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Lendas
e histórias musicadas em peça que mistura dança
música e manipulação de bonecos |
A
princípio, seria uma peça sobre a lenda
da cabeça-de-cuia, originária de Piauí, sobre
um menino que matou sua mãe porque ela não tinha comida
para lhe dar. Para saber um pouco mais sobre essa história,
o ator Joaz Campos viajou até lá e acabou retornando
com uma bagagem bem maior do que a que foi buscar. Ele recolheu,
não só nesse Estado, mas em todo seu trajeto muitas
histórias populares que mereciam ser contadas. Ou melhor,
cantadas. Foi quando seu projeto mudou. A peça se tornou
um musical, com histórias narradas através de canções
populares já existentes e também que os próprios
atores musicaram. Assim é Musicausos, projeto coletivo dos
atores Joaz Campos e Tânia Piffer (ambos da EAD/USP) e dos
músicos Alexandre Santos, André Pereira e Wilson Rocha,
sob a orientação de Georgette Fadel. Seus primeiros
ensaios foram nos arredores da ECA e depois de algumas apresentações,
incluindo uma na Febem, ela está em curta temporada no Teatro
X.
A proposta
do próprio grupo, a Cia. Pé no Canto, é integrar
ao teatro música, dança e até mesmo manipulação
de bonecos. O interesse pela música é característica
marcante de seus participantes. Os dois atores cantam e tocam instrumentos
variados o tempo todo no palco. Tambores, cítara, viola,
objetos cotidianos e materiais reciclados são utilizados
para produzir sonoridades que remetem a folhas secas, água,
vegetação e animais. Como diz o ator, “cada
música tem o seu clima”. A própria construção
dos personagens se deu pelo caminho inverso ao comumente realizado.
Campos e Tânia partiram das sonoridades e das vozes dos personagens
para depois construir suas personalidades. “Parávamos
para cantar a música e o corpo do personagem vinha a partir
do timbre”, explica ele.
Dessa
maneira é que foram retratadas as imagens de mãe Oxum,
do boto amazônico, ou do menino com cabeça em forma
de cuia, e também das populações regionais
que neles creêm. O cabeça-de-cuia, por exemplo, amedronta
o povo ribeirinho do Parnaíba: “ele mora no rio e a
cada sete anos afoga e devora uma moça para se livrar da
praga que lhe foi rogada por sua mãe”. Porém,
além das lendas, personagens de algumas regiões e
também de cidades foram lembrados. É o caso das lavadeiras
que o ator viu em Pernambuco, que precisavam caminhar longas distâncias
para chegar ao rio. A imagem delas foi reproduzida na peça
traçando um paralelo com as cidades: ao mesmo tempo em que
essas mulheres sofrem com a seca, falta água também
para um menino de periferia que reclama de sua situação
cantando um rap. Tudo é narrado com simplicidade: “Queremos
fazer o espectador refletir com a simplicidade do que temos em nosso
país. Não queremos usar truques”, declara Campos.
Nas passagens de uma cena para outra, não há blecautes,
nem cenários, e os atores trocam suas roupas às vistas
do público, já que um varal com os figurinos estendidos
fica no palco.
A viagem ao Piauí resultou num passeio por tradições
populares, mostrando o que cada região tem para contar.
Musicausos
fica em cartaz até o dia 27 de abril, com apresentações
aos sábados e domingos, às 17h, no Teatro X, que fica
na Praça Roosevelt, 124, tel. 3231-0178. Os ingressos custam
R$ 5,00 e R$ 10,00.
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