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Fisicamente, a Cidade Universitária é um pequeno bairro de São Paulo, sujeito como todos os demais à violência. É certo que possui características muito especiais, como administração autônoma, ausência de casas residenciais — à exceção do conjunto que acolhe bolsistas nacionais e estrangeiros —, edifícios que abrigam 19 das 23 unidades da USP na capital, além de institutos de pesquisa como o IPT e o Ipen, extensas áreas gramadas, bosques e até reservas de mata atlântica. Tem intensa movimentação de automóveis e de pessoas, tanto integrantes da comunidade acadêmica e de funcionários como de visitantes e daqueles que usam o campus como passagem para outros bairros. Um território tradicionalmente considerado livre, marco de resistência histórica às tentativas de cerceamento das liberdades políticas à época dos governos militares. Mas com certeza não é um território livre para a bandidagem; está sujeito a regulamentos, controle de entrada e saída, principalmente em fins de semana, e em matéria de trânsito à legislação federal como qualquer outra área pública. A segurança das pessoas e do patrimônio é preocupação constante da administração da Universidade. Comparativamente, o campus do Butantã, com 4 milhões de metros quadrados, parcela principal de antiga fazenda adquirida pelo governo paulista para abrigar a sede e parte das unidades de ensino e pesquisa da USP, é certamente o território com maior aparato e programas educacionais na área de segurança da capital paulistana. Alguns destaques de providências em andamento: programa de segurança preventiva comunitária, implantado em 1999 e reformulado em 2002; programa de prevenção da violência contra a mulher, criado em 1998 mediante convênio com o Núcleo de Estudos de Violência contra a Mulher (Nemge); programa para menores carentes de bairros vizinhos que, por intermédio de projetos como o Avizinhar, são beneficiados com atividades de lazer e cursos de iniciação profissional; campanha de educação para o trânsito, que no meio do próximo ano letivo entra na fase final. E uma novidade já acertada para começar quando chegarem os novos alunos de 2003: a criação de um corpo de voluntários de segurança, constituído de docentes, estudantes, pais de alunos e funcionários, com o objetivo de envolver a comunidade com questões de segurança e qualidade de vida nos campi da USP. Observe-se que as ações preventivas e repressivas contam com a participação da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Delegacia da Mulher e da Polícia Judiciária.

O preço da eterna vigilância

Apesar de tudo isso e da sensível queda nos índices da criminalidade, especialmente furtos e infrações de trânsito, a Cidade Universitária ainda registra casos de violência. Alguns deles ocuparam o noticiário da imprensa paulistana nos últimos dias, notadamente seis — segundo dados oficiais, foram um de estupro dentro do campus, dois fora do campus mas envolvendo alunas da USP e, de acordo com a polícia, mais três em bairros próximos, totalizando seis casos. De acordo com o prefeito da Cidade Universitária, professor Geraldo Massucato, e do diretor de Operações do campus, Ronaldo Elias Pena, desde o primeiro caso de violência sexual, registrado em 2 de outubro, a Universidade não hesitou em reforçar as medidas preventivas e de controle, em conjunto com os órgãos policiais da jurisdição, e o acusado foi preso dois dias depois. Os demais casos estão sob investigação do comando da Delegacia da Mulher.

Massucato e Pena afirmam em documento que “a eterna vigilância praticada pelos meios de segurança da USP e de qualquer lugar no mundo, segundo critérios de vários estudos internacionais sobre a mobilidade de violência e a criminologia, seria insuficiente para conter ações individuais pontuais de um maníaco, psicopata ou serial killer, que age no alvo de suas vítimas e na oportunidade oferecida pela ocasião”. Recomendam ainda cuidado para “não fazer desmoronar todo um trabalho criterioso, avançado, científico dos serviços de segurança, em troca da notícia oportunística e apologética do crime”.

