra de uma vassoura de um metro de altura ao cair, em qualquer
lugar do planeta, qualquer dia da semana”, explica o professor.
A biblioteca virtual, em funcionamento desde 1998, tenta suprir
falhas na infra-estrutura nacional de ensino. Menos de 10% das escolas
públicas brasileiras têm biblioteca. Dos 5.500 municípios
espalhados pelo País, apenas 1.700 contam com livrarias que
“às vezes são papelarias que por acaso vendem
livros”. A página eletrônica da biblioteca virtual
da Escola do Futuro (www.futuro.usp.br) recebe cerca de 5 mil visitas
por dia. |