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Desde clipes e propagandas até documentários feitos por comunidades carentes. Essas são algumas das variadas categorias dos vídeos que serão exibidos na “Mostra do Audiovisual Paulista”. Já em sua 15a edição, ela apresenta cineastas consagrados e lança novos autores, destacando as inovações na linguagem cinematográfica alcançadas recentemente.

VinteDez remete a 2010, representando o futuro promissor para os jovens do hip-hop

O filme que abre o evento, nesta terça, às 20h, o inédito Demônios (2003), de Christian Saghaard (ECA/USP), é uma das produções experimentais, tanto na construção de seu roteiro como nas próprias imagens. Primeiro, os sonhos dos próprios atores e do autor constituíram o argumento do curta-metragem. Depois, já durante as filmagens, feitas na chamada Boca do lixo de São Paulo, interferências das locações – semáforos, boates e ruas – foram aproveitadas. As cenas, que misturam atores profissionais com pessoas que sequer sabiam estar sendo filmadas, não apresentam nenhum diálogo. Dessa maneira, a estrutura é ao mesmo tempo onírica e documental, em menor proporção. A história de Demônios, inspirada em conto homônimo de Aluísio Azevedo, retrata, portanto, a noite no universo underground do centro de São Paulo, através de dois personagens reais, descobertos em entrevistas coletadas em pesquisas dos produtores do filme. A cor vermelha é predominante, remetendo ao sangue que jorra da violência e das operações transformadoras que acontecem durante a noite. Porém, “as pessoas nunca morrem. Vivos e fantasmas ocupam o mesmo espaço”, explica Saghaard.

Projeto com jovens carentes resulta no curta Tato

O diretor de Demônios também coordenou oficinas audiovisuais em comunidades periféricas que apresentam agora na mostra alguns dos resultados. Cinco jovens da favela Monte Azul, por exemplo, produziram o curta Tato (2001), que mostra a rotina de um rapaz ao procurar emprego, do ponto de vista das pessoas que vivem essa situação com maior freqüência. Após consecutivas recusas, o jovem Tato se envolve com o skate e fala de suas esperanças. Mais uma vez, são alternadas técnicas de ficção com as de documentário, integradas na realidade que pretendem transmitir.

Seis imigrantes narram suas vidas numa cadeira de barbeiro

Retrospectiva de documentários – Mas além dessa estrutura ficcional aliada a técnicas documentais, também será exibida a Doc.Paulista. Entre as 38 obras desta seção, figuram Tata Amaral e o organizador da mostra, Francisco César Filho (ECA/USP), com o documentário VinteDez (2001). Os diretores que, juntos ou não, já retrataram em outros trabalhos a cultura urbana, agora relatam, por meio de depoimentos de jovens da periferia de Santo André, as manifestações da cultura hip-hop. “Eles são um exemplo de cidadania para todos nós”, acredita César Filho, ao contar que, apesar de muito pobres, esses adolescentes com idade entre 14 e 18 anos organizam projetos artísticos em suas comunidades, em busca de um futuro mais promissor para todos que dela participam. É justamente a esse “futuro melhor” que o título do vídeo remete. “Vintedez” é como os jovens costumam chamar o ano de 2010, futuro próximo em que se enxergam e se inserem.

Filme
experimental Demônios mistura pesadelo e realidade

Outro documentário da retrospectiva é o de José Roberto Torero (ECA/USP), O mundo cabe numa cadeira de barbeiro (2002). O diretor registrou depoimentos de seis imigrantes típicos de seis países diferentes, sentados numa cadeira de barbeiro, onde comumente ocorrem conversas e confissões. Assunto que não deixa de permear os relatos é o futebol e seus times. O que não é de causar estranhamento, já que Torero escreve semanalmente no caderno de esportes da Folha de S. Paulo, e o futebol é uma característica mais tipicamente brasileira do que estrangeira dos entrevistados. Seis países, seis depoimentos, seis cabeças e cabelos distintos. A investigação da migração no País é realizada de maneira que o indivíduo seja revisto, em vez das massas.

Essas são apenas algumas das produções que a mostra apresenta. Há mais 290 delas, que incluem ainda making of de Cidade de Deus e O Invasor e vídeos de circulação mais restrita de nomes conhecidos, como o videoclipe Um bom lugar de Beto Brant, com o rapper Sabotage, que também participou das filmagens de O invasor e foi recentemente assassinado, e Guarnicê 2000 – Fragmentos e souvenirs, de Carlos Reichenbach.

A “Mostra do Audiovisual Paulista” acontece a partir desta terça até domingo, no Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 3113-3651). Os horários das sessões são: 12h30, 14h, 15h30, 17h, 18h30 e 19h30 ou 20h, e em cada uma delas são exibidos vários vídeos. Entrada franca.

 

 




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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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