Entre outras medidas, de maior prazo, a Universidade está divulgando cartazes e cartilhas (leia texto abaixo) específicas de prevenção e cuidados para todos os usuários do campus, especialmente alunas, professoras, funcionárias e mulheres visitantes, colocando à sua disposição, dia e noite, os serviços de segurança. O efetivo da Guarda Universitária, agora de 64 pessoas, será acrescido de mais 48. “Nossos limites constitucionais” — acrescenta o documento — “impedem que façamos mais pela comunidade acadêmica no que tange a área de segurança; esses limites serão complementados em sua extensão pela Polícia Judiciária, à qual caberá a investigação, e à Polícia Militar (93o DP), através do policiamento preventivo no campus.”

Ao anunciar os primeiros resultados do Programa de Segurança Preventiva, Massucato disse que “o trabalho de patrulha comunitária com integração de todo o sistema de segurança, serviços terceirizados, vigias de unidades de ensino, guardas universitários e polícia militar, sob a liderança de uma metodologia preventiva, foi capaz de reduzir os índices de furtos de veículos, roubos e agressões em mais de 50%, numa área onde a criminalidade desenvolve-se em grandes proporções na cidade de São Paulo”. Desde a campanha do trânsito, os furtos de carros caíram de 25 para 5 por mês.

Relativamente à melhor iluminação do campus, uma das reivindicações dos alunos, Massucato disse que foram gastos mais de R$ 1,2 milhão na ampliação da rede elétrica, especialmente nos locais mais críticos. “Se ainda há outros pontos negros, é porque faltaram recursos.” No acesso à estação da Fepasa pela Ponte da Cidade Universitária, foi providenciada iluminação com holofotes mais poderosos e o mato cortado, não apenas do lado da USP como também no terreno além do muro.

O prefeito destaca o apoio recebido do reitor Adolpho José Melfi, que já presidiu a Comissão de Segurança e Qualidade de Vida no Campus. Outro entendimento conseguido com estudantes está relacionado com a presença da PM no campus. Massucato diz que, no início de sua administração, teve de dialogar longamente com diretórios acadêmicos de várias unidades, especialmente Escola Politécnica, Instituto de Geociências, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, que manifestavam certa rejeição à presença da polícia no campus, temendo a redução de liberdade. Disse que fez ver aos alunos que o ranço decorrente dos anos de ditadura não tinha mais razão de ser e que os tempos são outros. A oposição de então agora é governo. Um convênio prevê a livre circulação, inclusive em fins de semana, de 12 PMs, distribuídos por três turnos. Integrantes da 3a Delegacia da Mulher, sob o comando da delegada Maria Cristina Mazzarello, atendem a casos que envolvam alunas, professoras ou funcionárias.

Trabalho voluntário

Massucato discorda de alguns estudantes quando sugerem que o fato de a USP ser murada e manter o controle de pessoas em finais de semana concorra para agravar a violência. O prefeito acha que o contrário é que é verdadeiro: “Se abrir é que vai degringolar”. E anuncia mais rigor nas entradas de pedestres. Serão construídas guaritas mais altas, dando ao vigilante visão mais ampla da área, e cancelas duplas, de tal modo que se um suspeito passar pelo primeiro obstáculo poderá ser contido pelo segundo, à semelhança das catracas usadas pelos bancos. Maior rigor também no trânsito; a partir de julho do próximo ano, quem cometer infração será multado pela CET como em qualquer outra área da cidade. A campanha previu uma fase apenas educativa de ano e meio, tempo necessário para providenciar as placas de sinalização.

Mas o que entusiasma mesmo o prefeito é a criação, que ele mesmo sugeriu depois de ouvir um professor norte-americano que dá aulas na USP, do corpo de voluntários de segurança. Os que se apresentarem para integrá-lo passarão por uma fase de orientação para que saibam como atuar e conheçam seus limites. Eis um exemplo de atuação: permanecer no campus durante algumas horas, com telefone celular próprio, cujo número esteja suficientemente divulgado previamente, à espera de um pedido de ajuda. O voluntário tem a opção de atender ao pedido diretamente ou avisar a guarda universitária para que o faça. Massucato diz que, ao comentar num círculo de amigos a idéia de criação do corpo de voluntários, os pais de uma aluna se dispuseram imediatamente a aderir ao plano, prometendo permanecer no campus dois dias por semana, no horário de aula da filha. Os voluntários receberão carteirinha especial e crachá de identificação.

