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Sistemas de irrigação mais eficientes e avançadas tecnologias para a utilização dos recursos hídricos estão no livro dos cientistas da USP

A reutilização da água é uma das melhores estratégias à disposição da indústria e da agricultura para combater a escassez do líquido, que a cada ano se torna mais raro e caro. É o que recomenda o livro Reúso de água, produzido pelo Núcleo de Informações em Saúde Ambiental (Nisam) da Faculdade de Saúde Pública da USP, que será lançado neste final de ano pela Editora Manole. Editado pelos professores Pedro Caetano Sanches Mancuso e Hilton Felício dos Santos, a obra traz 14 capítulos escritos por vários especialistas ligados à questão ambiental. “Tecnologia de reúso de água”, “Reúso de água na agricultura” e “Potencial de reúso de água no Brasil” são alguns dos textos publicados. “A produção de água de boa qualidade, dentro de padrões mundiais de potabilidade, torna-se cada vez mais onerosa e faz com que se priorize o abastecimento para consumo humano. Ao mesmo tempo, a adoção de tarifas escalonadas gradualmente vem tornando proibitivo o uso de água potabilizada para processos industriais”, lê-se no prefácio do livro, assinado pelo professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Arlindo Philippi Jr. e pelo presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), José Aurélio Boranga. “Em decorrência dessas tendências, uma alternativa para a atividade industrial é a utilização da água de reúso.”

Para as indústrias implementarem essa alternativa, Reúso de água é um instrumento indispensável. Ali se reúnem as informações necessárias para que as indústrias e as empresas agrícolas reaproveitem o precioso líquido – e, com isso, preservem o ambiente e obtenham lucros. Tome-se como exemplo o capítulo 9, “Tecnologia de reúso de água”, escrito pelo professor Pedro Caetano Mancuso. Nele, Mancuso apresenta alguns processos empregados na recuperação de águas já utilizadas e expõe diretrizes para a implantação de sistemas de tratamento. Entre os processos destacados estão, entre outros, as lagoas de estabilização – formadas por reservatórios artificiais onde ocorrem os fenômenos responsáveis pelo tratamento de esgotos –, os filtros biológicos (estruturas de concreto com enchimento de pedras ou de plástico, sobre o qual o esgoto é aspergido) e a ozonização, em que se utiliza o ozônio como um poderoso desinfetante.

 
Obra traz propostas compatíveis com a realidade brasileira

O capítulo 10, “Reúso de água na agricultura”, possui o mesmo caráter prático do artigo de Mancuso. Escrito pelo engenheiro Wanderley da Silva Paganini, da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), ele mostra as técnicas mais eficientes de lançar esgotos no solo, aumentar a disponibilidade de água e otimizar a irrigação. “Os projetos existentes sobre disposição dos esgotos no solo, sejam eles brutos ou em forma de efluentes de tratamentos, são ainda muito tímidos e, em alguns casos, realizados de maneira amadora, o que pode conduzir a avaliações distorcidas ou equivocadas”, adverte Paganini no artigo. “Assim sendo, recomendam-se cuidados especiais com a operação e manutenção, pois se bem concebido, bem construído e, principalmente, bem operado e mantido adequadamente, um sistema de reúso por disposição pode transformar potenciais fontes de poluição em fontes de produtividade agrícola, com seus ‘efeitos colaterais’ perfeitamente mantidos sob controle.” O engenheiro recomenda ainda que se busque aumentar a aceitação dos sistemas de reúso de água por disposição de esgotos e efluentes no solo – já que essa prática, segundo ele, é afetada por “fatores de natureza cultural”. “É oportuno frisar que, pelos custos envolvidos e pela barreira sanitária que representa, a tecnologia apresentada neste capítulo é compatível e altamente recomendável para países com as características do Brasil.”

Políticas públicas

Mas o livro não se limita a apresentar técnicas a ser usadas na indústria e na agricultura. Mais do que isso, a obra faz sugestões para a implantação de políticas públicas que visem à reutilização da água. O capítulo 3, “Potencial de reúso de água no Brasil: agricultura, indústria, município e recarga de aqüíferos”, por exemplo, traça um amplo panorama das possibilidades de reaproveitamento do líquido e indica as ações necessárias para isso. “A incorporação da filosofia de reúso de água nos planos nacionais de gestão de recursos hídricos e desenvolvimento agrícola é de fundamental importância para regiões áridas e semi-áridas, e naquelas onde a demanda é precariamente satisfeita pela transposição de água de bacias adjacentes”, recomenda o autor do capítulo, o professor da Escola Politécnica da USP Ivanildo Hespanhol. “Essa prática implica redução de custos, principalmente se é considerada em associação com novos projetos de sistemas de tratamento, uma vez que os padrões de qualidade de efluentes, necessários para diversos tipos de uso, são menos restritivos do que os necessários para proteção ambiental.”

