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Saturno representado na Alameda do Sistema Solar

 
 
A natureza, 120 hectares de mata atlãntica nativa, é uma atração à parte. Trilhas deverão colocar o visitante em contato com a flora e a fauna local, como o macaco bugio, muito comum na região. Abaixo, os aparelhos da Estação Meteorológica medem, diariamente, a intensidade e o tempo de insolação
Foto do sol tirada pela luneta Zeiss, uma das atrações do Cientec.

O novo parque da USP, que deu início oficial a suas atividades no último dia 6, não tem carrossel nem roda gigante. Tudo que pode ser visto nele são instrumentos ou fruto de trabalhos científicos e tecnológicos e tem um caráter bastante didático. Isso, entretanto, não torna o Parque de Ciência e Tecnologia (Cientec) um lugar enfadonho. A instituição, que ocupa o espaço do antigo Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) da USP, se mostrou capaz de explorar a ciência e a natureza de forma dinâmica e até estética, garantindo entretenimento e aprendizado a pessoas de diferentes faixas etárias.

Num espaço ao ar livre, separados por apenas alguns passos, estão representados todos os planetas do sistema solar. Mais adiante, dentro de uma pequena construção coberta por uma cúpula branca, fica a grande luneta Zeiss, através da qual é possível ver de mais perto o Sol, a Lua e alguns dos planetas. Entre a luneta e a instalação do sistema solar, dentro de um cercado branco, ficam inúmeros instrumentos ininteligíveis à primeira vista. São os aparelhos da Estação Meteorológica que funciona há cerca de 70 anos e fornece diariamente informações sobre a umidade do ar, a velocidade e a direção do vento e a temperatura, entre outros dados. Além disso, uma mini bacia hidrográfica, uma trilha pela maior área de mata conservada em uma metrópole, um sismógrafo e outros objetos completam as atrações do parque.

Todos os departamentos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas – a atual denominação do IAG –, que ganharam uma nova sede na Cidade Universitária, estão representados por essas instalações. Os aparelhos de pesquisa expostos são, quase todos, os mesmos utilizados pelos alunos e professores que passaram pelo instituto desde sua criação, em 1927. São instrumentos de trabalho e de pesquisa de profissionais dessa área que, apesar de em muitos casos estarem obsoletos, não foram simplesmente descartados. Eles continuam em pleno funcionamento, cumprindo ainda a sua função principal: ensinar. “A abertura das atividades do parque colocam-no ao lado do Teatro da USP, do Coralusp, da Maria Antonia e da Estação Ciência como um importante centro de ensino e pesquisa voltado à população da cidade de São Paulo”, afirmou o pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária, professor Adilson Avansi de Abreu, durante a cerimônia oficial de abertura.

Quase sempre inacessíveis, quando colocados em exposição os instrumentos do fazer científico causam um inevitável fascínio. A curiosidade em desvendar a utilidade de cada um desses objetos e revelar sua relação com a realidade é o que move o visitante na sua trajetória pelo parque. O que é aprendido nos livros ganha uma dimensão visual e tátil e por isso é mais difícil de ser esquecido. Ler a respeito de um sismógrafo, por exemplo, é muito diferente de vê-lo funcionar registrando no papel, com impressionante sensibilidade, cada mínima oscilação da terra. No Espaço da Geofísica, os visitantes do parque podem não só observar de perto o funcionamento desse aparelho, mas interagir com ele. É possível ver o marcador agitar-se numa amplitude maior – pulando ou emitindo sons altos –, como faria no caso de um terremoto.

Por esses e outros fatores, uma visita ao parque pode ser proveitosa mesmo para aqueles que já têm um certo conhecimento a respeito dessas áreas da ciência. “Esse negócio aqui, que é uma coisa simples, por exemplo” – explica o pró-reitor de Pesquisa, professor Luiz Nunes de Oliveira, referindo-se à Alameda do Sistema Solar –, “me ensina mais sobre astronomia do que ler dez livros. Eu sou capaz de dizer a distância entre todos os planetas, mas ver assim, na prática, é diferente.” A alameda que representa em proporção de tamanho e distância todos os planetas do sistema solar foi concebida e executada pelo Ateliê da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. As esculturas não estão alinhadas em uma reta, mas distribuídas por uma espécie de passeio, onde podem ser vistas inclinadas de acordo com a órbita de cada um dos planetas.

Apesar de já oferecer inúmeros atrativos, as atividades do parque que estão em funcionamento são apenas uma pequena parte de um projeto bastante ambicioso. A idéia é criar um espaço onde se possa vivenciar a ciência e a natureza de várias formas, fazendo uso, inclusive, da alta tecnologia. Quando estiver concluído, o parque deverá contar com uma sala de projeção contendo uma enorme tela, do estilo dos cinemas Imax, que aplica recursos sonoros e visuais para envolver o espectador no ambiente do filme, tornando a experiência mais real. Haverá ainda um planetário digital – em que se poderá ver projetado o céu do passado, do presente e do futuro ou reproduzidos importantes fenômenos astronômicos – e uma passarela suspensa pela mata, que levará o visitante até um mirante de onde ele será capaz de enxergar, reunido em um mesmo lugar, cerca de 10% do total de área verde de São Paulo. A sofisticação técnica, entretanto, não deverá fazer o parque perder de vista seu papel social. “Pode ser que passemos a cobrar entrada para um certo tipo de público, mas não para todos. Acho fundamental darmos apoio, por exempo, às escolas públicas e às comunidades carentes como essas que vivem aqui nas redondezas”, afirma Marta Mantovani, diretora protempore do parque.

Um outro projeto que corre paralelo a esse e que tem apoio do governo do Estado é o de integração das três grandes áreas verdes que se encontram abrigadas no Zoológico, no Jardim Botânico e no Parque de Ciência e Tecnologia e que fazem parte do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga. “São 543 hectares de mata atlântica nativa”, destaca Marta, ressaltando a importância de haver, efetivamente, um trabalho conjunto entre essas instituições.

O primeiro grande passo em direção à realização desses dois projetos foi dado na quinta-feira, dia 12. Uma reunião realizada no Cientec com sete dos mais experientes arquitetos nessa área deverá ser o início de um grande trabalho em equipe que irá inserir, em um contexto arquitetônico harmônico, as estruturas idealizadas para o parque. O trabalho que resultará dessa parceria inédita deverá levar em consideração, também, os aspectos paisagísticos e a restauração dos prédios do antigo instituto do IAG tombados em 1994. Segundos os organizadores do encontro, estarão envolvidos com o projeto Giancarlo Gasperini, José Armênio, Nestor Goulart Reis Filho, Paulo Bruna, Paulo Mendes da Rocha, Roberto Aflalo Filho e Siegbert Zanettini.

O Parque de Ciência e Tecnologia pode ser visitado diariamente, mas é preciso agendar com antecedência. Ele fica na avenida Miguel Estéfano, 4.200, Água Funda, São Paulo (em frente ao Jardim Zoológico). O agendamento pode ser feito pelo (11) 5073-8599.

 




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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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