Criação
de medicamentos mais eficazes, melhoria do diagnóstico e
tratamento de várias doenças, seleção
de espécies mais rentáveis para a agricultura e a
pecuária são algumas das aplicações
práticas que a pesquisa genética tem permitido aos
cientistas desenvolver. Entretanto, para que isso ocorra, a identificação
e determinação do lugar de um gene nas células
de qualquer ser vivo – atos que, em conjunto, formam o que
chamamos de seqüenciamento genético – não
bastam, pois é preciso ir mais além, descobrindo como
os genes interagem entre si, formando os organismos vivos e controlando
seu metabolismo.
Peça-chave
nesse processo é a bioinformática, ramo da ciência
que se dedica, entre outros temas, à construção
de modelos matemáticos capazes de descrever o funcionamento
dos genes por meio da análise de seus “sinais”,
que são variações do tempo necessário
para a produção das proteínas mensageiras (mRNA),
transportadoras das ordens emitidas dos genes para as células.
Com a meta de congregar pesquisadores da área e de outros
setores do conhecimento, que se utilizam da bioinformática
como uma ferramenta para seus estudos, a USP realizará, entre
os dias 14 e 16 de maio, no Centro de Convenções de
Ribeirão Preto, a 1ª International Conference on Bioinformatics
and Computational Biology (Icobicobi).
O evento
é uma iniciativa do Núcleo de Bioinformática
do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da
USP, o Bioinfo, em parceria com o Instituto de Química (IQ),
a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), o
Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), a Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), a Faculdade de Ciências
Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), o Instituto
de Biociências (IB) e o Instituto de Física de São
Carlos (IFSC) – todas unidades que integram o recém-criado
Programa de Doutorado Interunidades em Bioinformática da
USP –, e conta com o apoio das Pró-Reitorias de Pesquisa
e de Pós-Graduação. “Estamos abertos
a parcerias com a iniciativa privada para a realização
do evento”, afirma Júnior Barreira, professor do IME,
presidente do Bioinfo e do Comitê Organizador da Icobicobi,
que também está solicitando o apoio do CNPq, da Fapesp
e da Finep. “Além de poderem participar de todas as
atividades e palestras, nossos apoiadores poderão expor seus
produtos e projetos em estandes que serão montados no local.”
Iniciativas
pioneiras – Segundo o engenheiro elétrico Luciano da
Fontoura Costa, professor do Instituto de Física de São
Carlos e presidente da Comissão do Programa de Doutorado,
um dos principais objetivos da bioinformática desenvolvida
atualmente na USP é o compartilhamento das informações
obtidas por meio das atividades de pesquisa de diferentes grupos
de cientistas que se dedicam à genética. “Pretendemos
unir esses dados em uma base que poderá ser, no futuro, disponibilizada
na Internet”, afirma. “Em nosso país, trata-se
de um passo pioneiro no caminho da organização sistemática
das informações obtidas pelos estudos da dinâmica
de expressão gênica, que envolvem diretamente a biologia
e a computação.”
De
acordo com Barreira, outro objetivo da Icobicobi é marcar
a criação do Programa de Doutorado Interunidades em
Bioinformática da USP, instalado oficialmente em agosto do
ano passado. “O desenvolvimento da bioinformática na
USP está ocorrendo por meio de um planejamento estratégico
que previa, primeiramente, a criação de um núcleo
na área, o Bioinfo, e, posteriormente, de um programa de
doutorado”, explica. “Optamos pelo doutorado antes do
mestrado como forma de criar mais rapidamente uma massa crítica
capaz de levar para outras universidades, institutos de pesquisa
e empresas os conhecimentos gerados aqui e que poderão contribuir
para um maior desenvolvimento da bioinformática e da genética.”
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Costa
e Barreira: objetivo do evento é unir competências
para gerar novas
pesquisas e conhecimentos |
O doutorado,
que tem sua sede no IME, deverá formar, por volta de julho
de 2006, seus primeiros 15 doutores em bioinformática. “No
Brasil, além da USP, somente a Universidade Federal de Minas
Gerais mantém um programa na área”, conta Costa.