Para Hespanhol, é necessário que o governo estabeleça uma política de reúso, definindo objetivos e metas, modalidades, áreas prioritárias e condições locais ou regionais para a implantação da prática. As autoridades públicas precisam também – continua o professor – propor “estruturas institucionais” para a promoção e gestão de programas e projetos nacionais, regionais e locais, estabelecer um “arcabouço legal”, incluindo diretrizes, padrões e códigos de prática, e criar critérios para a avaliação econômico-financeira de programas e projetos. É preciso formar canais de comunicação visando à educação ambiental e à participação pública nos programas e montar um sistema de monitoramento, avaliação e divulgação dos projetos implementados. “Como existe no Brasil pouca experiência em reúso planejado e institucionalizado, é necessário implementar projetos piloto. Essas unidades experimentais devem cobrir todos os aspectos das diversas modalidades de reúso, principalmente os relativos ao setor agrícola, e deverão fornecer subsídios para o desenvolvimento de padrões e códigos de prática, adaptados às condições e características nacionais”, recomenda Hespanhol. “Uma vez concluída a fase experimental, as unidades piloto serão transformadas em sistemas de demonstração, objetivando treinamento, pesquisa e o desenvolvimento do setor.”

Outros artigos do livro discutem aspectos igualmente importantes da mesma questão, como “Custos dos sistemas de reúso de água” (capítulo 12), “A legislação de reúso de água” (capítulo 8) e “Saúde pública e reúso agrícola de esgotos e biossólidos” (capítulo 4). Dados mais técnicos são explicados em textos como “Critérios e padrões de qualidade da água” (capítulo 5), “Transporte de poluentes em meios aquáticos: aspectos conceituais e de modelagem matemática” (capítulo 6) e “Autodepuração dos cursos d’água” (capítulo 7). O último capítulo, “Sistemas de reúso de água: projetos e estudo de casos”, apresenta os resultados de cinco programas implantados no Estado de São Paulo. Um glossário de termos técnicos conclui o livro. No prefácio, Philippi Jr. e Aurélio Boranga afirmam que Reúso de água provavelmente se constituirá em “livro de cabeceira” dos profissionais das áreas de saneamento, recursos hídricos e ambiente. Eles têm razão.

 

 
Reúso de água, de Pedro Caetano Sanches Mancuso e Hilton Felício dos Santos (editores), Núcleo de Informações em Saúde Ambiental (Nisam) da Faculdade de Saúde Pública da USP, Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) e Editora Manole (telefone 11 4196-6000), 590 páginas, R$ 74,00. A data de lançamento, prevista para o final deste ano, ainda não tinha sido definida pela editora até a semana passada

 

 

 

 

Águas doces no Brasil
ganha segunda edição

 

Também produzido pela USP, outro documento indispensável para a gestão da água no Brasil está à disposição dos profissionais da área. Será lançada nesta segunda-feira, dia 18, às 18 horas, na Livraria da Vila (rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena, São Paulo), a segunda edição de Águas doces no Brasil – Capital ecológico, uso e conservação. Organizado por três dos maiores especialistas brasileiros em recursos hídricos – os professores Aldo da Cunha Rebouças, Benedito Braga e José Galizia Tundisi, todos da USP –, o livro é uma publicação do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, da Academia Brasileira de Ciências e da Editora Escrituras. A primeira edição foi lançada em 1999.
Nesta segunda edição revisada, a obra sai com 738 páginas e 21 artigos escritos por 31 especialistas. Nela, os autores analisam os potenciais brasileiros de água doce – incluindo as águas superficiais, chuvas e águas subterrâneas – e os vários aspectos dos recursos hídricos ligados aos setores econômicos, à saúde pública e ao saneamento básico.

Águas doces no Brasil – Capital ecológico, uso e conservação, de Aldo da Cunha Rebouças, Benedito Braga e José Galizia Tundisi (organizadores), segunda edição, 738 páginas, R$ 80,00 (o livro pode ser adquirido no Instituto de Estudos Avançados da USP, pelo telefone 3091-3919).

 




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