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Ianelli nasceu em São Paulo, capital. Desde cedo dedicou-se ao desenho e, a partir de 1940, iniciou estudos em pintura mural e afresco. Durante 20 anos (1940-1960) desenvolveu uma pintura figurativa. Passou por diferentes fases, desde a pintura de retratos até marinhas. As marinhas geometrizadas deram lugar a depurada pesquisa abstrata, a partir de 1961. Entre os anos de 1966 e 1967, esteve na Europa, com o Prêmio de Viagem do Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Participou do movimento artístico brasileiro como expositor, membro de júri e de comissões organizadoras de Salões Oficiais. Curador de mostras no País e no exterior, fez parte do Conselho de Arte de Museus e da Comissão Nacional de Artes Plásticas. Expôs individualmente em vários países e participou de bienais internacionais, sendo premiado várias vezes. Conseguiu desenvolver uma trajetória de propostas abstratas muito pessoal e sintonizada com o que ocorria a sua volta.

Começou aos 18 anos de idade ao lado de artistas voltados ao métier da cor, como Volpi, Bonadei e Mário Zanini, desenvolvendo a técnica do desenho, algo “essencial para ser um bom artista”, enfatiza Ianelli. Seu irmão Thomaz (1932-2001) também conviveu com esses artistas. Arcângelo Ianelli desenvolveu técnicas de pintura ao ar livre e elaborou belos retratos, como o de sua filha Kátia, de 1956. A mostra dá oportunidade, por exemplo, de observar o filho brincando de pintor diante do cavalete do pai; nessa cena familiar, Ianelli anunciou intensa vibração cromática que estará presente nas suas obras futuras. Em 1951, a 1a. Bienal de São Paulo propagou a Abstração no País. O artista explicou que a Bienal abalou todo o mundo, porém somente na década de 1960 Ianelli fez sua opção.

A pintura abstrata originou-se do desejo de rivalizar em seu terreno próprio, em todo rigor como em toda liberdade, com as sugestões da música, como, por exemplo, em Kandinsky.

Neste ponto é interessante lembrar que a primeira aquarela deliberadamente abstrata de Kandinsky (manchas da cor justapostas sem intenção figurativa) data de 1910, o mesmo ano em que escreveu Do espiritual na arte. Foi em relação à música que Kandinsky descobriu a sua estética. Em 1912, o tcheco Kupka expôs, por sua vez, telas abstratas inspiradas pela música. Depois, em 1913, Malevitch surgiu com o Quadrado negro sobre o fundo branco: “O quadrado que expus”, disse Malevitch, “não era vazio, mas a sensibilidade pura no deserto”. Na Holanda, Mondrian procedeu a abstrações sucessivas que esgotavam metodicamente, por exemplo, a aparência da árvore.

Nessa retrospectiva, as primeiras obras expostas apresentam buscas construtivas do artista até atingir formas cada vez mais simples e planas, acompanhadas por vezes com riscas de giz. Seguem-se salas de fases geométricas mais conhecidas e, posteriormente, a pós-geométrica em plena vibração da cor. Rigor e coerência são elementos presentes também nas suas obras tridimensionais.

Emoção e razão

Em Ianelli a emoção se soma à razão, gerando uma abstração própria. A precisão que caracteriza seu construtivismo majestoso não elimina a matéria aveludada, a liberdade das composições, nem o colorido envolvente. Em suas obras permanece sempre a perfeita adequação de suas bases de artesão da cor. Porém, a técnica é um meio e não um fim. “O que tem que aparecer é a cor e não a tinta”, assinala o artista.

Ianelli trabalha sempre os elementos essenciais da pintura, forma e cor que comandam a celebração da luz. Os planos retos com “cortes ou pequenas frestas” – as suas janelas de luz – das últimas décadas são convites ao mergulho na cor, especialmente as últimas grandes telas. Nestas, as linhas dão lugar a vibrações cromáticas de extrema intensidade, conduzindo ao universo de busca luminosa.

A expressão pessoal caracteriza a sua trajetória. A sua residência atual é um oásis, no qual se conjugam atelier de pinturas e esculturas com jardins e espaço expositivo preparado para receber estudantes de todas as idades, guiados pelo próprio artista. Nesse lugar de muito trabalho e meditação, Ianelli desenvolve coerência inquestionável, estabelecendo pontes entre a arte e a vida.

O resultado não poderia ser melhor. Desenhos e óleos que pontuam a “promessa de uma expressão pessoal”, dessa assertiva do crítico Mário Pedrosa até as grandes telas abstratas, há muito o que ver e descobrir. As formas precisas dos tridimensionais em mármore branco e o relevo geométrico de telas são mais recentes.

Adjacente às buscas abstratas, guardando as pesquisas específicas de cada artista, está a fuga do mundo aparente e, para alguns, a procura ou a vertigem do “nada”. Em suas buscas Arcângelo Ianelli defronta-se com alguns eixos dos abstratos que precedem a abstração. Porém, nesse artista é detectável o que há de mais importante na forma: saber se resulta da necessidade interior ou não. Há uma intuição evidente em suas obras-respostas.

 

A exposição de Ianelli ficará na Pinacoteca do Estado (Praça da Luz, 2, São Paulo) até o dia 15 de dezembro, de terça a domingo, das 10 às 18 horas. A entrada é gratuita. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 229-9844

 

Elza Ajzenberg é diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e coordenadora do Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes da ECA

 




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