 

 

Locais inde se deve tomar mais cuidado
Tome cuidados especiais ao sair pelas portarias de pedestres nos seguintes locais: Estrada do Mercadinho, Portão Fepasa, Portão Vila Indiana, Hospital Universitário, São Remo e portão Principal. Preferencialmente, esteja sempre acompanhada ao circular por esses locais.

 

 

Recomendações às mulheres

Estas são as recomendações contidas na cartilha que a Reitoria da USP está distribuindo especialmente para as mulheres — alunas, professoras, funcionárias ou visitantes.

1. Estacione seu veículo próximo de locais onde haja movimento de pessoas. Evite os lugares distantes dos estacionamentos.

2. Ao deixar o veículo e dirigir-se para sua unidade, faça-o sempre na presença de pessoas ou peça o auxílio da segurança do campus, caso se sinta insegura.

3. Ao estacionar seu veículo, verifique se há pessoas suspeitas nas imediações, como alguém sozinho nas proximidades.

4. Mantenha sempre os vidros de seu veículo fechados, ao transitar ou estacionar.

5. Ao deixar a unidade em qualquer horário e dirigir-se ao veículo, faça-o sempre acompanhada. Caso não encontre nenhum voluntário para acompanhá-la, solicite alguém da segurança para fazê-lo.

6. Evite permanecer sozinha no interior do veículo estacionado. Ao estacionar, saia imediatamente do veículo.

7. Se notar pessoas suspeitas nas imediações do estacionamento, ligue para a segurança.

8. Nos deslocamentos no interior do campus, esteja sempre acompanhada de amigos ou solicite apoio da segurança.

9. Tome cuidados especiais ao sair pelas portarias de pedestres nos seguintes locais: Estrada do Mercadinho, Portão Fepasa, Portão Vila Indiana, Hospital Universitário, São Remo e Portão Principal. Preferencialmente esteja sempre acompanhada ao circular por esses locais.

10. Mude sua rotina diária: estacione em locais diferentes, caminhe mudando o trajeto e, de preferência, acompanhada. Se notar que alguém a está seguindo, ligue para a segurança.

11. Se for vítima de algum tipo de violência, denuncie. A Guarda Universitária da USP possui treinamento especial para tratar das vítimas de violência contra a mulher e dará todo apoio necessário, desde o atendimento especial até o encaminhamento da ocorrência, com total preservação da intimidade.

12. Ao usar o banheiro, faça-o quando houver movimentação de pessoas do lado externo. Não deixe objetos pessoais, bolsas ou equipamentos sobre lavatórios, levando-os consigo.

13. Não circule pelo campus com bolsas contendo laptops ou outros tipos de equipamentos que chamem a atenção. Seja discreta com seus pertences, como bolsas e carteiras.

14. À noite, use os caixas eletrônicos no interior das unidades ou aqueles que possuam vigilância próxima.

15. Ao circular pelo campus à noite e verificar locais com mato alto ou falta de iluminação, ligue e informe à segurança.

16. Se tiver notícias de vítimas de violência sexual ou autores dessa violência, ligue para a segurrança e denuncie. Você não precisa se identificar, mas se preferir fazê-lo, sua identidade será totalmente preservada.

17. Evite namorar em veículos em locais ermos a qualquer hora do dia.

18. Ao deslocar-se para fora do campus até a estação de trem, faça-o sempre acompanhada. Caso sinta-se insegura, peça auxílio à segurança do portão.

19. As moradoras do Crusp que, nos finais de semana, à noite, fazem uso da estação de trem e utilizam a Ponte da Cidade Universitária como trajeto para o campus, devem fazê-lo sempre acompanhadas. Se preferir, solicite por telefone o apoio de seguranças da CPTM ou do campus.

 




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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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