Segundo
o pesquisador, a tendência mundial da área é
formar redes de pesquisa que não ficarão restritas
à bioinformática. “É por isso que, com
a organização do evento, pretendemos reunir pesquisadores
e estudiosos das mais variadas áreas, como evolução,
ecologia, desenvolvimento animal e neuroinformática, entre
outras, hoje integradas à pesquisa genética e à
bioinformática”, diz. “Ao longo do século
passado, a biologia, como todas as áreas do conhecimento,
passou por um processo de especialização que a afastou
dos outros ramos da ciência. Nos últimos anos, com
o surgimento de um processo de reintegração geral
de todas as áreas da ciência, a informática
foi se estabelecendo como uma poderosa ferramenta para construção
de modelos, vitais para a análise dos resultados das pesquisas
biológicas com genes.”
Costa
afirma ainda que, em 2002, os Estados Unidos decidiram conceder
recursos para as pesquisas na área de neuroinformática
– voltada para o apoio aos estudos neurológicos –
somente para os grupos de cientistas que estejam dispostos a compartilhar
os dados a serem obtidos. “No Brasil ainda não existe
nenhuma determinação desse tipo, mas a Fapesp tem
dado passos nesse sentido, o que nos leva a crer que essa conferência
será um marco para a integração da bioinformática
com outras áreas.”
As
palestras e mesas-redondas do encontro abordarão temas variados,
passando pela agronomia, inteligência artificial, biofísica,
bioquímica e chegando à genética e à
neuroinformática. Entre os convidados se encontram os norte-americanos
Michael Bittner (National Human Genome Research Institute), especialista
em pesquisas genéticas ligadas ao câncer, e Stephen
Koslow (National Institute of Mental Health), que se dedica a pesquisas
sobre doenças mentais de origem genética.
“A
conferência representa mais uma importante iniciativa voltada
para a união de esforços entre os diferentes grupos
de pesquisa que atuam no Estado de São Paulo, em outras regiões
do Brasil e no exterior”, diz Luiz Nunes de Oliveira, pró-reitor
de Pesquisa da USP. “A bioinformática é, atualmente,
uma área do conhecimento vital para o desenvolvimento da
genética e da biotecnologia como um todo”, afirma.
“A agricultura, por exemplo, fundamental para a realidade
econômica brasileira, tem se mostrado capaz de incorporar
os avanços com uma velocidade maior que a de todos os outros
setores.”
Os
pesquisadores interessados em apresentar seus trabalhos poderão
enviar resumos explicativos até 15 de abril. Os textos devem
ter uma página mostrando inovações obtidas
por meio de pesquisas desenvolvidas na área de bioinformática.
Todos os trabalhos aceitos serão publicados posteriormente
em um site. Os melhores serão selecionados para publicação
na edição especial do Journal of Real-Time Imaging,
que será lançada em setembro. Mais informações
sobre a conferência podem ser obtidas no endereço http://www.vision.ime.
usp.br/icobicobi.
Tecnologia
“grampeia conversas”
dos genes
Para mapear os “sinais” dos genes
ou mRNAs, os cientistas utilizam a tecnologia de DNAs microarrays,
lâminas que comportam até 8 mil genes de uma
só vez e são capazes de registrar a produção
dos mRNAs. Ao serem digitalizadas, essas lâminas permitem
a geração das imagens que serão analisadas.
Segundo Júnior Barreira, presidente do Núcleo
de Bioinformática da USP (Bioinfo), é como se
os especialistas grampeassem trechos de uma conversa entre
os genes. “O desafio é, a partir daí,
decifrar o conteúdo de toda a conversa, cujos rumos
determinam o funcionamento das células”, diz.
“É aí que entram os modelos matemáticos
computacionais desenvolvidos pela bioinformática, cuja
aplicação permite que se conheça esse
funcionamento e, como uma nova droga, ao ser ingerida por
um paciente com determinada doença, por exemplo, pode
interferir nesse processo de interação entre
os genes, modificando-o e gerando condições
para que a pessoa seja curada.” |
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