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Quem passa pela rua Maria Antonia, na altura do número 294, vê que a fachada do Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma) está diferente. A partir de agora, esse espaço passa a ser utilizado periodicamente por artistas plásticos, uma iniciativa do professor Lorenzo Mammì, diretor do Ceuma. Lenora de Barros é a primeira artista convidada e transformou o prédio, colocando quatro painéis, realizados em plotagem sobre lona, cada um deles medindo 4,15 x 3,15 metros, com imagens de uma mulher, sempre com a mesma expressão de espanto que parece mudar conforme o tipo de cabelo. Às vezes parece uma americana, às vezes uma mulher negra. A sua instalação é baseada nos cartazes de pessoas procuradas e por isso o título, Procuro-me – que, como ela diz, trabalha a questão da busca por uma identidade –, em cartaz aqui em São Paulo e no Rio de Janeiro, simultaneamente.

Os cabelos são alterados por um programa de computador, normalmente utilizado em salões de beleza. Essas imagens que Lenora têm são da década de 90, quando uma empresa estava lançando esse tipo de serviço no Shopping Iguatemi. Funcionava assim: o rosto da mulher era fotografado e ela selecionava tipos de cabelos, formatos e cores, que eram colocados em vídeo. Hoje, nem existe mais, informa a artista. “É um tipo nonsense, até porque não deu certo”, diz ela, que tentou acessar o site para obter mais imagens, mas não conseguiu navegá-lo. Partir desse recurso é uma forma irônica, crítica e até engraçada de tratar a questão da supervalorização da aparência. Já a idéia dos cartazes de pessoas procuradas, bandidos ou desaparecidos, surgiu no ano passado na época do atentado terrorista às torres gêmeas de Nova York, quando o FBI divulgou a foto de Bin Laden. A artista se sentiu impregnada por toda essa história, que abalou o mundo inteiro, e incorporou a sua obra.

Assim, as imagens nasceram com o vídeo e os cartazes com o atentado, produzindo em suas palavras o primeiro poema virtual. Desde sempre, Lenora teve sua trajetória ligada à poesia e à palavra. Começou a trabalhar como poeta visual, sempre com fotografia, imagens e cores na esteira da poesia concreta – foi curadora das exposições que o Centro Universitário Maria Antonia promoveu dentro do Projeto Arte Concreta. Em meados dos anos 70, sua obra evoluiu para vídeo-texto, e foi só a partir da década de 90, quando morou em Milão (Itália), que fez sua primeira exposição individual, utilizando como um dos recursos bolinhas de pingue-pongue para dar suporte à palavra. As fotografias, ou performances fotográficas, como o crítico de arte Tadeu Chiarelli nomeou seu trabalho, têm como marca registrada o fato da própria artista ser personagem de suas obras. E é ela mesma que aparece nas imagens da fachada do prédio da Maria Antonia. São seqüências, pequenas narrativas.

No Rio de Janeiro, a artista utilizou as mesmas quatro imagens, só que impressas em papel-jornal e, acompanhando a obra, uma trilha sonora especialmente produzida para a mostra em parceria com Cid Campos (a mostra está em cartaz no Centro Cultural Sérgio Porto até 20 de outubro). Aqui em São Paulo, fica em cartaz até o fim do ano em um espaço que, segundo a artista, se adequa perfeitamente à sua obra.

O Centro Universitário Maria Antonia fica na r. Maria Antonia, 294. Mais informações pelos tels. 3255-5538 e 3255-7182.

 




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