A
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, em Piracicaba,
merecia mesmo comemorar o centenário de fundação
em grande estilo, e o fez lançando edição especial
de um livro que é verdadeira arte gráfica e redacional:
Um olhar entre o passado e o futuro. Isso foi no ano passado —
bem antes de carrapatos e capivaras exigirem uma atenção
especial dos pesquisadores da Escola, como pode ser visto nas páginas
4 e 5 desta edição. A obra, bilíngüe (português-inglês),
vai receber nesta quarta-feira (9) o Prêmio Clio de História
2002 da Academia Paulistana de História. Representantes da
Esalq o receberão durante almoço no Terraço
Itália, em São Paulo.
Nos
25 anos de existência do prêmio – desde 1978 –,
foram destacados 150 livros e seus autores. A academia adotou como
símbolo a musa grega da história, Clio, que era representada
com uma coroa de louros, tendo na mão direita um clarim com
o qual anunciava os acontecimentos e, na esquerda, um rolo de papiro
(biblíon) semidesenrolado no qual escrevia. Daí o
nome do prêmio, destinado a contemplar anualmente trabalhos
sobre o passado humano.
A obra
foi indicada para o concurso pelo Instituto Histórico e Geográfico
de Piracicaba, tendo participado cerca de 300 livros históricos,
dos quais 21 foram premiados. Com 194 páginas, ganhou na
categoria de livro histórico universitário –
Centenário do Ensino de Agricultura. Vale lembrar que a concessão
é de apenas um prêmio em cada área da história.
A publicação é da Editora Prêmio Ltda.,
escolhida pelo patrocinador do livro, a Bolsa de Mercadorias &
Futuros (BM&F).
Para
compô-lo o editor contou com a colaboração especial
das Comissões de Graduação (CG), de Pós-Graduação
(CPG), de Pesquisa (CP) e de Cultura e Extensão (CCEx), que
apresentaram seus programas atuais. Cada um dos 11 departamentos
que integram a Esalq fez um resumo de suas atividades, seguidos
pela Divisão de Biblioteca e Documentação (DIBD),
Centro de Informática do Campus Luiz de Queiroz (Ciagri),
Centro de Biotecnologia Agrícola (Cebtec), Fundação
de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), Centro Acadêmico
Luiz de Queiroz (Calq), Associação Atlética
Acadêmica Luiz de Queiroz (Aaalq), personalidades e eventos
de destaque nos cem anos da escola. As últimas páginas
foram reservadas à citação dos nomes de todos
os diretores, docentes e funcionários, além de apresentar
a partitura musical com a letra do “Hino à Esalq”,
composta pelo professor aposentado do Departamento de Solos e Nutrição
de Plantas Zilmar Ziller Marcos, e a “Ode à Esalq”,
escrita por Salvador de Toledo Piza Jr.
Das
galinhas ao genoma
O livro
do centenário relata a trajetória de conquistas e
glórias que consagraram a Esalq. Segundo o editor Klaus Reichardt,
hoje professor aposentado do Departamento de Ciências Exatas
da Esalq, Um olhar entre o passado e o futuro é “uma
vista de olhos desde a criação da Escola Prática
de Agricultura até a Esalq de hoje”. No prefácio
destaca-se que as mudanças na ciência agrícola
foram enormes no século 20, a escola se adaptou a elas e,
já no século 21, apresenta-se como instituição
padrão em agronomia. Na verdade, ela não se adaptou
às mudanças, mas as promoveu decisivamente. Eis um
exemplo da “estatura das melhorias” ocorridas na agricultura
brasileira, sem dúvida por impulso de ações
da escola, lembrado por um agrônomo formado na Esalq em 1954
e reproduzido na obra: “Dizia ele que em sua fazenda levavam-se
cinco meses para produzir um frango de 1,5 quilo, com uma conversão
de 3 quilos de ração por quilo de frango; hoje, são
necessários 45 dias para se produzir um frango de 2 quilos,
com uma conversão de 1,8 kg/kg. Suas vacas produziam de 9
a 10 litros de leite diários; hoje produzem entre 30 e 35
litros. Nos anos 50 produziam-se 40 toneladas de cana por hectare,
com um rendimento de 90 quilos de açúcar por tonelada
de cana. Atualmente
a produtividade subiu para 100 toneladas por hectare, com rendimento
de 122 quilos de açúcar por tonelada”.
A diferença
não está só nos currais e nas granjas; está
em dezenas de setores, tanto da agricultura como da pecuária.
Veja-se o caso dos cerrados. Até 1960, lembra o prefácio,
os cerrados eram áreas improdutivas, aparentemente inaproveitáveis;
hoje, são o celeiro do Brasil Central, com produção
de algodão, soja e milho. E o que dizer do progresso tecnológico,
da bioinformática e seus genomas, das novas variedades de
sementes, da aplicação da energia nuclear nas plantas
e hortaliças? Em tudo isso há um pouco, ou muito,
da Esalq. São conquistas memoráveis que o livro conta
resumidamente, mesmo porque a comissão do centenário
optou por uma obra mais ilustrada do que textual.
Ilustrada
artisticamente, começando com fotografias históricas
ainda em preto-e-branco dos primeiros anos de vida da instituição,
quando o meio de condução e transporte mais usado
no campo era a carroça e, na cidade, os primeiros carros
a motor, e quando as máquinas agrícolas, vistas hoje,
são engenhos de museu. Assim é no começo da
obra, mas para a frente é um esplendor de cores, mostrando
o centenário prédio sede, criação de
gado, concentração em laboratórios, variedades
de sementes resistentes a pragas, produção de frutas,
alunos e professores em atividade e no lazer. No lazer, porque eles
merecem.
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As
pesquisas feitas na centenária Esalq, nas mais diferentes
áreas ligadas à agricultura, à pecuária
e ao ambiente, trazem inúmeros benefícios ao
campo brasileiro |
Academia
Paulistana de História
A
Academia Paulistana da História, fundada em 10 de outubro
de 1977, com sede na cidade de São Paulo, é uma sociedade
civil, sem fins lucrativos, de caráter científico
e cultural com o objetivo de congregar aqueles que se dedicam à
pesquisa histórica; incentivar o desenvolvimento na sociedade
de um espírito de respeito aos patrimônios históricos;
valorizar a história como ciência; destacar o papel
do historiador no campo da ciência, da cultura e do ensino.
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