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Borges: discussão positiva

Já estáerca de 1,30% dos alunos de graduação da USP são negros, 8,34%, pardos, 9,84%, amarelos, 0,48%, indígenas, 79,54%, brancos e outros 0,50% não definiram sua cor. A estimativa consta do 1o Censo Étnico Racial da Universidade de São Paulo, conduzido pela Comissão de Políticas Públicas para a População Negra (CPPN), durante o período de matrícula do segundo semestre de 2001. O trabalho contou com patrocínio da Fuvest e foi realizado através de questionário disponibilizado nas secretarias das unidades e em versão eletrônica no sistema Júpiter. “Os números do censo trazem uma discussão politicamente positiva para dentro da Universidade, já que nenhum candidato à Presidência tocou no assunto com a competência devida durante a campanha presidencial. Trata-se de uma luz no escuro, que proporciona informações para o planejamento de ações futuras”, declara o professor João Baptista Borges Pereira, presidente da CPPN.

Dos 38.930 estudantes que se matricularam, 13.925 responderam voluntariamente ao questionário, o que corresponde a 37% dos alunos de graduação. A pergunta principal – “Qual a sua cor?” – foi apresentada de forma fechada, ou seja, de acordo com as categorias utilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em razão de a resposta ser voluntária e envolver a variável de identidade racial, uma vez que não se sabe qual grupo étnico tem maior ou menor propensão a manifestar sua cor, realizou-se um segundo levantamento com o objetivo de verificar se os dados obtidos eram representativos do universo total dos alunos de graduação da USP. Procedeu-se a uma pesquisa amostral, em que foram entrevistados 3.890 alunos, escolhidos através de sorteio aleatório e distribuídos eqüitativamente entre as diversas áreas de conhecimento.

Segundo Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, coordenador do projeto e membro da CPPN, os dados dessa pesquisa foram submetidos a testes estatísticos de aderência e confrontados com os números do censo. Dentro desses critérios, verificou-se uma margem de diferença de 3% entre os dois levantamentos. Esse percentual de diferença valida os resultados obtidos como representativos do conjunto de alunos de graduação da Universidade. “Esse deve ser o primeiro e único censo étnico-racial da USP. Agora, a Universidade precisa tomar providências para dar continuidade ao trabalho iniciado com esse mapeamento da população estudantil. Utilizar os dados para definir políticas públicas de longo prazo, tratando da questão do negro e também do estudante carente que ingressa na faculdade, mas que por uma série de motivos não consegue terminar o curso”, aponta o coordenador.

Os dados do recenseamento demonstram que existe um déficit de alunos negros na USP. Enquanto os negros correspondem a 34,30% da população do Estado de São Paulo, no universo da graduação da Universidade eles representam somente 9,64% dos alunos. Lembrando que, para efeito de políticas públicas, considera-se afro-descendente aquele que opta pelas alternativas de cor parda ou preta, no caso do censo, respectivamente, são 8,30% e 1,34% dos estudantes.

Em comparação com universidades de outros Estados, das quais os pesquisadores possuem dados, o percentual de negros da USP é o menor de todos. Na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, os alunos negros correspondem a 32,30% dos quadros de graduação, sendo que 52,40% da população do Distrito Federal é negra. Na Universidade Federal do Paraná, os estudantes negros são 8,60%, enquanto a raça negra representa 23% da população estadual.

O percentual de negros na USP diminui ainda mais quando se considera que a pergunta “Qual a sua cor?” foi feita de forma aberta durante as entrevistas da pesquisa amostral. Apenas 4,50% dos entrevistados se definiram como negros. “É um número muito importante, pois reflete os que realmente têm uma identidade racial e reivindicam o nome ‘negro’. Melhor, aqueles que conseguiram superar as adversidades da pobreza e do vestibular, conquistando um espaço na universidade pública”, comenta Guimarães.

Além da distribuição de cor dos alunos de graduação da USP como um todo, o censo analisou, através da pesquisa amostral, a distribuição de estudantes pelas três áreas de conhecimento. Nas Biológicas, área com menor número de negros, 77,60% dos alunos são brancos, 5,90%, pardos, 0,30%, negros, 13,60%, amarelos e 0,60%, indígenas. Já nas Exatas, 73,70% dos estudantes têm a cor branca, 6,20%, parda, 1%, negra, 17,20%, amarela e 0,50%, indígenas.

A área de Humanas tem a maior concentração de negros: são 7,80% de pardos e 1,80% de negros. Os brancos representam 78,30% das humanidades, os amarelos, 10,10% e os indígenas, 0,40%. Segundo Guimarães, o levantamento mostra que existe uma questão de identidade social entre a cor do indivíduo e a área de conhecimento. “Fica nítido que muitas vezes a escolha do curso é feita também em razão do grau de dificuldade de acesso através do vestibular”, explica. “O problema extravasa a questão da competitividade, pois não basta entrar, é preciso ficar na Universidade. Na área de Humanas está a maior parte dos cursos noturnos, o que facilita a vida dos alunos que precisam trabalhar para viver e têm dificuldades em freqüentar regularmente as aulas. Esses cursos também permitem aos estudantes esticarem sua formação”, complementa Borges.

Para os pesquisadores, além da dificuldade de acesso, existe o problema da continuidade. “Há uma grande evasão na USP. Muitos alunos carentes acabam por abandonar os cursos. Uma solução, talvez, seria incluir o quesito cor na ficha de matrícula. Assim poderíamos acompanhar o desempenho do aluno negro durante sua vida acadêmica e quem sabe tomar medidas para garantir sua formação, equilibrando a balança da desigualdade social”, explica o coordenador do censo.

Desigualdade – De acordo com o presidente da CPPN, a discussão sobre a inserção social e estudantil do negro acaba recaindo na Universidade, mas o problema já começa na pré-escola. Enquanto a escolaridade é algo muito valorizado pela classe média, as comunidades de baixa renda conseguem, no máximo, cursar o ensino público. Trata-se de uma questão de competição, pois os negros e a população carente não têm condições socioeconômicas de se preparar para o vestibular. “A população negra é marcada pelos obstáculos da pobreza, por isso sua mobilidade social acontece de forma inconstante. Em geral, aqueles que se destacam e conseguem alcançar algum avanço ficam isolados entre as gerações anteriores e as que estão por vir. Ao contrário da parcela branca, que encontra meios para formar seus filhos e evitar o declínio social. Já o negro tem de ser muito melhor que os outros”, conta Guimarães.

“A USP é um microcosmo da sociedade brasileira e reflete todas as suas idiossincrasias”, diz Borges. “Existe um distanciamento que é provocado pela própria estrutura da comunidade uspiana. As pessoas estão desligadas do problema do negro e do estudante carente. Nosso trabalho é uma cruzada de convencimento para despertar a discussão sobre inserção social e acadêmica, colocando a USP numa posição de vanguarda em termos de responsabilidade social.”

 

A íntegra do 1o Censo Étnico Racial da USP pode ser consultada na página eletrônica www.usp.br/politicaspublicas

 

 

Identidade estudantil

Os pesquisadores também procuraram determinar o perfil do aluno que respondeu às perguntas do censo. Acompanhe nas tabelas abaixo.

 




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