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No
filme, os dois protagonistas se tornam
imigrantes em Nova York |
O
filme Dois perdidos numa noite suja foi, desde suas primeiras apresentações,
muito criticado pelas modificações que o diretor José
Joffily e o roteirista Paulo Halm fizeram no texto original de Plínio
Marcos. Primeiro, o cenário foi transferido para Nova York.
Assim, os dois personagens se transformaram em imigrantes. E Paco
se tornou Rita. A princípio um garoto, tanto na peça
como nos primeiros minutos do filme (já que ela finge ser
um menino), Paco revela-se uma mulher na nova versão cinematográfica.
A maior parte da ação e da relação do
casal, formado por Rita (Débora Falabella) e Tonho (Roberto
Bontempo), se passa num galpão onde sua convivência
é obrigatória e conflituosa. A tensão advém
especialmente da construção das personalidades, elaboradas
não só com base na peça que deu origem ao filme,
mas acrescidas de sentimentos e características de outros
personagens de Plínio Marcos.
De
alguma maneira, o cenário também acabou contribuindo
para a atualidade da história, que foi elaborada pelo polêmico
teatrólogo há cerca de 40 anos. É difícil
ver o filme em pleno ataque norte-americano ao Iraque e não
conferir maior atenção à locação
escolhida. Algumas imagens remetem, em segundo plano, ao atentado
de 11 de setembro. Já muitas delas mostram uma evidente hostilidade
dos Estados Unidos com os estrangeiros que recebem. Sobre o fracasso
que resulta da busca do sonho americano, Joffily afirma que “é
o chamado país do futuro buscando o futuro em outro país”.
Para ele, mostrar a vida do imigrante em Nova York, cidade símbolo
da imigração, é mais contemporâneo. O
diretor lembra, no entanto, que a dramaturgia de Plínio é
universal. “Avaliei o que era essencial e o que era acessório
na peça para fazer as modificações”,
afirma.
A ausência
de solidariedade entre pessoas mal-sucedidas, que permeia a peça,
também é o cerne do filme. Tonho tenta alcançar
essa solidariedade em Rita, por ela ser brasileira, assim que se
conhecem casualmente. Busca que não se concretiza. Os personagens
também não atingiram aquilo que foram procurar nos
Estados Unidos. Rita não se tornou uma cantora mais famosa
que a Madonna e Tonho não conseguiu juntar dinheiro para
sua família. Ao contrário, chegou a ser detido em
uma prisão norte-americana. Este, aliás, é
o momento de intersecção da narrativa, quando Tonho
vê novamente a Estátua da Liberdade, como se chegasse
pela segunda vez ao país. A edição do filme
alternou o verão, espécie de metáfora de um
passado feliz, anterior à ida de Tonho para a prisão,
e o inverno rigoroso, que mostra a realidade dura dos imigrantes.
Arnaldo
Antunes, presença ultimamente constante nas trilhas sonoras
do cinema nacional, é que finaliza a película. “A
canção que ele compôs acrescenta elementos ao
filme. Ela sugere sentimentos que estavam submersos nos personagens”,
esclarece Joffily. Como diz a música: “Mas se já
te perdi/ Como vou me perder/ Se eu já me perdi/ Quando perdi
você”.
O filme Dois perdidos numa noite suja tem pré-estréia
nesta quinta, às 19h, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo
4, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). Após a sessão,
haverá debate com o diretor José Joffily. A entrada
é franca, mediante apresentação de senha, que
pode ser retirada a partir das 18h30, no favo 37.
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